Duas centenas de pessoas na primeira Marcha do Orgulho Gay

por Agência LUSA

Cerca de duas centenas de pessoas participaram hoje na primeira Marcha do Orgulho Gay do Porto que percorreu várias ruas da cidade, perante a indiferença, a curiosidade e a indignação de algumas pessoas que paravam para observar.

A marcha arrancou na Praça 24 de Agosto, um local escolhido para lembrar Gisberta, a transsexual assassinada em Fevereiro deste ano por um grupo de menores, que esta semana começou a ser julgado, no Porto.

"Queremos lembrar Gisberta e todas as Gisbertas deste país, assim como todas as crianças maltratadas, assassinadas, atiradas ao rio, as que desaparecem e as mulheres violentadas pelos maridos, porque esta acção foi organizada em defesa dos direitos humanos", disse João Paulo, da organização e da associação Portugal Gay.

Em homenagem a Gisberta, foram depositadas ramos de flores no local onde foi encontrada morta.

Júlio Esteves, "simpatizante" da associação Panteras Rosa, um movimento contra a homofobia, explicou aos jornalistas que a marcha era de orgulho por conseguirem sobreviver "numa sociedade onde grupos de extrema-direita incentivam o ódio, onde os homossexuais não podem adoptar crianças e onde um abraço a um amigo ainda gera indignação".

Por esta altura, antes do arranque da marcha, já se faziam ouvir as vozes de um pequeno grupo de homens, que se afirmavam "nacionalistas", e estavam ali para "marcar uma posição de repudio" contra "um grupo que pessoas que não são normais, que tem uma deficiência mental e que querem impor-se à sociedade".

Carlos Branco, porta-voz do grupo, disse aos jornalistas que não queriam provocar ninguém: "a provocação é esta marcha".

Ao som dos bombos dos mareantes do Rio Douro, os gays, lésbicas, transsexuais, bissexuais e elementos de diversas associações e outras entidades que se associaram à iniciativa percorreram então várias ruas da cidade até à Praça D. João I.

Pelos passeios, a curiosidade de quem assistia dava lugar a comentários como "acho muito bem", dos mais tolerantes, ou "estamos no fim do mundo", expressão que se fez ouvir quando se tornaram visíveis manifestações de afecto entre um casal do mesmo sexo.

Muitos dos manifestantes ostentavam fotos de Gisberta e outros exibiam faixas onde podiam ler-se mensagens como "Sou transsexual e não quero ser assassinado", "Não tenho vergonha, tenho motivos" e "Educar sem discriminar", entre outras.

Haviam quem desfilasse com a cara tapada e com t-shirts em que se lia "não tenho medo da discriminação, mas os meus pais têm".

No final da marcha foi lido e distribuído um manifesto com as principais reivindicações dos organizadores da iniciativa.

Do conjunto de exigências destacam-se uma profunda reestruturação do sistema de protecção de menores em risco em Portugal e a inclusão explícita da "identidade de género" em legislação anti- discriminatória e protecção na legislação penal face a crimes de ódio motivados pela transfobia.

Reivindicam ainda "uma lei de adopção que não exclua potenciais mães e pais em função da sua orientação sexual e/ou da sua identidade de género", "uma política social de assistência a grupos marginalizados" e "uma efectiva protecção policial contra a homofobia, bifobia, transfobia e todas as fobias que não podem ser ignoradas".

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