Prevenir antes que seja tarde: os cuidados que os sismos nos deveriam obrigar a ter

por Christopher Marques, Nuno Patrício - RTP
Sara Piteira - RTP

Vai acontecer um dia. Dizem os especialistas que a questão já não é “se” mas “quando”. Quando a terra voltar a tremer em Portugal com força suficiente para provocar graves danos materiais e até humanos. O problema é, em muitos casos, estrutural. Mas há muito que se pode fazer em casa, na escola, no escritório. Gestos simples com um objetivo em mente: estar-se preparado para o dia em que o país tremer.

São chamadas de medidas de proteção não estrutural contra sismos. Não entram aqui as preocupações com fundações de edifícios, qualidade dos materiais de construção ou resistência estrutural do edifício a tremores de terra. Contam-se sim pequenos atos que, em casos de tremor de terra, podem ajudar a salvar vidas.

“No fundo são medidas de proteção individual. É como entrar no carro e meter o cinto de segurança em dia. Hoje em dia já todos achamos isso natural mas não era assim anteriormente”, explica Paulo Candeias.

A metáfora apresentada pelo investigador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil remete para um longo processo de sensibilização do público nas mãos de diferentes entidades. O objetivo é alertar para os riscos e explicar os comportamentos a ter.

No âmbito do projeto KnowRisk, Paulo Henriques, do Serviço Municipal de Proteção Civil de Lisboa, explicou à RTP alguns dos cuidados a ter. Tudo começa com uma verdadeira autoavaliação. “As pessoas conhecerem as vulnerabilidades da sua casa, saberem que elementos é que podem conferir mais perigosidade”, explica. A partir daí, é agir.

Fixar objetos à parede
“Ao contrário da ideia que possa haver no senso comum, muitos dos feridos num evento sísmico são originados por queda de objetos e não porque os edifícios caem”, assinala Paulo Henriques. Torna-se por isso fundamental ter em atenção a forma como o mobiliário se encontra em casa.

Certifique-se que os móveis pesados, estantes, garrafas de gás, vasos e floreiras estão fixos às paredes de sua casa, garantindo que não caem em caso de abalo sísmico.
Reorganize a disposição dos objetos
Olhe atentamente para a sua casa e pense nas consequências que um sismo pode ter. Certifique-se de que os objetos não caem no chão e que, se caírem, tal não aconteça em locais onde possam estar pessoas – cama, cadeira, sofá.

Coloque os objetos mais pesados ou de grande volume no chão ou nas estantes mais baixas dos armários. Prepare a sua casa por forma a facilitar os movimentos, libertando os corredores e passagens.
Cuidado com os vidros
Janelas e espelhos apresentam-se como objetos perigosos na eventualidade de um sismo. A probabilidade de o vidro se partir em ínfimas partículas e ferir alguém é elevada em caso de sismo.

A substituição do vidro simples por vidro temperado, que não parte da mesma forma, poderá contribuir para que haja menos danos materiais ou humanos em caso de sismo. Coloque também cortinados pesados nas janelas, para dificultar a entrada dos vidros em casa quando se partirem.
Facilite os movimentos em casa
Prepare a sua casa para sair facilmente em caso de emergência. Deixe corredores e portas desimpedidos e corretamente arrumados para uma saída mais célere e fácil. Organize o mobiliário de forma inteligente: certifique-se que, caso os móveis caiam, não bloqueiem a saída.
Identifique os locais mais seguros
Antes que a desgraça aconteça, fale com todo o seu agregado familiar. Identifique os locais mais seguros e distribua os seus familiares por eles. Identifique os locais mais perigosos como os que ficam próximos de janelas, espelhos, móveis e outros objetos.

Recorde frequentemente as regras básicas de emergência. E ensine os seus familiares a desligar a eletricidade, cortar a água e o gás. Tenha em local acessível os números de telefone de serviços de emergência.
Elabore um plano de emergência
Fale com os seus familiares de forma tranquila e serena e estabeleça um plano de emergência para a eventualidade de um sismo ou outra catástrofe natural.
 
Este projeto pode passar pelo estabelecimento de um ponto de encontro para o caso de estarem separados e não conseguirem comunicar durante a ocorrência.

“Outra alternativa é ter um contacto telefónico alternativo, fora da zona onde residem”, explica Paulo Henriques. Os elementos do agregado podem escolher um familiar que viva em zonas onde a perigosidade sísmica é inferior – como no norte do país.

Este contacto será usado para deixar ou receber um recado e saber onde e como estão os restantes familiares que se encontravam na zona sinistrada.
Organize o seu kit de emergência
Numa pequena mochila, reserve alguns objetos que poderão ser muito úteis na eventualidade de uma calamidade deste tipo. “Alimentos, uma lanterna, um extintor, roupa, calçado”, exemplifica Paulo Henriques. Inclua também um rádio portátil, cópia dos seus documentos e pilhas de reserva para a lanterna.

Preferencialmente tenha a mochila guardada perto da porta para que possa pegar nela e sair rapidamente, caso seja necessário.

Além destes utensílios, armazene água em recipientes de plástico, alimentos enlatados e medicamentos para o caso de doentes crónicos. O suficiente para fazer face às dificuldades nos primeiros dois ou três dias depois da catástrofe, enquanto se organiza o socorro no cidade. Não se esqueça de verificar regularmente os prazos de validade dos produtos que fazem partem do kit.

São cinco conselhos, cinco medidas que deve urgentemente implementar em casa. Processos rápidos e aparentemente simples que, em caso de sismo, podem ajudar a salvar vidas. No âmbito do projeto KnowRisk, os alunos da Escola Rainha Dona Leonor exploraram as medidas de proteção não estrutural e apresentaram os resultados em forma de maquete.

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