Grupo Intervenção de Protecção e Socorro entra em acção segunda-feira
O Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR, cuja criação gerou polémica e contestação, inicia segunda-feira a sua actividade, sendo uma novidade este ano no combate aos incêndios florestais.
O GIPS entra em acção um dia antes de se iniciar a "Fase Bravo" do combate aos incêndios florestais, a qual termina a 30 de Junho, seguindo-se a "Fase Charlie", geralmente a mais crítica, entre 01 de Julho e 30 de Setembro.
O Governo socialista de José Sócrates aprovou a 29 de Outubro de 2005 a criação do GIPS, um corpo profissional com cerca de 350 elementos (numa primeira fase) mobilizados dentro da Guarda Nacional Republicana (GNR) e que actuará em todo o tipo de catástrofes, como incêndios, sismos e inundações.
O GIPS vai actuar, em termos de incêndios florestais, nas zonas do Algarve, Viseu e Coimbra, que em anos anteriores foram muito fustigadas pelas chamas.
Além de intervirem numa primeira fase dos incêndios, cujo combate directo continuará a cargo dos Bombeiros, os elementos do GIPS, ao contrário destes, podem deter suspeitos, por usufruírem de estatuto de autoridade.
Ao intervir no dia 03 deste mês na cerimónia comemorativa dos 95 anos da GNR e referindo-se ao GIPS, o comandante-geral da corporação, tenente-general Mourato Nunes, disse: "Aqui estão 354 militares, com formação técnica específica, bem equipados e dotados dos adequados meios de intervenção, prontos para cumprirem as novas missões de protecção e socorro atribuídas à Guarda".
Mourato Nunes sublinhou que a formação do GIPS beneficiou da "preciosa colaboração" da Escola Nacional de Bombeiros, na Lousã, Sintra e Portalegre.
A criação do GIPS foi uma decisão polémica, tendo o deputado Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda, acusado no parlamento o Governo de pretender, com essa medida, "a militarização da Protecção Civil", o que classificou de "péssima estratégia".
"Não vamos militarizar a Protecção Civil. Vamos, sim, aproveitar efectivos, instalações e o enquadramento da GNR para criar uma reserva profissional pronta para intervir em situações de catástrofes, nomeadamente incêndios", respondeu o ministro de Estado e da Administração Interna, António Costa.
O governante acrescentou que "criar um Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro no Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil sairia muito mais caro do que integrá-lo na GNR", uma força militarizada de segurança que "tem instalações em todo o país".
António Costa explicou que o GIPS "não se vai sobrepor a ninguém, vai, sim, acrescentar ao sistema que existe uma mais valia e colaborar com todos os agentes que já intervêm na área do socorro".
"O voluntariado nos Bombeiros é uma grande riqueza e desempenha uma acção de grande importância, mas temos de possuir em Portugal uma reserva profissional estratégica na área do socorro para enfrentar as calamidades", realçou o ministro da Administração Interna.
O deputado Paulo Pereira Coelho, ex-secretário de Estado da Administração Interna no anterior Governo de coligação PSD/CDS-PP, concordou com a criação do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro no seio da GNR.
"Essa opção do Governo é pertinente, é correcta e merece o nosso assentimento", disse o parlamentar social- democrata.
Dentro do sector da Protecção Civil também surgiram críticas, com a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) a criticar a criação do GIPS, colocando principalmente dúvidas sobre como se vai articular esta unidade especial da GNR com os Bombeiros.
No entanto, a LBP, através do seu presidente, Duarte Caldeira, já se manifestou "esclarecida".
A LBP, que se assume como a federação de todos os corpos de Bombeiros (voluntários, sapadores e privativos), preferia que o Governo investisse na profissionalização dos Bombeiros, em vez de criar o GIPS.
A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) também colocou dúvidas sobre a criação do GIPS, defendendo que a nova "força deveria ser criada de raiz e sair da estrutura dos Bombeiros".
Em 2005 os incêndios devastaram 325.226 hectares de floresta em Portugal.