Exames. Escolas públicas descem em tabela geral

As escolas públicas desceram no ranking das melhores médias nos exames, surgindo em 12.º lugar o primeiro estabelecimento público. Segundo dados do Ministério da Educação, uma em cada dez escolas teve média negativa nos exames nacionais e os alunos mais carenciados continuam a ser os que apresentam maiores dificuldades em concluir os ciclos de ensino sem reprovações. Contudo, o impacto da pobreza no sucesso escolar já é menor e há escolas que contrariam as baixas expectativas.

Inês Moreira Santos - RTP /
Reuters (arquivo)

De acordo com a lista divulgada pelo jornal Público, em parceria com a Católica Porto Business School, dos estabelecimentos de ensino analisados por média obtida nos exames nacionais do secundário de 2022, os colégios voltaram a destacar-se. A primeira escola pública com melhor média está em 12.º lugar.

A Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, aparece em 12.º lugar neste ranking e é, assim, a melhor escola pública.
O Grande Colégio Universal, na cidade do Porto, aparece este ano em primeiro lugar da tabela geral, destronando o Colégio Efanor, que no ano anterior obteve a melhor média nacional (16,16 valores em 107 exames).
Este ano, a média de 16,36 valores nos 184 exames realizados pelos alunos do Grande Colégio Universal deram-lhe o primeiro lugar, seguindo-se o Colégio Efanor, em Matosinhos, (16,20 valores), o Colégio Dom Diogo de Sousa, em Braga (16,18 valores), e o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto (15,99), que volta a ficar em 4.º lugar depois de vários anos em que ocupava a melhor posição do ranking.
Colégios com melhores resultados
No ano passado, os alunos dos colégios voltaram a ter melhores resultados: a média nacional dos privados foi de 12,9 valores e das escolas públicas foi de 11,2 valores. No fim da tabela geral surgem nove escolas públicas e apenas uma privada e, se entre as dez melhores a maioria fica no norte do país, entre as dez mais mal classificadas oito são na área metropolitana de Lisboa, com exceção de uma secundária em Coimbra e outra nos Açores.

Segundo uma análise da agência Lusa, volta a ser no norte do país que se encontram as melhores médias por distrito: o Porto surge no topo da tabela com 12 valores, ocupando o lugar que nos últimos anos pertencia a Viana do Castelo, que agora surge em segundo lugar (11,8 valores), seguido de Braga (11,75 valores), Viseu (11,73 valores) e Coimbra (11,6). Já Lisboa é o distrito com mais alunos e quase 50 mil exames realizados e sobe três lugares, ficando em sétimo lugar com uma média de 11,5 valores.

Mais uma vez, as médias dos alunos que realizaram as provas no estrangeiro foram as mais baixas (9,9 valores), mas desta vez há uma subida da média dos alunos das ilhas dos Açores (10,9), que costuma ser a pior região nacional e este ano aparece mais bem classificada que Portalegre (10,8), Setúbal (10,7) e Beja (10,7).

Há ainda a acrescentar que os colégios privados atribuíram 20 valores em disciplinas com exame a quase tantos alunos como as escolas públicas, apesar de estas representarem quase seis vezes mais no universo dos estabelecimentos de ensino. De acordo com os dados do Ministério da Educação, entre as 421 escolas públicas analisadas, 295 deram 20 valores a, pelo menos, um aluno, o que representa cerca de 70 por cento. No total, houve 1.689 notas máximas entre cinco disciplinas (Desenho A, História A, Inglês, Matemática A e Português).

O número não ultrapassa por muito os “20” atribuídos pelos colégios, que totalizaram, no ano passado, 1.252. A principal diferença está no número de escolas, uma vez que, no universo de escolas, as públicas representam quase seis vezes mais, e entre as 75 privadas analisadas, 68 avaliaram estudantes com a classificação máxima.

Olhando para os estabelecimentos de ensino particular, a lista é encabeçada pelo Externato Ribadouro, no Porto, ao qual foi instaurado um processo por inflação de notas. Nesta instituição foram atribuídas 215 notas máximas, a maioria das quais a Inglês, em que 117 dos 150 alunos terminaram a disciplina com 20 valores. A disciplina é precisamente aquela em que houve um maior número de classificações internas máximas nos colégios e, à semelhança do Externato Ribadouro, há muitos outros exemplos em que, pelo menos, 75 por cento dos alunos conseguiram o 20.

Percorrendo a lista, é necessário passar por seis escolas particulares até chegar à melhor pública – a Escola Secundário Amato Lusitano, em Castelo Branco –, em que se registaram 36 avaliações com 20 valores, 31 das quais a Inglês. No ensino público é, no entanto, a Matemática A que mais alunos conseguem alcançar esse nível de sucesso escolar e entre os 1.689 “20”, 1.152 foram àquela disciplina.

Houve ainda 273 alunos classificados com 20 valores a Português, 126 em Inglês, 75 a Desenho A e 63 a História A.

