"Tenho que dizer que não podemos negligenciar outras responsabilidades, como do senhor Barroso", acusou Ana Gomes, que falava em Estrasburgo, França, numa reunião da Comissão do Parlamento Europeu que investiga a alegada utilização de países europeus para detenção e transporte ilegais de prisioneiros pela CIA na Europa.

"Quer ponhamos quer não isso no relatório, é demasiado evidente para se r ignorado", referiu ainda a eurodeputada, numa intervenção feita em inglês.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, negou já em Setembro que tenha dado autorização ou tenha tido conhecimento de voos ilegai s da CIA em território português enquanto foi primeiro-ministro de Portugal (200 2-2004). Numa declaração lida em Bruxelas pelo porta-voz do executivo comunitári o, Johannes Laitenberger, Barroso assegurou então que, enquanto chefe de Governo , nunca autorizou voos de transporte de prisioneiros ou outras actividades dos s erviços secretos norte-americanos (CIA) que violassem a lei portuguesa, nem tão pouco teve conhecimento de tais actividades.

O actual Governo socialista também foi criticado pela eurodeputada, que afirmou que numa carta enviada sexta-feira ao presidente da comissão CIA, Carlo s Coelho, o ministro dos Negócios Estrangeiros confirma a passagem de sete voos militares com destino a Guantanamo pelos Açores.

Os trabalhos da comissão foram hoje, no entanto, marcados pelo debate d o formato que o relatório final deverá ter.

O relator, o eurodeputado socialista italiano Giovanni Cláudio Fava, ma nifestou-se favorável, no final da reunião, à aprovação de um texto onde se dê c onta "de tudo o que lemos, vimos e ouvimos".

Fava tinha já sublinhado, no entanto, que só serão acrescentadas ao tex to emendas que digam respeito a questões analisadas em sede de comissão.

O relator sublinhou também que é contra as emendas que pretendem relati vizar a questão dos voos da CIA. A decisão sobre as emendas que serão adoptadas tem lugar em Bruxelas a 23 de Janeiro e o relatório será votado na sessão plenária de Fevereiro do PE, e m Estrasburgo.

O projecto de relatório final, apresentado em Bruxelas no final de Nove mbro, dedica dois pontos a Portugal, o segundo dos quais a instar as autoridades portuguesas a investigar mais a fundo algumas das 91 escalas realizadas em terr itório nacional por aviões operados pelos serviços secretos norte-americanos.

Entre as perto de cinco centenas de propostas de emendas ao relatório, hoje debatidas em Estrasburgo, à margem da primeira sessão plenária do Parlament o Europeu em 2007, perto de duas dezenas referem- se a Portugal, um dos vários p aíses mencionados no documento.

A deputada socialista Ana Gomes é autora de mais de metade das proposta s de emendas, tendo sugerido a inclusão de diversos novos parágrafos.

Ana Gomes, sugeriu, entre outras alterações, a inclusão de um parágrafo a agradecer ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, ter recebido a d elegação da comissão que se deslocou a Lisboa a 06 de Dezembro mas a deplorar o facto de o chefe da diplomacia continuar a minimizar a necessidade de uma invest igação mais aprofundada.

A eurodeputada socialista propôs também a inclusão de um parágrafo a la mentar o facto de o governo português não ter fornecido à comissão temporária li stas de passageiros e tripulações que foram requeridos, e um outro ponto a deplo rar a recusa dos antigos ministros da Defesa, Paulo Portas, e da Administração I nterna, António Figueiredo Lopes, em prestar esclarecimentos à comissão temporár ia.

Ana Gomes defendeu também a inclusão de um novo parágrafo a indicar que , além das 91 escalas registadas, aviões operados pela CIA sobrevoaram o espaço aéreo português 77 vezes e que aviões de diversos países com origem ou destino a Guantanamo fizeram 17 escalas nos aeroportos portugueses da Lajes e Santa Maria , entre 11 de Janeiro de 2002 e 24 de Junho de 2006.