António Costa acusa troika de procurar problemas no Estado e estar desatenta aos bancos

por Christopher Marques - RTP
Eric Vidal - Reuters

António Costa volta a acusar o anterior Executivo de não ter resolvido atempadamente a situação do Banif, mas lança também críticas à troika. O primeiro-ministro acusa às autoridades internacionais de terem estado desatentas ao sistema financeiro, e mais preocupadas “a procurar problemas no Estado”. Em entrevista ao Jornal de Notícias, Costa mantém que a privatização da TAP é para reverter e que as promessas eleitorais são para cumprir.

Em dia de natal, António Costa responde às questões do Jornal de Notícias. Em entrevista ao diário e depois de um novo processo de resolução bancário, o primeiro-ministro acusa o anterior Governo de não ter resolvido a tempo a situação do Banif e ataca a troika por ter estado “desatenta ao sistema financeiro”.

“A troika andou excessivamente preocupada a procurar problemas no Estado, nas autarquias, nas regiões, e bastante desatenta ao que acontecia no sistema financeiro. Desde que o programa de ajustamento se concluiu, já vamos em duas resoluções bancárias”, sublinha António Costa.

O chefe de Governo admite que a solução para o Banif poderia ter sido tomada por um Governo de direita. “A diferença é que se tivesse sido tomada há três anos, teria menos custos e outras condições. Foi resolvido em três semanas, em condições adversas, com custos pesados, que resultaram de adiamentos sucessivos”, acusa.

Reportagem de Cristina Santos - Antena 1

O Banif, diz, era uma das surpresas desagradáveis a que se referia em outubro, em entrevista à TVI. Costa confirma ainda que o PS vai avançar com a formação de uma comissão parlamentar de inquérito ao caso e alega que a Comissão Europeia propôs uma reestruturação do banco há um ano que não foi encarada pelo Executivo de Pedro Passos Coelho.

“Autorizava a reestruturação do Banif, concentrando-o nos mercados onde tem posição relevante: Açores, Madeira e comunidades de emigrantes. Alguém terá de explicar por que razão essa solução não foi encarada”.
"Revisitar as regras do sistema"
Costa diz ainda não ter indicação de que o Montepio venha a precisar de ajuda e, apesar de dizer que é necessário ter confiança no sistema de supervisão, insiste que “é necessário revisitar as regras do sistema”.

Apesar da situação do Banif, António Costa mantém que as promessas do PS são para cumprir, uma vez que o programa do partido era “prudente e conservador”.

Recentemente, Cavaco Silva defendeu que “a governação ideológica pode durar algum tempo, mas faz estragos na economia”. Para António Costa, “este é um excelente retrato do que aconteceu em Portugal nos últimos quatro anos”, apontando que a “governação ideológica foi trágica”.

Quanto ao futuro, o primeiro-ministro afirma que não vê necessidade de se falar em reestruturação de dívida, mas admite que o Governo estará preparado para participar na discussão “quando a questão se colocar”.
"Capital vai voltar a ser da TAP"

O chefe de Governo mantém a intenção de reverter a privatização da maioria do capital da Transportadora Aérea Portuguesa. Para Costa, a companhia é uma “garantia da independência nacional e da nossa inserção nos mercados globais”.

O líder socialista afirma que o regresso da maioria do capital da TAP ao Estado passa pela negociação com os compradores, questiona a forma como a negócio foi fechado e mostra-se duvidoso quanto aos alegados “custos sérios” que o processo pode ter.

Reportagem de Magda Rocha e Marcelo Sá Carvalho - RTP

“Sérios porquê?”, questiona. “O contrato não está fechado e os reguladores ainda não se pronunciaram”, recorda. O primeiro-ministro questiona ainda o processo.

“Se acha que foi assim tanto o dinheiro investido na TAP, o melhor é investigar o processo. Como e quanto dinheiro já foi investido pelos privados na TAP? E qual dos privados investiu esse dinheiro na TAP?”“Se acha que foi assim tanto o dinheiro investido na TAP, o melhor é investigar o processo. Como e quanto dinheiro já foi investido pelos privados na TAP? E qual dos privados investiu esse dinheiro na TAP?

O chefe de Governo diz ainda que o problema não está na “gestão da empresa”, mas “na garantia de que a maioria do capital é público”. “É a certeza de que a empresa continuará a existir. Nós só dizemos que 51 por cento do capital vai voltar a ser da TAP”.

Para António Costa, sem a TAP, os aeroportos portugueses têm muito a perder. “Lisboa deixará de ser o centro europeu da navegação aérea para a América Latina. Se deixar de servir o Porto, o Porto perderá grande parte das rotas que hoje o ligam o mundo”, sustenta.
 
Depois desta entrevista, o primeiro-ministro volta a falar publicamente esta noite. António Costa faz a sua primeira mensagem de natal enquanto primeiro-ministro. Uma declaração para ver a partir das 21h00 na RTP1.
pub