Última Hora
BCE deixa taxas diretoras sem alterações pela quarta vez consecutiva

Dia dos Migrantes. Imigração é centro da desinformação em Portugal em 2025

O coordenador do projeto Iberifier alerta para narrativas falsas sobre criminalidade, privilégios sociais e “substituição demográfica”, amplificadas por ciclos eleitorais e inteligência artificial.

RTP /
Guilherme Colaço - RTP

A imigração, com foco particular em comunidades muçulmanas, foi o principal alvo da desinformação em Portugal ao longo de 2025, segundo o coordenador do projeto de combate à desinformação Iberifier em Portugal, Gustavo Cardoso.O sociólogo do Instituto Universitário de Lisboa-ISCTE, identifica uma concentração de narrativas falsas que associam estes imigrantes a violência, criminalidade, caos social e alegados privilégios no acesso a serviços públicos.


Em declarações à agência Lusa, Gustavo Cardoso explicou que a desinformação tem sido construída em torno da ideia de que os imigrantes partilham uma mesma religião, o Islão, sendo-lhes atribuídas, vantagens no acesso à saúde, educação, benefícios sociais e habitação.

Estas narrativas incluem acusações de que a imigração poderá provocar uma “substituição demográfica” e a perda da identidade portuguesa, frequentemente alimentadas por episódios reais reinterpretados, como os acontecimentos no Martim Moniz.

“O que há de comum é a imigração e o foco num tipo específico de imigrantes, que não são brasileiros ou ucranianos, mas os muçulmanos”, sublinhou o sociólogo, acrescentando que 2025 ficou marcado por esta tipificação do imigrante no discurso desinformativo.

Cardoso destaca ainda outros fatores que marcaram o fenómeno da desinformação ao longo do ano. Um deles é a continuidade da sua politização, fortemente ligada aos ciclos eleitorais e à temática da imigração.

“Não mudou a politização, que é assente em termos de imigração e potenciada pelos ciclos eleitorais que ocorreram durante o ano”, explica.Durante as eleições legislativas, este tema atingiu 21 milhões de visualizações nas redes sociais, cinco vezes mais do que a corrupção, o segundo assunto mais debatido. Outro elemento identificado é a internacionalização das narrativas, que circulam globalmente, mas são adaptadas ao contexto nacional.

“Existem narrativas que vêm de fora, mas que são utilizadas em Portugal para focar determinadas temáticas”, explicou Gustavo Cardoso.

A normalização do uso de inteligência artificial generativa surge como um terceiro fator relevante, sendo utilizada sobretudo em fraudes e para aumentar o alcance e a credibilidade de conteúdos de desinformação. A par disso, crises como apagões ou incêndios têm sido exploradas como terreno fértil para gerar indignação emocional e potenciar outros tipos de conteúdo desinformativo.

Para o sociólogo, a desinformação tornou-se parte do quotidiano, muitas vezes de forma pouco visível. Gustavo Cardoso alerta ainda que quanto mais eleições existirem, maior será a probabilidade de intensificação do fenómeno desinformativo em Portugal”.

O Iberifier é um projeto financiado pela Comissão Europeia, que visa combater a desinformação. É composto por 12 universidades, cinco organizações de verificação de factos e agências noticiosas como a portuguesa Lusa e fact checkers televisivos.

As peças sobre imigrantes que continham desinformação cresceram cerca de 200 por cento, de 2024 para 2025, de acordo com a análise realizada pela equipa MediaLab, do ISCTE.

Para além da Imigração, também os “incêndios, conflitos internacionais e personalidades mediáticas dominam os temas da desinformação”, de acordo com o relatório divulgado em outubro pelo Observatório Ibérico de Media Digitais Spain & Portugal fact checking brief.
PUB