A Ordem dos Médicos deixou esta quarta-feira um apelo ao Governo para que encontre soluções que evitem uma situação de rutura grave e iminente em vários hospitais do país, com o encerramento da atividade em diversos serviços de urgência e impacto sobre a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
“A degradação das condições de trabalho e a incapacidade de dotar o SNS de uma estrutura em recursos humanos adequada, perante a total passividade do Governo, em particular do ministro das Finanças e do ministro da Saúde, estão a comprometer a qualidade dos cuidados de saúde prestados e a segurança dos doentes em vários hospitais, de norte a sul do país”, acusa a Ordem dos Médicos em comunicado enviado às redações.
O alerta chega no dia em que os médicos da região de Lisboa e Vale do Tejo começam uma paralisação de dois dias.
Segundo Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, “é urgente estabelecer um diálogo profícuo e consequente, e dar condições aos médicos para o exercício da sua profissão. Neste momento difícil que o país atravessa na Saúde, os médicos trabalham horas a mais, sem descanso, em equipas reduzidas, muitas vezes em condições insuficientes e indignas, sem que se vislumbre a necessária valorização da sua carreira, condições de formação e de dignificação”.
Na terça-feira, os médicos do Hospital de Bragança anunciaram que vão deixar de fazer horas extraordinárias a partir de outubro. # Uma situação que pode comprometer a urgência, o bloco operatório e a unidade de cuidados intensivos.
“Sem médicos não há SNS”, alerta o bastonário.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou na terça-feira que a situação dos médicos com excesso de horas extra não é novo e não se comprometeu com mudanças concretas. Para a Ordem, “o Governo, e em particular o ministro das Finanças, deve mostrar mais sensibilidade para o setor, reconhecendo as necessidades do SNS, o importante papel dos médicos e, sobretudo, investir na valorização de uma medicina humanizada em que os médicos possam desenvolver adequadamente o seu papel”.
“Sem esta valorização, sem as condições mínimas, vamos continuar a assistir a uma degradação acelerada do SNS, com prejuízo para a saúde dos doentes”, acrescenta o documento.
Para Carlos Cortes, “não há mais tempo a perder, não pode haver mais incompreensão e inatividade. Estamos a entrar no período mais difícil do ano, o inverno, com um grande aumento de afluência aos Serviços de Urgência que, este ano, estão longe de estarem preparados”.