Militante comunista e último preso político do Tarrafal evocado em Beja

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Beja, 18 Dez (Lusa) - O centenário do nascimento do militante comunista Francisco Miguel, o último preso político a sair do Campo de Concentração do Tarrafal, é hoje evocado em Beja, com uma exposição e a atribuição do seu nome a uma rua.

A Câmara Municipal de Beja homenageia um "filho da terra" e o preso político português que mais tempo passou na cadeia, num total de 21 anos, incluindo o seu nome na toponímia da cidade.

A partir de hoje, a rua 1º de Maio passa a designar-se Francisco Miguel Duarte, num "gesto simbólico" para "lembrar, com saudade, um grande lutador contra a ditadura e um dos grandes operários da democracia em Portugal", disse à agência Lusa o presidente do município, Francisco Santos.

À homenagem da Câmara Municipal segue-se a do PCP, com uma sessão evocativa e a inauguração de uma exposição, na Biblioteca Municipal de Beja, sobre a vida e a obra de Francisco Miguel, que também foi operário sapateiro e escritor.

A mostra, que reúne fotografias, objectos pessoais, algumas das obras publicadas e painéis informativos sobre a vida do militante e dirigente comunista também conhecido pela alcunha de "Chico sapateiro" vai estar patente ao público até sexta-feira.

Filho de camponeses pobres, Francisco Miguel, que nasceu a 18 de Dezembro de 1907, na aldeia de Baleizão, no concelho de Beja, "abraçou a causa da luta pela liberdade e justiça social quando era ainda muito jovem", lembrou hoje à agência Lusa José Farelo, da Direcção da Organização de Beja (DORBE) do PCP.

Aos 25 anos, a "revolta" contra a "tirania dos ditadores" levou o "simples" sapateiro alentejano a filiar-se no PCP, no qual militou durante mais de 66 anos.

"Pela sua actividade como militante e destacado dirigente do PCP, Francisco Miguel foi um exemplo de coragem e disponibilidade revolucionária", salientou José Farelo.

Os 21 dos 81 anos de vida que passou em várias prisões políticas do regime fascista, destacou, "é o maior exemplo da extrema coragem e do carácter revolucionário de Francisco Miguel e da sua dedicação ao PCP, à luta contra o fascismo, pela liberdade, democracia e socialismo".

Francisco Miguel evadiu-se por três vezes de prisões políticas e foi o último preso político do Campo de Concertação do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.

Na oficialmente denominada Colónia Penal de Cabo Verde, Francisco Miguel passou seis meses sozinho até 26 de Janeiro de 1954, data do encerramento, decidido por pressões internacionais, da mais temível e brutal prisão política do fascismo e que ficou para a história como o "Campo da Morte Lenta".

Após o 25 de Abril, Francisco Miguel foi eleito deputado pelo círculo de Beja à Assembleia Constituinte, em 1975, e à Assembleia da República, entre 1976 e 1985.

Escritor e poeta português vinculado ao PCP, Francisco Miguel escreveu vários livros, em prosa e verso, sobre a revolução e o povo, dos quais se destaca "Das Prisões à Liberdade" (1986).

Da obra poética, destaca-se o poema que escreveu em memória da sua conterrânea Catarina Eufémia, a trabalhadora rural que foi assassinada pelas forças do regime fascista a 19 de Maio de 1954, em Baleizão.

"Chico Sapateiro" morreu com 81 anos a 21 de Maio de 1988, no Seixal, onde participava num convívio com militantes e simpatizantes do PCP.

LL.

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