Investigadores portugueses partem em busca de açúcar saudável

por Nuno Patrício - RTP
Foto: ITQB NOVA

Açúcar. Substância doce extraída de várias plantas, composta essencialmente por sacarose e usada como adoçante, sendo a cana-sacarina e a beterraba as principais fontes deste subproduto. Geralmente branco ou amarelo, após refinação industrial, acarreta problemas para a saúde quando consumido em excesso. Um grupo de cientistas portugueses debruçou-se sobre este desafio.

Os cientistas desenvolveram uma nova abordagem para sintetizar açúcares com benefícios para a saúde. O estudo incide sobre os designados açúcares raros e a diferença está na forma como este produto natural é sintetizado.

Os açúcares raros são escassos na natureza, o que torna a sua extração a partir de plantas e de outras fontes desafiante e dispendiosa. Apesar disso, têm vindo a ganhar atenção pelas propriedades funcionais únicas e benefícios para a saúde, sendo já usados como aditivos alimentares, suplementos nutricionais e ingredientes farmacêuticos.

André Taborda, Márcia Rénio, Rita Ventura e Lígia Martins, cientistas do ITQB NOVA, são o rosto da investigação que desenvolveu um novo método para sintetizar estes açúcares em laboratório de forma mais eficiente, utilizando uma combinação de métodos enzimáticos e químicos.

A equipa portuguesa descreve o novo estudo, já publicado na revista Green Chemistry, como um método sustentável e amigo do ambiente para produzir a D-alose, um açúcar raro com inúmeros benefícios para a saúde e que pode ser usado para adoçar um conjunto de alimentos e bebidas, sem contribuir para a ingestão calórica.

A abordagem visa tornar uma enzima bacteriana melhor no processamento de um açúcar comum, D-glicose, por meio de um método chamado "evolução direcionada" | Imagem Joel Arruda / gabinete de comunicação ITBQ NOVA -

Mas as boas notícias não ficam por aqui. Este açúcar apresenta ainda outras propriedades benéficas enquanto agente anticancerígeno, antioxidante, anti-inflamatório, anti-hipertensivo e imunossupressor.Apesar destes benefícios, O produto tem tido dificuldade em impor-se no mercado porque é difícil de sintetizar e tem elevados custos de produção.

A abordagem dos quatro investigadores passou por melhorar uma enzima bacteriana para torná-la mais eficiente a processar um açúcar comum, a D-glucose, através de um método chamado “evolução dirigida”. Processo que acelera a seleção natural em laboratório.

Para isso, introduziram alterações aleatórias no código genético da enzima, testaram a eficácia de cada versão no processamento do açúcar e escolheram as melhores.

Ao repetir este processo, várias vezes, chegaram a uma versão da enzima que funcionava como desejavam.


Investigadores do ITQB NOVA André Taborda, Lígia Martins e Rita Ventura | Imagem: ITBQ NOVA

André Taborda, aluno de doutoramento do ITQB NOVA e primeiro autor do artigo, explica como chegaram a este doce e saudável açúcar. “A nossa abordagem envolve um derivado de glucose facilmente acessível como ponto departida. Depois da reação enzimática, que não gera subprodutos, dois passos químicos simples finalizam a síntese de D-alose. Ficámos muito satisfeitos por conseguir um rendimento de 81 por cento e submetemos esta estratégia a uma patente”, afirma.

Um composto que pode ser revolucionário refere Lígia Martins, líder do laboratório deTecnologia Microbiana e Enzimática do ITQB NOVA. “A capacidade de produzir D-alose de forma eficiente e a custos mais baixos pode levar à sua incorporação numa vasta gama de produtos”, explica. “Para além disso, este trabalho abre possibilidades para a síntese de outros açúcares raros de uma forma ecológica e económica”.
Açúcar. Um doce atualmente meio-amargo
São vários os açucares presentes no mercado, desde aqueles que são extraídos naturalmente ou produzidos por processos químico. Embora alguns sejam apresentados como produtos “não prejudiciais”, a verdade é que o consumo elevado desta substância pode acarretar graves problemas de saúde.

Mas o que é verdadeiramente o açúcar, quantos são e qual a sua origem?

O açúcar é um componente essencial na alimentação humana, presente em diversas formas e utilizado tanto na culinária doméstica quanto na indústria alimentícia. Compreender os diferentes tipos de açúcar, os respetivos processos de produção e os efeitos na saúde é fundamental para escolhas alimentares conscientes.

Tipos de açúcar

  • Açúcar Refinado: produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar ou da beterraba, o açúcar refinado passa por um processo de extração do líquido destes vegetais, por esmagamento, seguindo-se as fases de purificação, evaporação e cristalização. Durante o refinamento, são utilizados aditivos químicos (cal) para branquear o produto, resultando na remoção de impurezas e nutrientes, obtendo-se cristais brancos de sacarose pura.
  • Açúcar Amarelo: menos refinado que o açúcar branco, este açúcar (mascavado) mantém parte do melaço natural, atribuindo-lhe uma coloração dourada e um sabor mais acentuado. Este tipo de açúcar preserva alguns minerais presentes na cana-de-açúcar, como cálcio e ferro, embora em quantidades não significativas para benefícios nutricionais relevantes. Esta açúcar apresenta-se mais saudável que o refinado, embora também deva ser consumido com moderação.
  • Açúcares Sintéticos (Edulcorantes Artificiais): desenvolvidos como alternativas ao açúcar natural, os edulcorantes artificiais, como a sacarina e o aspartame, são compostos químicos que proporcionam um sabor doce com baixo ou nenhum valor calórico. Estes compostos são amplamente utilizados em produtos dietéticos e para diabéticos, com o intuito reduzir a ingestão calórica e o impacto glicêmico.
O consumo excessivo de açúcares adicionados, como o refinado e o amarelo, está associado a diversos problemas de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e cáries dentárias. E ambos possuem alto índice glicémico, elevando rapidamente os níveis de glicose no sangue.

Alguns estudos sugerem que o consumo excessivo de açúcares sintéticos - embora ofereçam a vantagem de adoçar sem adicionar calorias significativas - pode estar relacionado com distúrbios metabólicos e a desregulação do apetite. Há também algum debate sobre possíveis efeitos adversos a longo prazo, ainda que os dados não sejam conclusivos.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que a ingestão de açúcares livres não ultrapasse dez por cento da ingestão calórica total diária, sugerindo uma redução para menos de cinco por cento para benefícios adicionais.

Apesar da investigação portuguesa em torno da sintetização de açúcares raros, que pode trazer uma nova luz sobre esta questão, deve manter-se a opção por fontes naturais de açúcar, como o consumo de frutas, mas também a atenção aos rótulos dos alimentos processados.

Escolhas que podem ajudar à manutenção de uma dieta equilibrada com o objetivo de uma melhor saúde.
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