Motoristas de matérias perigosas pedem desculpa mas greve avança

por RTP
No último sábado os motoristas aprovaram um pré-aviso de greve a partir de 12 de agosto Rafael Marchante - Reuters

Os sindicatos de motoristas de matérias perigosas lamentam os problemas que a greve prevista para agosto poderá causar aos portugueses, mas acreditam que o país vai compreender a luta dos trabalhadores. A paralisação é para avançar.

Numa carta aberta dirigida à Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), que reúne as transportadoras, os sindicatos dos motoristas desafiam as empresas para um debate sobre as negociações em curso.

Os profissionais lamentam ainda o impacto e o transtorno que o protesto vai causar, mas dizem não ter dúvidas de que os portugueses vão compreender a luta dos trabalhadores.

A carta aberta é assinada pelo Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) e pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP).

No último sábado, os motoristas tinham já aprovado em congresso um pré-aviso de greve a partir de 12 de agosto, por tempo indeterminado, até entrar em vigor o novo contrato coletivo de trabalho, que prevê um aumento do salário base de 100 euros nos próximos três anos.

Os profissionais exigem ainda a melhoria das condições de trabalho e pagamento das horas extraordinárias a partir das oito horas de trabalho, entre outras medidas.

O novo acordo vai ser levado à reunião de dia 15 de julho para continuar as negociações com a ANTRAM e a federação filiada da CGTP, FECTRANS, mediada pelo Ministério do Trabalho.

Para a mesma reunião, os dois sindicatos vão levar um pré-aviso de greve, ameaçando paralisar a partir de dia 12 de agosto.
ANTRAM lança críticas
André Matias Almeida, advogado da ANTRAM, defendeu esta manhã na RTP que “esta carta é a prova de que os sindicatos não pretendem ter um debate sério, com grandeza e humildade”.

O advogado garante que a associação “está disponível para discutir” as melhorias das condições de trabalho para os trabalhadores e quer fazê-lo.

“Esta carta aparece depois de a ANTRAM fazer uma coisa que disse anteriormente fazer que foi divulgar o acordo assinado entre o Sindicato de Matérias Perigosas e a ANTRAM no qual estavam estabelecidas as metas para negociar”, elucidou.

Acordo esse que, de acordo com André Matias Almeida, prova que o representante desse sindicato “não disse a verdade aos seus associados quando referiu que estava acordado um aumento de 100 euros para 2021 e um aumento de 100 euros para 2022”.

Esse mesmo acordo assinado “é muito claro” e o sindicato estava “perfeitamente consciente de que os patrões não tinham capacidade para acorrer a todas as exigências”, garantiu.

“O direito à greve, como direito constitucional, é um direito que pode e deve ser exercido por qualquer trabalhador que se sinta injustiçado ou que queira melhores condições de trabalho”, considerou. “Mas isto a que estamos a assistir não é um exercício qualquer de direito à greve”.
"Má-fé" nas negociações
Anacleto Rodrigues, da direção do SIMM, acusou esta terça-feira a ANTRAM de estar de má-fé nas negociações e de não querer dialogar com os sindicatos independentes. Para o sindicalista, a falha nas negociações é a razão pela qual é necessário avançar com o pré-aviso de greve.

“Têm-se passado coisas naquela mesa de negociações em que nós nos sentimos desrespeitados, e também porque parece que há ali uma certa força de bloqueio aos sindicatos independentes”, avançou esta terça-feira.

Para o sindicalista, a ANTRAM não considera “a dificuldade” da profissão nem “o desgaste psicológico e emocional”. “Isso não é valorizado. Fixam-se apenas nas horas trabalhadas” e ignoram as “cargas, as descargas, o abastecer o camião”, afirmou.
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