"Pouca-vergonha". Sócrates condena nomeação de Carlos Alexandre para comissão contra fraude no SNS

José Sócrates considera a escolha do Governo um "prémio" que foi "cuidadosamente" atribuído a Carlos Alexandre 11 anos após a detenção do antigo primeiro-ministro no âmbito da Operação Marquês.

Joana Raposo Santos - RTP /
Foto: Ana Serapicos - RTP

José Sócrates reagiu esta quarta-feira com desagrado à nomeação do juiz Carlos Alexandre para liderar a Comissão de Combate à Fraude no Serviço Nacional de Saúde, considerando a escolha "uma pouca-vergonha".

“O juiz Carlos Alexandre foi nomeado pelo atual Governo de direita para um cargo político. Esse cargo foi criado especialmente para acomodar esta escolha. A nomeação vem provar – sem remissão - a parcialidade política que exuberantemente exibiu durante o inquérito do processo Marquês”, escreveu Sócrates numa declaração pública.

José Sócrates considerou esta “uma pouca-vergonha, para utilizar a expressão que o senhor primeiro-ministro trouxe recentemente para o espaço público”.

“Há muito a dizer. Por agora, fiquemos pela analogia do lawfare brasileiro. A crónica desta nomeação de Carlos Alexandre é em tudo semelhante à do juiz Sérgio Moro. Ali, o juiz prendeu o adversário politico e recebeu o prémio de ministro de Bolsonaro; aqui, a paga, vem, cuidadosamente, onze anos depois da minha prisão no processo Marquês”, comparou.

“Lá, como cá, a escolha dos juízes foi vigarizada - aqui com a fraude na distribuição, ali com a trapaça da escolha da jurisdição”.

Agora, segundo Sócrates, falta a “prenda de Natal”, que diz já ter sido “prometida pelo senhor procurador-geral ao senhor primeiro-ministro”.
“Boa escolha”, defendem administradores hospitalares
Segundo o Jornal de Notícias, Carlos Alexandre vai liderar a nova comissão, durante os próximos três anos, para cortar desperdícios das despesas em saúde, peneirar as fraudes e, no fim, garantir uma poupança de até 800 milhões de euros.

Entrevistado pela RTP Notícias, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares considerou esta “uma boa escolha”.

“Parece-nos que é uma boa escolha. Acho importante que esta unidade tenha alguém com credibilidade, com percurso, com experiência em investigação”, declarou Xavier Barreto. “Parece-nos um perfil adequado e que o juiz Carlos Alexandre reúne todos os requisitos para poder liderar esta unidade”.

“Obviamente, este tipo de investigação na saúde em concreto tem especificidades muito próprias, mas esta unidade terá um conjunto de outros profissionais, alguns da área da saúde”, explicou.

O juiz “poderá contar com toda a nossa cooperação durante este seu mandato de três anos”, assegurou o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares.

Na visão de Xavier Barreto, “é absolutamente fundamental que esta estrutura tenha toda a autonomia, que não esteja dependente de qualquer Governo”, até porque “os governos vão mudando, mas estas entidades ficam e têm de investigar até a ação do próprio Governo em alguns temas”.

Questionado sobre se esta nomeação conseguirá evitar situações como a do dermatologista que recebeu mais de 700 mil euros em três anos, Barreto disse ser necessário “diferenciar o que é corrupção e o que é desperdício”.

“Nós temos certamente desperdício numa série de áreas (…) e depois há temas de corrupção que envolvem de facto infringir leis”, elucidou.

Por esse motivo, “teremos de perceber depois em que é que se concentra mais esta entidade, porque há outras entidades”, como a IGAS, “que continuam a ter as suas competências”.

PUB