Mais duas hospitalizações após ingestão de Depuralina

Existem mais duas vítimas de intoxicação ou reacção alérgica depois de terem ingerido Depuralina. A RTP confirmou que um casal está a receber tratamento no Hospital Curry Cabral em Lisboa.

Eduardo Caetano, RTP /
Mais duas alegadas vítimas da Depuralina RTP

Trata-se de uma enfermeira de 30 anos, que estava a fazer uma dieta com depuralina, que deu entrada no Hospital Curry Cabral onde lhe terá sido diagnosticada uma Hepatite tóxica auto - imune e seu marido que tambem teve de receber tratamento médico devido a um choque anafilático.

Eleva-se assim a cinco o número de casos de intoxicação ou reacção alérgica após a ingestão deste suplemento alimentar.

O director-geral da Saúde aconselha a todos aqueles que, nesta época que se aproxima de Verão e férias (período em que a depuralina é mais procurada) tencionem tomar ou, já tomem, este suplemento alimentar a interromperam essa toma e que ao mínimo sinal, que pode assumir variadas formas desde insuficiência renal até a uma simples urticária, se apresentem numa unidade hospitalar.

O director-geral da empresa responsável pela produção do suplemento alimentar Depuralina deu esta quarta-feira um prazo de quatro dias para que as autoridades portuguesas o reponham no mercado.

Caso isso não aconteça, prometem processar a Direcção-Geral da Saúde e o gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura.

Miguel Angel Isidro, director técnico do laboratório da empresa que comercializa o suplemento alimentar Depuralina, esteve reunido na tarde desta quarta-feira com técnicos do Ministério da Agricultura.

Pretendia saber os fundamentos que levaram a Direcção-Geral da Saúde e do Gabinete do Ministério da Agricultura a suspenderem a venda da Depuralina, na sequência da notificação de três reacções adversas graves que podem estar associadas ao consumo daquele suplemento alimentar.

A reunião foi no entanto infrutífera, já que não conseguiram obter os esclarecimentos que pretendiam.

Os técnicos invocaram razões de privacidade dos pacientes a quem foram diagnosticadas doenças agudas atribuídas à Depuralina.

O director da empresa lamenta que o produto tenha sido suspenso sem que haja prova de que está realmente por detrás dos três casos verificados em Portugal.

"Penso que em todos os países a desculpabilização está na prova em contrário. Neste caso fomos considerados culpados e vamos provar o contrário", afirmou Miguel Angel Isidro à saída da reunião.

O director-geral da empresa espanhola reafirma que "este estudo (de análise de risco) tem de ser feito o mais depressa possível e uma vez feito o estudo deve voltar a comercializar-se a Depuralina.

Questionado quanto ao prazo que a empresa espanhola considera aceitável para a realização desse estudo e posterior regresso do suplemento alimentar ao mercado nacional, Miguel Angel disse saber "que um estudo pode ser feito em dois ou três dias no máximo. No máximo em três ou quatro dias devia estar no mercado".

Questão que lhe foi colocada foi a de saber qual seria o passo seguinte da empresa se o estudo se prolongasse por mais tempo. A resposta foi peremptória. A empresa espanhola avança para os tribunais portugueses. "Devíamos dar início a isso porque estariam a lesar-nos", afirma Miguel Angel Isidro.

O Ministério da Agricultura já esta quarta-feira tinha esclarecido que a suspensão da venda da Depuralina não é definitiva, dependendo de uma avaliação de risco para tomada final de decisão.

A empresa espanhola não se conforma com a decisão e reclama que o suplemento alimentar seja reposto sob pena de recorrer à via judicial.

A venda do suplemento alimentar Depuralina foi suspensa na passada terça-feira, na sequência da notificação de três reacções adversas graves, que podem estar associadas ao consumo do produto.

Num comunicado conjunto da Direcção-Geral da Saúde, do Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura e do Infarmed, foi oficialmente divulgada a suspensão imediata da venda do suplemento alimentar devido a "fortes suspeitas de associação causal entre a utilização" do produto e o aparecimento de episódios tóxicos graves.

Empresa exige reposição e ameaça recorrer à via judicial

A empresa que comercializa o suplemento alimenta - que se destina à eliminação de resíduos acumulados no corpo - não se conforma com a decisão tomada em Portugal de suspender a venda do produto.

Miguel Angel Isidro é o director técnico e do laboratório da empresa e mal soube da decisão deslocou-se a Lisboa.

O responsável não compreende as razões da suspensão até porque comercializando o produto em Portugal, Espanha e Bélgica, não tem conhecimento de casos semelhantes a não ser aqueles de que tomou conhecimento através da comunicação social portuguesa.

O responsável técnico pela comercialização da Depuralina quer obter das autoridades portuguesas um esclarecimento cabal e a reposição da situação tal qual ela se encontrava na passada segunda-feira.

“O que queremos é que digam que irão apagar tudo e que ficamos como estávamos antes de ontem”, afirmou Miguel Angel Isidro em conferência de Imprensa.

Caso a empresa não obtenha esclarecimentos que considere razoáveis e justos não coloca de parte a possibilidade de recorrer aos tribunais para repor aquilo que considerar ser uma situação justa para a empresa.

