Pinto Monteiro dispõe de toda a informação das escutas

O Procurador-Geral da República já recebeu todos os dados que faltavam sobre as escutas a Armando Vara que captaram conversas com o primeiro-ministro, José Sócrates. Pinto Monteiro explicou à RTP que está a estudar a documentação. Em entrevista ao semanário Expresso, mostrou-se disposto a divulgar o conteúdo das escutas para "acalmar" a situação.

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"Se depender de mim e se for possível, divulgo as escutas para isto acalmar", afirmou Pinto Monteiro ao Expresso Miguel A. Lopes, Lusa

No centro da polémica, que se arrasta há mais de uma semana, estão dez certidões extraídas do processo Face Oculta. Duas dizem respeito a conversas entre o antigo governante socialista Armando Vara, um dos 15 arguidos do processo, e José Sócrates.

A edição on-line do Expresso adiantava, na terça-feira, que o Supremo Tribunal de Justiça havia decretado a nulidade das escutas. O presidente do Supremo, Noronha do Nascimento, guardou silêncio e remeteu explicações para a Procuradoria-Geral da República. Por sua vez, Pinto Monteiro afirmou que só prestaria declarações "depois de analisar os elementos" que solicitou "à Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra".

O Procurador-Geral da República confirma agora à RTP que já dispõe de toda a documentação relacionada com a intercepção de conversas entre Sócrates e Vara, encontrando-se a estudá-la com o vice-procurador da República. Pinto Monteiro deverá fazer sair um comunicado nas próximas horas.

Ao semanário Expresso, o Procurador-Geral mostrou-se inclinado a divulgar o teor das escutas: "Se depender de mim e se for possível, divulgo as escutas para isto acalmar".

Com o poder político como destinatário, Pinto Monteiro propugna ainda uma revisão do segredo de justiça. Os políticos, sustenta o Procurador-Geral da República, "devem regular o segredo de justiça, acabando com ele ou mudando o regime". E remata: "Assim não pode continuar".

"Sucessão de episódios"

Confrontado com a entrevista de Pinto Monteiro ao Expresso, o primeiro-ministro recusou-se a fazer qualquer comentário, afirmando que não tenciona alimentar o que disse ser uma "sucessão de episódios que não têm grande dignidade nem contribuem para elevar a vida pública".

A reacção contrasta com as declarações proferidas na véspera, quando José Sócrates disse que o caso "está a passar de todas as marcas". O primeiro-ministro afirmou mesmo esperar que Pinto Monteiro preste esclarecimentos: "A questão mais importante para mim é saber se, durante meses a fio, fui escutado, com as conversas a serem transcritas e gravadas. Tenho o maior interesse em ser esclarecido sobre isso, se essas escutas foram legais e se é possível fazê-las num Estado de Direito".

"Eu espero, portanto, que o senhor Procurador, com o esclarecimento que prometeu, possa esclarecer-nos a todos", reforçou.

Apoiando-se no conteúdo das escutas a Armando Vara, o jornal Sol noticiou na sexta-feira que o primeiro-ministro mentiu ao Parlamento quando disse desconhecer os contornos do negócio para a compra da TVI pela PT.

Destruição de escutas

Segundo o Jornal de Notícias, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça terá decidido, na sexta-feira, decretar a destruição das escutas do processo Face Oculta que envolvem o primeiro-ministro. Noronha do Nascimento, avança o jornal, tomou a decisão depois de ter recebido dados complementares solicitados ao Ministério Público de Aveiro.

O Jornal de Notícias escreve que as informações entregues ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça eram relativas à identificação de parte dos intervenientes nas conversas telefónicas em causa. Ainda de acordo com o jornal, Noronha do Nascimento terá considerado as escutas "nulas e irrelevantes do ponto de vista criminal".

Contactado pela RTP, o Supremo Tribunal de Justiça escusou-se a comentar a notícia, escudando-se no argumento de que qualquer informação relativa ao processo violaria o segredo de justiça. Noronha do Nascimento pode, segundo a lei, mandar destruir as escutas, mas a decisão é passível de recurso para o plenário do Supremo e, em fase posterior, para o Tribunal Constitucional.

Suspeita de ingerência do poder político

Na edição de sábado, o Correio da Manhã avança com a fundamentação que terá sido invocada pelo Ministério Público de Aveiro para extrair as duas certidões sobre José Sócrates: suspeitas da prática de atentado contra o Estado de Direito, punido pela lei 34/87 sobre crimes de responsabilidade dos titulares de cargos públicos.

O jornal adianta que a lei 34/87 foi articulada com o artigo 38.º, número quatro, da Constituição da República, de modo a fundamentar suspeitas de manipulação dos órgãos de comunicação social.

As conversas entre Armando Vara e José Sócrates interceptadas pelos investigadores terão abordado a compra da TVI e a renegociação da dívida da Global Notícias. Os titulares da investigação terão entendido que configuravam crimes graves com uma moldura penal de até oito anos de cadeia. Em causa estará a suspeita de ingerência do poder político nos órgãos de comunicação social - Sócrates ter-se-á tornado suspeito de pressões através do poder económico.

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