Por outro lado, quando se compara as médias internas globais das escolas onde houve notas elevadas às médias dos exames nacionais, não há diferenças significativas entre públicas e privadas. Naquelas em que os resultados mais se distanciam, com classificações internas mais elevadas, a diferença é de 5,78 pontos percentuais na Escola Secundária de Alcochete e de 5,89 pontos percentuais no Real Colégio de Portugal.

Um relatório divulgado em maio pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) já mostrava que a tendência para atribuir classificações internas muito elevadas era observada maioritariamente nas escolas privadas e, sobretudo, nas disciplinas anuais não sujeitas a exame nacional.


Na ocasião, a Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) indicou que já tinha inspecionado este ano 39 escolas onde as notas dos alunos pareciam ser excessivamente elevadas, tendo recomendado a sete estabelecimentos de ensino a "reposição imediata da legalidade" das classificações atribuídas.
Alunos carenciados com piores resultados
Os dados divulgados pelo Ministério da Educação permitem também perceber quais as escolas públicas em que mais alunos carenciados conseguem chegar aos 20 valores a, pelo menos, uma disciplina. Os melhores resultados foram conseguidos na Escola Secundária de Rio Tinto, em Gondomar, em que oito alunos beneficiários do escalão A de ação social escolar tiveram 20 valores.

Segundo a mesma análise, os alunos mais carenciados têm, em média, resultados académicos muito mais baixos do que os colegas de famílias sem dificuldades económicas, destacando-se pela negativa os casos de Matemática A, Físico-química ou Biologia e Geologia. Dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) mostram que a média dos exames nacionais dos alunos carenciados é sempre a mais baixa em relação aos restantes estudantes e que a pobreza continua a ter forte impacto no sucesso escolar.

A disciplina que revelou maiores disparidades foi Matemática A: a média dos alunos sem Ação Social Escolar (ASE) foi de 12,4 valores enquanto a dos beneficiários de escalão A foi de 10,6 valores (numa escala da 0 a 20 valores). A diferença de 1,8 valores a Matemática está próxima da registada a Físico-Química, onde 1,5 valores separam a média dos alunos sem ASE dos mais desfavorecidos, ou a Biologia e Geologia (diferença de 1,3 valores). Estas três disciplinas são conhecidas por serem as exigidas para entrar nos cursos de Medicina, cuja média de entrada foi a mais alta durante muitos anos.

Nesta análise que separa alunos pela sua condição socioeconómica, História A é a disciplina que mais aproxima os jovens: A média nacional dos mais carenciados foi de 12,1 valores enquanto a dos alunos sem ASE foi de 12,5 (0,4 valores de diferença).

No mesmo sentido, também é mais fácil encontrar chumbos no final do ano entre os mais pobres, que revelam maiores dificuldades em concluir os ciclos de estudo dentro dos anos previstos. Tanto no 3.º ciclo como no secundário a diferença da taxa de conclusão no tempo esperado foi de cinco pontos percentuais.

Um em cada dez alunos do 3.º ciclo (10 por cento) chumbou pelo menos um ano, sendo que entre os mais carenciados o insucesso subiu para 15 por cento. No secundário, num universo de 60 mil alunos, 23 por cento chumbou pelo menos uma vez ao longo dos três anos, sendo que entre os carenciados a percentagem subiu para 28 por cento.

A situação económica da família e a escolaridade dos pais continuam a ser um fator determinante no sucesso académico dos filhos, uma vez que se pode traduzir em apoio em casa ou capacidade financeira para pagar explicações extra escola. Além disso, muitos alunos carenciados nem sequer tentam candidatar-se ao Ensino Superior, segundo dados da DGEEC, que mostram que há menos estudantes pobres a fazer exames nacionais desde que estes deixaram de ser obrigatórios para concluir o secundário, desde a pandemia da covid-19.

Esta alteração da lei levou a que menos estudantes realizassem estas provas, em especial os mais carenciados: apesar de 27,4 por cento dos alunos que frequentavam o secundário em 2021 pertencerem a famílias pobres, apenas 16 por cento de todos os que realizaram exames no ano passado eram beneficiários de Apoio Social Escolar (ASE).
Há menos chumbos
Os alunos estão a reprovar cada vez menos em todos os ciclos, mas continua a ser no ensino secundário que enfrentam maiores dificuldades com apenas 77 por cento a conseguire chegar ao final nos três anos esperados. Pelo menos desde 2017/2018, o sucesso escolar dos alunos tem vindo a melhorar e são cada vez mais aqueles que conseguem concluir cada ciclo sem chumbar.

A melhoria mais significa registou-se no ensino secundário, em que 77 por cento dos finalistas encerraram o percurso escolar obrigatório sem ter chumbado naquele nem nos dois anos anteriores, um feito conseguido por 70 por cento dos colegas em 2017/2018.

Os níveis de sucesso escolar são mais elevados nos cursos de Ciências e Tecnologias, com uma taxa de conclusão no tempo esperado acima da média (80 por cento), seguindo-se os cursos de Ciências Socioeconómicas (75 por cento), Línguas e Humanidades (72 por cento) e Artes Visuais (68 por cento). Entre as 547 escolas com dados disponíveis, oito conseguiram que todos os seus alunos concluíssem o secundário sem chumbar, das quais sete na região Norte e uma no Centro.

