62% das mulheres vítimas de violência em Lisboa não denunciam

por RTP
Rafael Marchante - Reuters

O primeiro inquérito municipal à violência doméstica e de género, apresentado na terça-feira na Universidade de Lisboa, revelou que 28 por cento das mulheres dizem ter sofrido violência doméstica, mas 62 por cento preferem não denunciar. Dois em três casos de violência contra as mulheres acontecem em Lisboa sem que nada seja feito.

De acordo com o estudo, apenas 6,4 por cento das mulheres contactaram as autoridades, 1,4 por cento os serviços de saúde, e 1,5 por cento alguma organização não governamental.

Algumas das razões da relutância em denunciar são a falta de confiança nas autoridades e instituições (14 por cento) e a pouca importância que as mulheres atribuem às agressões (18 por cento). Vergonha (13,1 por cento), esperança na reconciliação (10,2 por cento) e medo (13,5 por cento) são também alguns dos motivos pelos quais muitas mulheres evitam a denúncia.

O inquérito mostra ainda que homens também sofrem violência e até em maior número do que as mulheres: 61,9 por cento são vítimas de violência física na cidade.

As mulheres, todavia, possuem um índice maior a nível de violência psicológica (84,9 por cento).
Violência e consequências

Segundo o professor Manuel Lisboa, coordenador do estudo, a violência entre os homens “ocorre fundamentalmente nos espaços públicos e tem a ver com as relações normais, quotidianas e de trabalho, com o encontro com pessoas desconhecidas ou mesmo com quizílias entre amigos”. Já entre as mulheres, explicou, trata-se de “uma violência que é mais no espaço privado em que os autores são fundamentalmente os homens”.

Relativamente às consequências da violência praticada contra as mulheres, 52,9 por cento dizem ter alterado as suas rotinas depois da agressão, um terço afirma ter desenvolvido problemas psicológicos, uma em cada dez garante ter tido a sua sexualidade afetada e uma em cada 20 pensou em suicídio.

Nas freguesias de Santa Maria Maior, Santo António, São Vicente, Avenidas Novas, Benfica, Lumiar, Santa Clara, Olivais e Parque das Nações, o índice de violência física, psicológica e sexual é maior sobre as mulheres. Em Carnide, Alvalade, Parque das Nações e Beato, o número de caso é maior entre os homens.

O estudo foi realizado, a pedido da Câmara, pelo Observatório Nacional de Violência e Género da Universidade Nova de Lisboa. Foram inquiridas, no último semestre de 2016, em Lisboa, 2.616 pessoas (1.314 mulheres e 1.302 homens) com mais de 18 anos.
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