Américo Thomati rejeita irregularidades com fundos da PT e da Taguspark

Américo Thomati garante que agiu com transparência em todas as acções que teve enquanto presidente do Taguspark, mas recusa-se a comentar a relação do parque tecnológico com Luís Figo por se tratar de um assunto em segredo de justiça. O administrador foi apontado pelo Sol como tendo colocado meios financeiros ao serviço de uma acção de campanha na qual o ex-jogador apoiou José Sócrates.

RTP /

O nome do presidente do Taguspark (ex-administrador da PT Saúde) - que de acordo com o Sol terá entrado no pólo tecnológico pela mão de Rui Pedro Soares, o quadro da PT que tem feito as manchetes das últimas semanas e que apresentou a meio desta semana a demissão do cargo de administrador - foi hoje envolvido num episódio lateral ao alegado plano do Executivo Sócrates para controlar a comunicação social: a contratação da colaboração de Luís Figo no âmbito da campanha do PS para as legislativas de 27 de Setembro com recursos financeiros da PT.

De acordo com o Sol, estão em causa suspeitas de crime de corrupção e de infidelidade. O semanário não adianta sobre quem recaem as suspeitas de corrupção, mas quanto à infidelidade, as suspeitas dirigem-se a administradores da PT e do Taguspark, por utilização abusiva de meios e verbas das respectivas empresas, que envolvem capitais públicos.

"Em todas as empresas que eu giro, a gestão é transparente, com os actos debatidos nos órgão próprios", afirmou Thomati em sua defesa, num contacto com a Agência Lusa.

Insistindo que "é tudo transparente", o presidente do Taguspark remeteu-se depois ao silêncio, explicando que não pode "comentar processos judicias em curso".

Três contratos

Com base em transcrições das escutas telefónicas do processo Face Oculta, o Sol aponta que Américo Thomati e João Carlos Silva, presidente executivo e administrador do Taguspark terão colaborado com Rui Pedro Soares para assegurar a colaboração de Luís Figo na campanha socialista, alegadamente a troco da assinatura de três contratos assinados com o ex-jogador e empresas em que este tem participações, o que foi já desmentido pelo antigo internacional.

De acordo com o representante de Luís Figo, o contrato que directamente diz respeito ao ex-jogador envolve verbas de 350 mil euros para que este seja o rosto do Taguspark numa campanha de promoção internacional do parque tecnológico de Oeiras.

O contrato - que tem a duração inicial de um ano e pode ser renovado até três anos, ascendendo neste caso as verbas aos 750 mil euros - esteve no centro das buscas efectuadas pela Polícia Judiciária de Aveiro e Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa aos escritórios do Taguspark, encontrando-se agora o original do documento na posse das autoridades judiciais.

"Isso vale muitos votos"

As escutas transcritas pelo semanário revelam contactos de Paulo Penedos em nome de Rui Pedro Soares (Penedos era assessor de Soares na PT) com Américo Thomati, João Carlos Silva e Marcos Perestrello (actualmente secretário de Estado da defesa e na altura responsável pela campanha eleitoral das Legislativas de Setembro de 2009).

De acordo com a transcrição do semanário, os intervenientes são postos ao corrente da intenção, por parte de Rui Pedro Soares, de assegurar o apoio de Figo ao PS (o nome de Mourinho também é referido), tendo Marcos Perestrello comentado que "isso vale muitos votos".

Sustentando que as citações publicadas "não correspondem aos termos da conversa e estão absolutamente descontextualizadas do conjunto de uma longa conversa", o actual secretário de Estado da Defesa já veio afirmar que as escutas publicadas pelo Sol demonstram que "desconhecia completamente" a negociação para a participação de Figo na campanha do PS.

"Do trecho da suposta escuta publicado pelo Sol resulta que eu desconhecia completamente o assunto e que a minha opinião sobre o episódio referido pela notícia é diametralmente oposta à interpretação feita pelo jornal", refere Perestrello numa nota à comunicação social, na qual explica ainda que "não exercia nenhuma função na estrutura de campanha nacional do PS".

Ainda de acordo com o jornal, Perestrello terá dito a Penedos: "Por acaso não me deram o nome do Figo para os tempos de antena das personalidades para depor!", ao que Penedos terá respondido: "Pronto, faz-te de novas que o nome vai-te aparecer, só que o apoiante espontâneo e fervoroso primeiro deve querer assinar o contrato, não é?".

Já as conversas telefónicas mantidas por Paulo Penedos com Américo Thomati e João Carlos Silva giram à volta de questões formais relacionadas com a forma como o acordo com Figo deve ser formalizado e de que forma poderá ser apresentado aos órgãos do Taguspark.

"A gente tem de cozinhar isto de forma a tapar os olhos dos outros, tás a perceber?", explica João Carlos Silva a Paulo Penedos, de acordo com a transcrição do Sol.

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