Material nos paióis de Tancos vai ser transferido para outras instalações

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ministro da Defesa, Azeredo Lopes, durante a demonstração de capacidades de combate da Marinha Portuguesa (PRONTEX 17) que se realizou na península de Troia, Setúbal, 18 de julho de 2017 Rui Minderico - LUSA

O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, confirmou no programa Grande Entrevista da RTP que está em estudo o encerramento dos paióis de Tancos e a transferência do material de guerra ali existente para locais alternativos.

O equipamento, obsoleto, “que está a ocupar espaço”, tem ainda de ser objeto de desmilitarização e ser destruído em segurança, pela IDD – Indústrias de Defesa ou em formação de militares, referiu Azeredo Lopes.

A decisão de transferência do material militar, tomada pelo Exército, procura responder ao problema da criação de um sistema que preserve “a capacidade do Exército ter armamento e material“ em condições de segurança, explicou o ministro.

O material poderá ser transferido para instalações apenas do Exército, ou da Força Aérea, como caso de Alcochete ou equipamentos da Marinha.

"Não se sabia" da vulnerabilidade
Ao jornalista Vítor Gonçalves, Azeredo Lopes  voltou a afirmar que "não se sabia" da vulnerabilidade dos paióis de Tancos, apesar de se reconhecer que se sabia que o sistema de vídeo vigilância não estava a funcionar “há cinco anos” e, mais do que isso, era obsoleto.

Também os serviços de informação do Exército não tinham indícios de riscos concretos para quaisquer instalações militares. “Era baixo”, disse o ministro, para explicar porque não foram reforçadas as patrulhas de vigilância humana em Tancos.

Azeredo Lopes reconheceu que “há situações onde podem ocorrer erros” num sistema tão vasto como o do Exército, mas garantiu que mantém a total confiança no Chefe do Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, e na capacidade deste ramo das Forças Armadas de “deduzir o que correu mal”.

O ministro recusou cenários de negligência – “eu não consigo fazer juízos tão categóricos de condenação de ninguém”, referiu Azeredo Lopes – ou relacionar diretamente o assalto com a redução de efetivos das Forças Armadas devido ao fim do serviço militar obrigatório, que terá afetado a capacidade de vigilância humana.

“Não quer dizer que o argumento dos recursos humanos possa justificar o que quer que seja quando temos à guarda algo desta importância”, sublinhou contudo Azeredo Lopes.

O ministro afirmou que foi informado em setembro de 2016 por Rovisco Duarte da grande preocupação quanto ao estado de vigilância das instalações militares nacionais, revelando que foi delineado um plano de recuperação “o mais rápido possível”.

O poder político sabia desde setembro de 2016, alertado pelas chefias militares que “havia um problema geral quanto às instalações e equipamentos do exército que justificavam proteção e vigilância”, reconheceu Azeredo Lopes.

“Houve um problema nas definições das prioridades mas isso é óbvio”, referiu o ministro. Para lembrar que em junho autorizou uma despesa de 368 mil euros para recuperação das instalações.

Apesar de reafirmar a gravidade do caso do assalto, o ministro referiu que "este não é o roubo do ´seculo".

Em defesa do CEME
Azeredo Lopes deixou elogios ao Chefe de Estado-Maior do Exército, referindo que Rovisco Duarte tem agido com “coragem, firmeza e serenidade” perante os mais recentes problemas do organismo que chefia, nomeadamente no caso do Colégio Militar, na resolução do problema da Manutenção Militar e no caso dos Comandos.

“Eu confio no Chefe de Estado-Maior do Exército” afirmou, ao mesmo tempo que sublinhava que este não precisa de advogado.

No caso da exoneração dos comandantes o ministro voltou a defender o CEME, explicando que esta era o único mecanismo ao dispor do general para garantir que não havia perturbações na investigação, e lembrando que este frisou que o afastamento não implicava responsabilização das chefias.

De qualquer modo, garantiu, “não fiz nenhuma pressão sobre o exército”, até por não ter poder para dizer ao CEME “não faça isso”.

Ataque a Assunção Cristas
O ministro afastou cenários de eventual demissão, como tem pedido a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, garantiu que agiu de acordo com as suas responsabilidades, sem ingerência nas incumbências do CEME.

Afirmando que não é “permeável à Senhora deputada Assunção Cristas” e por isso não se sente “obrigado a acatar o que ela solicita”, Azeredo Lopes contra-atacou com algum agastamento, contestando “os termos” em que a líder do CDS-PP tem construído a "noção de responsabilidade".

Nomeadamente, o “acasalamento entre os acontecimentos de Pedrógão, mais o furto de Tancos, mais a hipérbole do colapso da soberania mais a hipérbole e o alarme social de que andam salteadores à solta” pelo país, “apenas para obter vantagem política”.
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