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Ordem dos Médicos quer estabelecer tempos mínimos de consultas

por RTP
Manuel de Almeida - Lusa

A Ordem dos Médicos vai propor tempos mínimos para consultas de diferentes especialidades. As de medicina geral e familiar, por exemplo, devem demorar pelo menos 30 minutos. Os períodos para as diferentes especialidades são definidos tendo em conta se se trata ou não de uma primeira consulta e se há recurso a tecnologia.

Em entrevista à RTP, o bastonário da Ordem dos Médicos, afirma que é possível aumentar o tempo das consultas, se o número de utentes por médico de família for reduzido.

“Concretamente nos médicos de família, a lista de utentes que têm não pode ser tão grande. Na realidade ela está muito exagerada. Toda a gente reconhece isso. Desde as associações que representam os médicos de família até ao próprio Governo”, afirmou Miguel Guimarães no programa Bom Dia Portugal na RTP. O documento, que segue para consulta pública, pretende proteger a qualidade da medicina e o direito dos doentes.

Segundo o bastonário, “há muito tempo que se anda para acertar a lista de utentes dos médicos de família, mas ela nunca mais se acerta”.

“Porque o médico de família, muitas vezes, não tem doentes. Tem utentes, nem todas as pessoas que estão no médico de família são doentes”, acrescentou.

Miguel Guimarães considera que é exequível ter consultas de 30 a 45 minutos nos Centros de Saúde.

“Neste momento as consultas de 30 a 45 minutos são primeiras consultas. Porque nas consultas subsequentes, que são a grande maioria das consultas, os tempos obviamente que são mais baixos. Andarão entre os 20 e os 30 minutos no máximo”, esclareceu. “Neste momento o grau de satisfação dos profissionais no Serviço Nacional de Saúde é muito baixo e reflete-se nos vários protestos que os profissionais de saúde fazem, que não tem apenas a ver com greves. Tem a ver com demissões, por exemplo a nível das chefias de vários hospitais portugueses. As pessoas estão numa situação limite”, acusou.

O Bastonário frisa que “o médico de família tem obrigações suplementares relativamente àquilo que é a promoção da saúde, à prevenção da doença, à participação em estudos que permitam ter uma ação mais consertada nesta matéria. Que é fundamental para nós conseguirmos melhorar a qualidade de vida das pessoas e para termos uma carga de doença crónica menos elevada”.

“É natural que os médicos de família precisem de mais tempo, numa primeira consulta, na avaliação global do doente. Que não é só a história clínica propriamente dita, vai para além disso, que tenham que ter mais tempo. E nesta altura têm os tempos de facto muito reduzidos em função de várias circunstâncias”.

Para Miguel Guimarães, “é importante nós termos uma intervenção sobre aquilo que neste momento tem maior ameaça na medicina, que é precisamente o tempo que o médico e o doente têm para conversarem, para chegarem a uma conclusão sobre o que vai ser o percurso seguinte do doente”.

“Tem sido ameaçado por vários fatores. Por um lado pela pressão elevada que existe, neste momento, a nível dos serviços públicos. Na privada também, mas nos serviços públicos é mais evidente”, esclareceu.
Nova tecnologia
O Bastonário da Ordem dos Médicos defende que a introdução da nova tecnologia tem vantagens óbvias, “nomeadamente a informática, mas que da forma como está a ser introduzida funciona também como uma barreira, porque falha muitas vezes. Não permite o acesso rápido aos dados dos doentes. Muitas vezes os médicos querem passar uma receita e não conseguem naquele momento, têm que esperar meia hora, uma hora até as aplicações funcionarem”.O anúncio foi feito no dia em que se celebra o “Dia do Doente”.


Para combater estes problemas informáticos, a Ordem dos Médicos vai apresentar uma proposta que “pode significar dar um ou dois passos atrás para depois podermos dar um passo em frente, com mais firmeza e mais segurança”.

Miguel Guimarães considera que “pelo grau de insatisfação das pessoas” o Serviço Nacional de Saúde está pior do que há 20 anos.


"A medicina hoje é muito melhor do que há 20 anos. A medicina evoluiu de tal forma que hoje conseguimos tratar os doentes mais depressa, com mais eficácia e com menos complicações", garante.
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