Em contraste, o último lugar da lista é ocupado pelo Colégio D. Filipa, na Amadora, com 41 por cento, sendo também na Área Metropolitana de Lisboa que se registam níveis mais baixos de sucesso escolar.

Há ainda outro dado relevante: uma em cada 10 escolas teve média negativa nos exames nacionais do secundário em 2022, registando-se uma ligeira descida das notas médias no ensino público e subida no privado. Note-se que, pelo terceiro ano consecutivo, os exames nacionais deixaram de ser obrigatórios para a conclusão do secundário, sendo apenas realizados para acesso ao Ensino Superior.

Um dos resultados desta medida é a diminuição de alunos mais carenciados a fazer as provas: Apenas 16 por cento dos estudantes que fizeram exames em 2022 eram beneficiários de Apoio Social Escolar. Cinquenta e uma das 496 escolas secundárias analisadas tiveram média negativa, ou seja, 10,3 por cento “chumbou” (no ano anterior foram 8,4 por cento).

A maioria das escolas com média negativa é pública: chumbaram 45 num universo de 421 escolas públicas (10,6 por cento), contra seis privadas num universo de 75 colégios (8 por cento). A média dos alunos das escolas públicas voltou a afastar-se da dos colégios, com uma diferença de 1,69 valores numa escala de 0 a 20 (em 2021, a diferença foi de 1,4), segundo uma análise a 194.607 provas realizadas.

A média nacional dos alunos dos colégios foi de 12,9 valores (em 2021 foi 12,7) e das públicas foi 11,2 (em 2021 foi 11,3), ou seja, houve uma ligeira descida da média das escolas públicas e subida dos colégios.
Média nacional inalterada esconde oscilações de disciplinas
A média nacional de todos os exames do secundário manteve-se praticamente inalterada em relação ao ano anterior, mas houve disciplinas com oscilações superiores a um valor, como Português e Biologia ou Matemática A e Físico-Química. A média nacional dos exames do secundário realizados em 2022 foi de 11,40 valores (numa escala de zero a 20), o que representa uma descida de apenas 0,02 valores em relação ao ano anterior.

No ano passado, os alunos dos colégios melhoraram ligeiramente nos exames nacionais (mais 0,2 valores), enquanto os das escolas públicas baixaram ligeiramente (menos 0,1 valor): a média no privado foi de 12,9 valores, enquanto no público foi de 11,2 valores. No entanto, olhando para as diferentes disciplinas verifica-se que houve casos em que a média nacional subiu ou desceu quase dois valores.

Destacam-se as quatro disciplinas que levam sempre mais alunos a exame: Matemática A e Físico-química, que subiram, e Português e Biologia e Geologia, que desceram.

A disciplina de Físico-Quimica, que no ano anterior teve uma média nacional negativa (9,78), chegou agora aos 11,69 valores. Entre os 20 estabelecimentos com melhores resultados, só há dois públicos: A Escola Básica e Secundária de Lajes do Pico, em 7.º lugar, e a Escola Básica e Secundária de Mora, em 11.º.

A outra disciplina com maior subida é Matemática A. A média dos mais de 34 mil exames foi de 11,94 valores (mais 1,3 valores do que em 2021), sendo que 28 por cento das 634 escolas “chumbou”. Por outro lado, o desempenho dos alunos das escolas públicas a Matemática A fez aumentar a presença destas escolas entre as mais bem classificadas, com sete estabelecimentos na lista dos 20 melhores.

Já olhando para as disciplinas que mais desceram destaca-se Português: a média das cerca de 35 mil provas foi de 10,9 valores (menos 1,15 valores), fazendo com que 28 por cento do total de escolas chumbasse na prova (141 num total de 642). Há quatro escolas públicas entre as 20 melhores classificadas a Português: Escola Artística do Conservatório de Música do Porto (3.º lugar); Escola Básica e Secundária de Manteigas (7.º); Escola Básica e Secundária de Arcozelo, Ponte de Lima (17.º) e Escola Básica e Secundária de Vila Cova, Barcelos (18.º).

A Biologia e Geologia, a disciplina que leva mais alunos a exame (quase 40 mil), desceu também mais do que um valor passando de 11,96 para 10,77. Uma em cada quatro escolas “chumbou” nesta disciplina e existe apenas uma escola pública entre as 20 mais bem classificadas: A Escola Básica e Secundária Dr.ª Judite Andrade, Sardoal, em Santarém.

As outras disciplinas cuja média desceu mais de um valor foram Geometria Descritiva A, agora com 10,45 valores (menos 1,91 que em 2021), e Matemática B que passou de média positiva (10,14) para negativa (8,93).

Matemática Aplicada às Ciências Sociais também teve uma ligeira descida, ficando agora com uma média de 10,47 valores, assim como Filosofia (11,1), Economia A (11,79), História da Cultura e das Artes (12,28), História A (12,34) e Inglês (14,89).

Em sentido contrário, com uma ligeira subida, surgem as duas restantes disciplinas de Geografia A (11,6) e Desenho A (14,1).

c/ Lusa
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