O advogado da empresa esclareceu que, caso a empresa decida recorrer à via judicial, a acção a dar entrada no tribunal será dirigida contra o Gabinete de Planeamento e Políticas do ministério da Agricultura e contra a Direcção – Geral da Saúde.

Empresa garante fiabilidade do produto

Ricardo Leite, director técnico da Depuralina em Portugal, garantiu aos jornalistas que o produto respeita toda a legislação sobre suplementos alimentares que decorrem da transposição para o ordenamento jurídico nacional de uma directiva comunitária que também foi transposta para ordenamentos como o espanhol, francês ou alemão.

O rótulo do produto inclui todos os seus componentes e tem uma advertência especial para os alérgicos ao glúten. Esclareceu ainda que sendo só os medicamentos os obrigados a indicar as contra-ordenações, e não sendo a Depuralina um medicamento mas sim um alimento não é obrigado a cumprir essa determinação legal.

Logo que soube da decisão de suspender a venda do produto a empresa em Portugal desencadeou todos os mecanismos para recolher o produto dos locais de venda para que assim se cumprisse a determinação legal.

Ricardo Leite afirma que “"É absurdo o que disseram para suspender a venda. Não percebemos quem organizou (a suspensão) e com que objectivos. Parece que há uma caça às bruxas ou uma sombra a pairar. Este é um produto muito eficaz e um dos mais vendidos e por isso queremos retroceder as coisas até viver a mesma situação de segunda-feira", acrescentou o director técnico, indicando que o produto está prestes a ser introduzido nos mercados italiano e britânico.

O Ministro da Agricultura esclareceu já esta quarta-feira que a suspensão da venda da Depuralina não é definitiva. O produto não foi retirado do mercado. Houve apenas uma suspensão da sua venda até que feita uma análise do risco, se perceba se ele é seguro ou não, para a saúde humana.

O produto que é vendido em vários países da Europa tem venda livre também na vizinha Espanha, o que permitira de acordo com Jaime Silva a sua compra.

Ministro da Agricultura explica suspensão

O ministro da Agricultura foi cauteloso a explicar a suspensão do produto. Frisou que não houve uma retirada do produto do mercado mas apenas uma suspensão da sua venda.

“Circula cá como circula em Espanha. Nós proibimo-lo cá mas quem o quiser consumir, provavelmente passa a fronteira e vai comprá-lo do lado de lá”, afirmou Jaime Silva.

O ministro explica que “nós tivemos foi três casos com incidências de saúde grave, em que nos foi dito pelo corpo médico de que o indício seria do medicamento”.

Perante tal diagnóstico médico ao ministério da Agricultura só restou uma decisão. “O que nós fizemos foi suspender para termos uma avaliação de risco. A avaliação de risco é feita pela nossa Agência de Segurança Alimentar, a ASAE”.

O governante explica a finalidade dessa avaliação de risco que vai agora ser feita pela ASAE. Nós agora, em termos de avaliação de risco, vamos testar se aquilo que se passa aqui é uma excepção face ao resto do mercado, ou não, para rapidamente tomar uma decisão definitiva, que poderá passar pela retirada do mercado ou, pela reposição do produto nas farmácias e para-farmácias.

ASAE garante que vai fazer cumprir a ordem de suspensão

A Autoridade da Segurança Alimentar e Económica é a entidade a quem caberá fazer a análise de risco da Depuralina e garantir que a determinação de suspensão da venda é cumprida pelas farmácias e para-farmácias.

António Nunes, presidente da ASAE garantiu à RTP que vai estar atenta e vai fiscalizar o mercado com vista a tornar efectiva a suspensão determinada pelo Gabinete de Planeamento e Políticas do ministério da Agricultura conjuntamente com a Direcção-Geral de Saúde.

“A decisão tem de ser acatada porque é uma orientação dada e neste momento já foi colocada na rede de alerta rápida de todo o sistema da Comunidade Europeia e portanto, ela tem de ser acatada”, afirma António Nunes à reportagem da RTP.

Em caso de as farmácias e para – farmácias violarem a determinação e colocarem o produto à venda, “o que poderá acontecer é a apreensão do produto e o levantamento do respectivo auto e depois este seguir os seus trâmites normais para se fazer uma avaliação até porque o produto não foi retirado do mercado, foi suspensa a sua venda” esclarece António Nunes.

O presidente da ASAE esclareceu que, no entanto, as empresas estão a cumprir a determinação de suspensão. António Nunes esclarece que “ontem, apesar das nossas acções (da ASAE) em várias farmácias e para – farmácias não encontrámos nenhum produto à venda e nesse sentido não houve nenhuma apreensão”.

A ASAE vai agora proceder aos estudos laboratoriais e levar a efeito a análise de risco da Depuralina e “naturalmente daqui a três meses, a quinze dias ou um mês, serão analizados os resultados laboratoriais” acrescenta o presidente do órgão fiscalizador.

De posse dos resultados dos estudos laboratoriais poderão as autoridades tomar então uma decisão definitiva que poderá passar ou pela retirada definitiva do produto do mercado ou pela sua reposição.
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