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"A minha intenção não foi ofender" as vítimas, assegura Marcelo. PR pede desculpa

por RTP

Foto: João Relvas - Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado pelos jornalistas sobre as suas mais recentes declarações relativas à quantidade de testemunhos de alegados abusos sexuais de crianças na Igreja Católica que chegaram à comissão independente. O presidente da República garante que nunca teve qualquer intenção de ofender as vítimas e pede mesmo desculpa se alguém se sentiu ofendido. Pelo contrário, diz ter falado para defendê-las e por temer que algumas pudessem não denunciar as situações de que foram alvo.

Marcelo Rebelo de Sousa fez uma curta declaração aos jornalistas, com uma "primeira palavra" dirigida "às vítimas dos abusos sexuais, todos eles, mas nomeadamente em particular agora aqueles que vêm da parte de responsáveis da Igreja Católica, sacerdotes e outros responsáveis".

"E essa palavra é muito simples: é dizer-lhes que a minha intenção não foi ofender quando disse o que disse, mas se porventura entenderam, uma que seja das vítimas que está ofendida, eu peço desculpa por isso, porque não era esse o meu objetivo", afirmou o chefe de Estado.

"O meu objetivo era exatamente o contrário: o temer que muitas vítimas, por medo, por limitação, não tivessem falado e o número, que deveria ser ainda mais alto, tivesse ficado por onde ficou", acrescentou.

Marcelo deixou ainda uma palavra para os portugueses que lhe deixaram centenas de mensagens de apoio e para a comunicação social e responsáveis políticos, dizendo ser essencial haver democracia e não haver censura.
"Sem mudar uma vírgula nos valores"
Assegura que durante o que falta do mandato estará "sem mudar uma vírgula nos valores, nos princípios e na determinação. Sempre, sempre ao serviço dos portugueses e de Portugal".

As palavras de Marcelo surgem depois de declarações que o próprio proferiu na terça-feira. Questionado sobre a recolha de 424 testemunhos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, o Presidente da República disse não estar surpreendido, salientou que "não há limite de tempo para estas queixas" que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas "há 60 ou há 70 ou há 80 anos".

"Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares", prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: "Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos".

Face às críticas que as declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota a explicar que "este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo", admitindo que "terá havido também números muito superiores em Portugal".

Depois, o presidente da República falou para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parece um número "curto" face ao que estima ser a realidade, declarando que aceitava democraticamente as críticas que recebeu, mas não as compreendia.

Os 424 testemunhos foram recolhidos pela designada Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, uma estrutura constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
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