Registo Oncológico confirma "impacto negativo" da pandemia nos cuidados do cancro

por RTP
Cancro da mama e do colorretal foram os mais frequentes em 2020 Paulo Whitaker - Reuters

De acordo com o Registo Oncológico Nacional (RON), divulgado esta segunda-feira, em 2020 foram registados, em Portugal, 52.723 novos casos de cancro, menos do que estava previsto. Os dados confirmam que a pandemia da covid-19 “teve um impacto negativo na prestação de cuidados e na investigação sobre o cancro”. Os cancros da mama, colorretal, próstata e pulmão foram os mais frequentes nesse ano.

O Registo Oncológico Nacional conclui que a pandemia da covid-19 “teve um impacto negativo na prestação de cuidados e na investigação sobre o cancro” em 2020, o que levou a um atraso no disgnóstico e a um consequente número inferior de novos casos.

As previsões para 2020 apontavam para 60 mil a 65 mil novos casos de cancro, tendo sido registados 52.723 – menos nove por cento do que em 2019 e uma diferença de 15 a 24 por cento face ao previsto.

De acordo com relatório, estes atrasos no rastreio, diagnóstico e no tratamento deverão levar “a um aumento, nos anos mais próximos, da morbilidade e da mortalidade por cancro”.
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do RON, Maria José Bento, mostrou-se preocupada com os atrasos no diagnóstico e no tratamento, afirmando que "deverá ter expressão nos dados de 2021 ou 2022, traduzindo-se em mais morbilidade e mortalidade" por cancro.

"Uma das explicações está na interrupção dos rastreios. Há patologias onde o diagnóstico precoce é muito importante para o sucesso do tratamento e para mais probabilidades de sobrevivência. Isto provavelmente vai-se refletir nos anos seguintes em pior morbilidade e maior mortalidade", explicou.
A também diretora do serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto explica que para além da paragem e diminuição dos rastreios, na origem desta diminuição dos diagnósticos está o facto das pessoas, sobretudo ao longo da primeira vaga de covid-19, se terem resguardado mais e terem procurado menos o médico de família.

"Para situações com sintomatologia mais forte, cancro mais avançado, as pessoas continuaram a dirigir-se aos serviços de saúde. Pessoas com novas suspeitas não recorreram aos cuidados de saúde da mesma maneira até porque muitos hospitais - não foi o caso do IPO - eram hospitais covid-19. Houve diminuição dos diagnósticos", analisou.

A diminuição foi mais evidente nos cancros do estômago, do cólon, do reto, do pulmão, da mama, da próstata e da tiroide. Segundo a epidemiologista, a diminuição do número de casos de cancro foi transversal ao sexo, faixa etária e a todos os distritos do país.

Dando o exemplo do IPO do Porto, a especialista referiu que o grande impacto na diminuição dos diagnósticos aconteceu na primeira vaga de março a maio. "Já na segunda e na terceira vagas os serviços parecerem mais resilientes", observou Maria José Bento.
Cancro da mama e colorretal foram os mais frequentes
Os cancros da mama, colorretal, próstata e pulmão foram os mais frequentes em 2020. O cancro da mama sobressai com 7.504 novos casos, seguindo-se o do colorretal com 6.680. Foram ainda registados 5.776 novos casos de cancro da próstata e 4.737 de cancro do pulmão.

Nas mulheres o cancro mais frequente é o da mama (7.425), seguindo-se o colorretal (2.757) e o da pele não-melanoma (1.625). Os novos casos em homens têm mais expressão na próstata (5.776), colorretal (3.923) e pulmão (3.289).

Ainda de acordo com o RON 2020, o cancro do pulmão foi o mais mortífero, tendo sido responsável por 15,4 por cento das mortes por cancro.
Segue-se o cancro colorretal, que provocou 13,3 por cento das mortes por cancro, e o cancro do estômago, que causou 7,9 por cento das mortes.

Na mulher, o cancro da mama (16,1 por cento) foi o principal responsável pela mortalidade por cancro, seguindo-se o cancro do colorretal (13,4 por cento) e o do pulmão (9,7 por cento).

No caso do homem, o principal responsável pela mortalidade por cancro foi o do pulmão (19,4 por cento). O segundo mais mortífero foi o do colorretal (13,2 por cento) e o da próstata (11,3 por cento).

A coordenadora do Registo Oncológico Nacional destaca a importância dos rastreios para o diagnóstico precoce do cancro para a diminuição da mortalidade.
Em Portugal, o cancro é a segunda causa de morte, responsável por mais de 28 mil mortes anuais, tendo em 2020 sido responsável por 23 por cento de todas as mortes.

O RON 2020 mostra que a taxa de novos cancros é superior nos distritos do Continente Litoral, dado que a especialista acredita que "os estilos de vida, nomeadamente os hábitos tabágicos", explicou.

Soma-se, em termos de análise territorial, maior percentagem de novos casos de cancro na Região Autónoma da Madeira.

c/ Lusa
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