Benfica confirma buscas e manifesta disponibilidade para colaborar

por RTP
Paulo Gonçalves é suspeito de ter subornado três funcionários judiciais para obter informações acerca de processos relacionados com o caso dos e-mails Carl Recine - Reuters

O Benfica reagiu à detenção do seu assessor jurídico e confirmou as buscas às instalações do clube, através de um comunicado divulgado na internet. Os encarnados manifestam "total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade". Sobre Paulo Gonçalves, detido esta manhã, recaem suspeitas de suborno de funcionários judiciais.

"A Sport Lisboa e Benfica SAD confirma a realização de buscas às suas instalações no âmbito de um processo de investigação sobre eventual violação do segredo de justiça e reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade", pode ler-se no comunicado.

A SAD manifesta ainda "a sua confiança e convicção de que o dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos".

O Benfica vai também pedir com caráter de urgência uma audiência à procuradora-geral da República para abordar "reiteradas e constantes violações do segredo de justiça, sobre os processos que envolvem o clube, numa estratégia intencional e com procedimentos fáceis de serem investigados, como hoje foi claramente comprovado".

Paulo Gonçalves é suspeito de ter subornado três funcionários judiciais para obter informações acerca de processos relacionados com o caso dos e-mails.

Também um técnico de informática do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça foi detido pela Unidade Nacional Contra a Corrupção da Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção passiva.

"A Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e no âmbito de um inquérito que corre termos no DIAP de Lisboa, deteve dois homens pela presumível prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal", informara já em comunicado a PJ.
Operação e-toupeira
No decurso da operação, que envolveu cerca de 50 elementos da Polícia Judiciária, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público, foram realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios.

Lusa
Paulo Gonçaves, diretor jurídico do Sport Lisboa e Benfica

"Nesta investigação, iniciada há quase meio ano, averigua-se o acesso ilegítimo a informação relativa a processos que correm termos nos tribunais ou Departamentos do Ministério Público a troco de eventuais contrapartidas ilícitas a funcionários", pode ler-se ainda no comunicado da Judiciária.

A Procuradoria-geral da República já confirmou que se investigam "os crimes de corrupção passiva, corrupção activa, violação do segredo de justiça, favorecimento pessoal e falsidade informática".
Inquéritos em segredo de justiça
No inquérito indicia-se ainda a prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação "sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas a assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens".

A PGR informa ainda que foram cumpridos seis mandados de buscas domiciliárias, um mandado de busca a gabinete de advogado e 21 mandados de buscas não domiciliárias.

A operação investiga o acesso a informações em segredo de justiça relacionadas com o caso dos e-mails. As buscas decorreram na SAD do Benfica, em casas e em dois tribunais onde trabalham dois outros suspeitos.

Segundo a Sábado, a Judiciária realizou buscas nos tribunais de "Guimarães e Fafe, onde trabalhará outro dos suspeitos". A edição online da revista acrescenta que se trata de "Júlio Loureiro, funcionário judicial, já identificado no chamado caso dos emails, depois de ter sido público que enviou para o assessor jurídico do Benfica uma notificação do Tribunal de Guimarães para uma audição do treinador Rui Vitória".

Recorde-se que o diretor do departamento jurídico do Benfica tinha sido constituído arguido no dia 19 de outubro, na sequência de buscas da Policia Judiciária ao Clube.
O caso dos emails
No ano passado o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, acusou o Benfica de influenciar o setor da arbitragem e apresentou alegadas mensagens de correio eletrónico de responsáveis do clube da Luz, nomeadamente Paulo Gonçalves e Luís Filipe Vieira.

Na altura o responsável dos dragões revelou também a alegada partilha de mensagens de telemóvel do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, quando presidiu à Liga de clubes, entre o diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra, e o ex-presidente da Assembleia-Geral da Liga Carlos Deus Pereira.

O Benfica acabou por pedir ao Tribunal Cível do Porto que interpusesse uma providência cautelar para impedir o Porto Canal de continuar a revelar os emails, mas foi indeferida porque o juiz considerou que “não entra no instituto da concorrência desleal”.

Após esta decisão do juiz do Tribunal da Comarca do Porto, o Benfica anunciou que iria recorrer para o Tribunal de Relação. Classificaram a decisão como “muito grave e absurda num Estado de direito e que justifica e impõe o inevitável recurso imediato para o Tribunal da Relação”.

“É absolutamente essencial que o Ministério Público e a Polícia Judiciária venham aqui a esta casa e verifiquem se aquilo que é divulgado pelo Porto Canal corresponde ou não à realidade”, afirmou na altura na BTV o porta-voz da equipa de advogados do Benfica, João Correia.


De acordo com a PJ, os detidos vão agora ser sujeitos a primeiro interrogatório judicial. "A investigação prossegue com vista à continuação de recolha de prova e ao apuramento dos benefícios ilegítimos obtidos".
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