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Denuncia "tratamento degradante e persecutório". Dermatologista do Santa Maria apresenta demissão

Miguel Alpalhão, o dermatologista que ganhou mais de 700 mil euros em cirurgias adicionais em três anos, apresentou a demissão do Hospital de Santa Maria. O médico fala em tratamento "humilhante, degradante e persecutório" da administração.

RTP /
Foto: RTP

Um dia depois de ficar suspenso de funções com perda de vencimento durante 45 dias, o médico dermatologista Miguel Alpalhão apresentou esta sexta-feira a demissão do Hospital de Santa Maria (Lisboa), alegando que não lhe restava outra atitude perante o tratamento "humilhante, degradante e persecutório" de que foi alvo por parte da administração.

"Lamentavelmente, não me resta outra atitude que não a demissão das minhas funções, perante a forma de tratamento com intuito humilhante, degradante, discriminatório e persecutório de que fui alvo ao longo do último ano por parte da administração do hospital", escreve o médico na carta.

Miguel Alpalhão, que recebeu mais de 700 mil euros em três anos de cirurgias adicionais naquele hospital refere que a denúncia de contrato, assinado em 1 de janeiro de 2024, terá efeitos em 12 de janeiro, dia seguinte ao final da suspensão que lhe foi aplicada. 

O clínico garante terminar "o contrato com a plácida consciência de quem cumpriu as sua funções e obrigações de acordo com as ordens superiores e procedimentos vigentes na instituição".

Denuncia estar a ser "um bode expiatório", argumentando estar a ser alvo de uma tentativa de "mascarar um problema sistémico de falhas graves imputáveis" a uma administração "que não sabe assumir as suas responsabilidades e proteger os seus colaboradores".

Miguel Alpalhão deixa um repto: "Exijam-se responsabilidades a quem fez as regras e ordenou os procedimentos, e não a quem os cumpriu integralmente, como contratualmente obrigado".
A Inspeção-Geral das Atividade em Saúde (IGAS) concluiu já este mês que Miguel Alpalhão propôs, aprovou e codificou as suas próprias cirurgias mais de 350 vezes, tendo ainda marcado consulta para os seus pais sem referenciação prévia obrigatória, operando-os e recebendo nesse caso mais de 5.500 euros. As conclusões da IGAS constam de um relatório entretanto enviado ao Ministério Público.

O médico aponta depois o que considera ser a única forma de garantir "justiça" para o seu caso: "a via judicial".

Deixa depois elogios e agradecimentos aos companheiros de trabalho no Serviço de Dermatologia do Santa Maria, a quem deseja "sucesso pessoal e profissional", com uma nota particular "à Diretora de Serviço, que muito estimo, desejando o maior sucesso para reerguer o Serviço, dando condições aos bons profissionais para fazerem o seu trabalho".

"Estimo, com gratidão, todos os que me têm apoiado e encorajado, ao longo dos já numerossos episódios desta novela. A todos os que me acompanham nesta batalha, só saberei honrar a vossa confiança e auxílio com a garantia de que jamais vergarei", conclui.

A RTP apurou que há no Santa Maria dois processos disciplinares referentes a este dermatologista. Um processo com vista a eventual suspensão e que está concluido e outro processo que tem em vista um possível despedimento e devolução das verbas recebidas indevidamente.

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