Suspeito de planear atentado na Faculdade de Ciências começa a ser julgado

por RTP
A investigação foi dirigida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, coadjuvado pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da PJ Pedro A. Pina - RTP

Teve início esta terça-feira, no Campus de Justiça, o julgamento do suspeito de preparar um atentado terrorista na Faculdade de Ciências de Lisboa. João Carreira, de nacionalidade portuguesa, tinha à data da detenção 18 anos. Está acusado de dois crimes de terrorismo, um dos quais na forma tentada, e outro de detenção de arma proibida.

Foi em julho que o Ministério Público deduziu a acusação a João Carreira, que estava já em prisão preventiva desde 11 de fevereiro. A medida de coação foi posteriormente substituída por internamento preventivo no Hospital Prisional de Caxias. O Ministério Público alegou "forte perigo de continuação da atividade criminosa e um intenso perigo de perturbação da tranquilidade e da ordem públicas".

A detenção do jovem foi efetuada a 10 de fevereiro, após sinalização por parte do FBI, a partir de uma denúncia de um utilizador. Era a véspera da data que teria previsto para concretizar o ataque na Faculdade de Ciências, instituição que frequentava.

Para além de armas proibidas, nomeadamente uma besta e facas, as autoridades apreenderam artigos "suscetíveis de serem usados na prática de crimes violentos" e documentação, incluindo "um plano escrito com os detalhes da ação criminal a desencadear", revelava então a Polícia Judiciária.

Nos termos da acusação, João Carreira começou a mostrar interesse pelo fenómeno dos assassínios em massa em 2012, quanto tinha nove anos. O se desenvolveria, a partir de 2018, para "um fascínio e uma obsessão" por tais conteúdos nas redes sociais, aplicações e fóruns como o Discord, Reddit e Tumblr.

"O fascínio e a obsessão do arguido João Carreira por estas temáticas criou no mesmo, desde pelo menos final de setembro de 2021, uma vontade profunda de replicar e copiar tais atos violentos, executar um ataque/assassinato em massa e de suicidar-se ou vir a ser morto em seguida", estabeleceu a procuradora Felismina Carvalho Franco no despacho de acusação.A investigação foi dirigida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, coadjuvado pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da Polícia Judiciária.

O Ministério Público assinalou "objetivos de matar indiscriminadamente várias pessoas e espalhar o terror na comunidade escolar" e um alegado ressentimento do jovem por ter sido associado a suspeitas de plágio num trabalho académico.

"João Carreira encontrava-se afeto das anomalias psíquicas de perturbação do espetro do autismo, sem perturbação do desenvolvimento intelectual e com nulo a ligeiro défice na linguagem funcional, e de episódio depressivo, sem sintomas psicóticos (...) No entanto, não se apurou a existência de sintomatologia psicótica", enfatizou a procuradora, para acrescentar que não havia "pressupostos médico-legais para ser considerado inimputável".

A acusação considera que susbiste o risco de que João Carreira "possa sentir novamente o mesmo desejo de matar pessoas e de morrer e que tal ocorra num momento e em circunstâncias em que as autoridades não consigam atuar de forma a travar o comportamento do arguido".

c/ Lusa

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