Primeira mulher a comandar navio da Marinha faz balanço positivo

por Agência LUSA

Um ano depois de se ter tornado na primeira mul her a comandar um navio da Marinha, Gisela Antunes faz um balanço positivo e diz ainda ter tempo para o hobby preferido: assistir aos jogos da Académica de Coimbra.

Há precisamente um ano, no Dia Internacional da Mulher, a segundo-tenen te Gisela Antunes tornou-se na primeira mulher a comandar uma unidade da Marinha portuguesa, através de um convite feito pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, a lmirante Melo Gomes.

A Marinha integrou pela primeira vez elementos femininos nas suas unida des navais e em terra em 1992, tendo actualmente 675 mulheres ao serviço.

Gisela Antunes, que realizou o tirocínio (treino) de embarque na corvet a "João Roby" e na fragata "Comandante Sacadura Cabral", comanda desde 18 de Mai o do ano passado o NRP Sagitário, uma lancha da classe Centauro, com cerca de se is anos.

Natural de Coimbra, Gisela Antunes interessou-se pela Marinha aos 18 an os, depois de ter efectuado uma visita à Escola Naval e por influência do pai qu e havia sido marinheiro durante dois anos. Entrou para a Marinha em 1998.

Um ano depois de ter assumido o comando do NRP "Sagitário", Gisela Antu nes, disse em entrevista à agência Lusa sentir um grande orgulho por ter sido a primeira mulher a comandar um navio da marinha.

"Sinto orgulho de ter sido eu mas acho que o que é mais importante é o facto de ser comandante", disse, salientando que "ser comandante de um navio é u m cargo muito nobre".

"Para mim comandar logo como segundo-tenente foi espectacular, foi muit o bom, até porque sendo oficial jovem dá para aprender muito, dá-nos muita respo nsabilidade", contou.

Gisela explicou à Lusa que não sentiu dificuldades no início do seu com ando, mas teve que ultrapassar a fase inicial de adaptação que é sempre necessár ia quando se vai para um sítio novo.

"Eu vinha de uma corveta que tem cerca de 84 metros de comprimento e co m uma lotação de cerca de 60 homens e fui para uma lancha com 28 metros para oit o pessoas. É tudo diferente, desde o comportamento no mar até à organização do p róprio navio", disse.

Gisela, que comanda sete homens, diz não ter sentido qualquer constrang imento no trabalho diário, uma vez que a situação não era novidade para ela.

Para a segundo-tenente, o último ano foi de grande sorte pois as missõe s correram bem, sem sobressaltos, e nunca se sentiu diferente por ser mulher.

"Tive a sorte de o navio estar sempre operacional, ou seja, nunca tivem os uma paragem para efectuar reparações e, por isso, foi possível concretizar to das as missões que propuseram ao NRP "Sagitário", adiantou.

O NRP "Sagitário" é uma lancha de fiscalização rápida com oito tripulan tes e que tem como missão principal a fiscalização da pesca e patrulhamento de t oda a costa portuguesa, mas leva a cabo também missões de salvamento e de colabo ração com outras entidades.

Estas lanchas estão atribuídas na zona marítima do centro entre a zona de Pedrógão, a Norte da Nazaré, e a zona de Odeceixe, na zona marítima do Sul, e ntre Odeceixe e Vila Real de Santo António, e pontualmente no arquipélago da Mad eira.

Gisela Antunes contou à Lusa que a missão que mais a marcou foi a prime ira, que aconteceu dois dias depois de ter assumido o comando da lancha.

"A minha primeira missão coincidiu com as comemorações do Dia da Marinh a, um dia em que se dá a oportunidade às pessoas de visitarem os barcos maiores e de fazerem um baptismo de mar", adiantou a segundo-tenente.

Deste dia, Gisela recorda que estava preocupada porque era a sua primei ra missão e o seu primeiro contacto com a organização da lancha, a que não estav a habituada.

"Por outro lado, queria que corresse tudo bem com as pessoas que transp ortámos para o baptismo de mar", referiu.

Gisela Antunes recordou também a primeira missão que teve em colaboraçã o com outras entidades.

"Fizemos uma missão conjunta com a ASAE (Autoridade de Segurança Alimen tar e Económica) no Algarve para efectuar inspecção de higiene e segurança alime ntar nos arrastões", disse a segundo-tenente, frisando que se tratou de uma miss ão importante porque até aí as inspecções aos arrastões eram feitas depois de as embarcações chegarem ao porto.

Apesar de ter uma vida muito preenchida, Gisela Antunes diz ter tempo p ara o marido, para a família, para os amigos e para os seus hobbies.

"No ano passado tive aulas de Salsa, gosto de fazer snowboard, de ir ao cinema e, sempre que posso, ir a Coimbra assistir a jogos da Académica", disse a segundo-tenente, que já jogou futebol.

"Em pequena ia ver os jogos com o meu pai e sempre que posso vou até lá ver os jogos da Académica, que me tem dado grandes tristezas nos últimos tempos ", disse.

Quanto ao futuro, Gisela Antunes afirmou que depois de terminar o coman do (duram cerca de um ano e meio a dois anos) ainda não sabe o que vai fazer.

"O futuro não depende de mim. Quando sair do comando do `Sagitário` pos so fazer um curso de especialização ou ir para uma corveta ou para uma unidade e m terra dar aulas", disse Gisela Antunes.

"Felizmente na Marinha há uma diversidade de cargos e funções o que é b om porque não caímos na rotina", referiu.

Lusa/Fim


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