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por RTP
Dylan Martinez - Reuters

O presidente da República tem poucas alternativas e já tem uma ideia formada sobre elas desde há uma semana. Mas continua a fazer-se esperar.

Cavaco Silva tem uma primeira escolha, que geralmente se considera ser a sua primeira escolha - a de nomear Passos Coelho, como líder da força política mais votada nas eleições de 4 de Outubro.

Daí sairia um Governo PSD/CDS que tem, até ver, um "chumbo" prometido do seu programa, logo que o apresente no parlamento. BE e PCP anunciaram que apresentariam moções de rejeição desse programa, e o PS sinalizou a sua disposição para votar a favor das moções.
O Governo PSD/CDS não conseguiu até aqui atrair o líder socialista a uma maioria parlamentar, pela afirmativa, ou pela abstenção, nem quando lhe acenou com postos no Governo.

O líder do CDS reforçou ainda esse oferecimento, prometendo deixar a António Costa o lugar de vice-primeiro-ministro. E também esse reforço foi insuficiente para mover o líder do PS ou para cavar mais fundas as divisõesno seio do PS e para desestabilizar rapidamente a posição do seu secretário-geral.

A investidura de um Governo PSD/CDS tem, portanto, tudo para ser a de um Governo minoritário, com "chumbo" garantido no parlamento.

A segundo hipótese de Cavaco é, para o presidente, praticamente académica - desde logo pela sua conhecida antipatia pelos partidos que haviam de protagonizá-la.

Esta hipótese seria também a de um Governo minoritário, neste caso do PS, sem acordos de coligação à esquerda. Mas, ao contrário da primeira, esta teria garantida a aprovação do programa, por tudo o que já têm dito o líder comunista Jerónimo de Sousa e a líder bloquista Catarina Martins.

A explicação para a convergência socialista-bloquista-comunista foi avançada pelo ex-deputado social-democrata José Pacheco Pereira: a coligação PSD/CDS semeou na vida política tais anticorpos, que agora nem ficando em primeiro lugar consegue fazer passar o seu Governo no parlamento. E é mais fácil ao segundo partido mais votado obter a tolerância dos restantes.

Coloca-se, evidentemente, o problema de como essa convergência de rejeccionistas poderá manter-se, quando já não houver, para uni-los, nada mais que rejeitar. Em termos concretos, coloca-se o problema de saber como comunistas e bloquistas, tolerantes com o programa do Governo, poderão tolerar também um orçamento inspirado numa atitude reverencial perante a troika, tal como uns e outros classificam a atitude do PS.

Para esse problema estão, talvez, a esboçar-se respostas no que se vai sabendo sobre as negociações PS-BE e PS-PCP. Catarina Martins declarou em entrevista à jornalista Flor Pedroso, para a Antena 1, que as "discussões técnicas" têm tido uma fasquia elevada e ambiciosa: acordos de legislatura, quadrienais, portanto. Jerónimo de Sousa, mais contido, tem igualmente mostrado algum optimismo.

Para o presidente, estes sinais poderão ser insuficientes e tudo leva a crer que continue a preponderar o cepticismo que os comentadores afectos à sua área política geralmente justificam com uma questão substantiva: a dificuldade de conciliar em "reuniões técnicas" uma concepção globalmente favorável ao Memorando de Entendimento e as concepções à sua esquerda, que lhe são globalmente desfavoráveis.

O presidente em final de mandato não pode já disssolver a Assembleia ou convocar novas eleições e não se vê como poderia avançar para um Governo de iniciativa presidencial, tão abominado pela maioria de esquerda como o Governo PSD/CDS.

Restar-lhe-ia a possibilidade de deixar em funções um Governo de gestão, condenado a governar com duodécimos, com as consequências caóticas que essa metodologia inevitavelmente traz consigo.
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