Operação "Desarme 3D". Detidos seis membros do Movimento Armilar Lusitano

por RTP
Pedro A. Pina - RTP

A Polícia Judiciária anunciou esta terça-feira uma operação que culminou na detenção de seis pessoas, fortemente indiciadas pela prática dos crimes de infrações relacionadas com grupo e atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida. Um dos detidos era elemento da PSP.

A operação, desenvolvida pela Unidade Nacional Contra Terrorismo, visou cumprir 15 mandados de busca e apreensão, domiciliárias e não domiciliárias.

“Em resultado das buscas efetuadas, foi possível proceder às detenções em flagrante delito e à apreensão de material explosivo de vários tipos, de várias armas de fogo, algumas das quais produzidas através de tecnologia 3D, várias impressoras 3D, várias dezenas de munições, várias armas brancas, material informático, entre outros elementos de prova”, refere a PJ em comunicado enviado à comunicação social.O Movimento Armilar Lusitano (MAL) pretendia constituir-se como “um movimento político, apoiado numa milícia armada.

A investigação partiu da deteção de indicadores na internet de manifestações extremistas por parte de apologistas de ideologias nacionalistas e de extrema-direita radical e violenta, seguidores de um ideário antissistema e conspirativo, que incentivava à discriminação, ao ódio e à violência contra imigrantes e refugiados.

Os detidos são suspeitos de integrar o denominado Movimento Armilar Lusitano (MAL). O movimento pretendia constituir-se como “um movimento político, apoiado numa milícia armada".A investigação teve início em 2021.

"Estavam indiciados pela prática de factos que poderiam configurar crimes de infrações terroristas, alteração violenta do Estado de direito e de detenção de armas proibidas”, refere a Judiciária.

Entre os seis detidos, um deles era um elemento da PSP, existindo outros tinham ligações a grupos de segurança privados. 

Os detidos serão esta terça-feira presentes a Tribunal para primeiro interrogatório judicial.
Maior operação de sempre
O desmantelamento desta milícia armada de extrema-direita constituiu a maior operação de sempre do género em Portugal, com centenas de munições, armas militares e explosivos apreendidos, informou a própria Polícia Judiciária.
"Não deixou de ser surpreendente a qualidade e a diversidade daquilo que apreendemos", afirmou Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional de Contra-Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, em conferência de imprensa.

"Foi surpreendente" encontrar no grupo esta "capacidade de fazer algo com alguma projeção, com os meios de que dispunham", acrescentou a dirigente da PJ. 

"Estavam a armar-se, a recrutar pessoas e a desenvolver ações", afirmou Manuela Santos, salientando que o material apreendido "tem uma origem e está tudo em aberto nesse aspeto", com "novas linhas de investigação". 

A responsável não descartou haver "elementos de forças de segurança e forças militares" envolvidos no grupo. 

O grupo mais alargado inclui elementos que "pertenciam a antigas estruturas de extrema-direita que deixaram de existir", como a Nova Ordem Social, fundada pelo neonazi Mário Machado. 

Num vídeo distribuído pela PJ estavam livros neonazis, propaganda e impressoras 3D que serviam para fazer armas ou adulterar armas de `airsoft` de modo a que disparassem munições letais. 

"Não é fácil [investigar], porque é um meio difícil de penetrar. Este tipo de indivíduos está muito alerta" para a ação das autoridades. 

"Não havia para já um plano concreto" para "desencadear uma ação criminosa", explicou a coordenadora da UNCT, mas salientou que o objetivo era "atentar contra as instituições", na linha do que fazem, no plano internacional, outros grupos do género. 

A dirigente da PJ recordou a mega-operação das autoridades alemãs que em 2022 desmantelou um grupo que tentava realizar um golpe de Estado. "São pessoas de muitas proveniências", unidas pela "discriminação em função da identidade de género, da raça, do credo".
PJ preocupada
O diretor nacional da Polícia Judiciária mostrou-se preocupado com o aumento de casos relacionados com movimentos radicais e violentos de extrema-direita em Portugal, como o grupo armado que foi desmantelado pelas autoridades. 

"Estamos muito preocupados com o crescente desta atividade que não acontece só em território nacional", afirmou hoje Luís Neves.

O dirigente quis estar presente na conferência de imprensa de balanço, "face à relevância da operação, face ao fenómeno" violento associado que atenta contra os "direitos humanos, igualdade, respeito pela diversidade e respeito pela Constituição".

Além desta operação, Luís Neves destacou o aumento dos ataques de ódio em Portugal, dando os exemplos da violência de adeptos do Sporting, que incendiaram um veículo onde seguiam adeptos do Porto, ou a agressão a um ator da companhia teatral "A Barraca", por parte de um movimento nacionalista.

Quanto à presença de elementos das forças de segurança nestes grupos radicais de extrema-direita, Luís Neves salientou que isso obriga a vigilância mas não deve contaminar a perceção pública das instituições.

"Não é por existir um elemento ou outro que tenha estes indícios criminais que se possa pôr em causa as duas grandes forças de segurança" que "todos os dias de forma abnegada fazem o seu trabalho", disse.

O inquérito é titulado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal do Ministério Público.

c/ Lusa
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