Bloco de Esquerda. Oposição interna critica "ideia cosmética" com criação de nova secretária

As moções opositoras à atual direção do BE criticaram hoje a nova organização tripartida proposta pela lista de Pureza, classificando-a como uma "ideia cosmética" e avisando que "as `troikas` costumam correr mal".

Lusa /

Na apresentação de moções durante a 14.ª Convenção Nacional do BE, que decorre no pavilhão municipal do Casal Vistoso, em Lisboa, Nuno Pinheiro, da moção S, lamentou o atual "inverno do descontentamento", seja no mundo, no país e no partido, considerando que "é preciso transformá-lo em verão".

"Mas não será nenhum filho glorioso de York, para manter a fidelidade ao Shakespeare, ou do partido a fazê-lo. Nem sequer uma troika", disse, criticando a solução apresentada pela moção afeta à atual direção e avisando que "as troikas costumam correr mal".

Em causa está a proposta da moção A, afeta à atual direção, de uma nova forma de organização tripartida, que passa pela figura do coordenador - que deverá ser José Manuel Pureza, uma vez que a moção `A` elegeu 80% dos delegados à Convenção -, um deputado no parlamento -- que deverá ser Fabian Figueiredo, segundo nome na lista por Lisboa -, e uma terceira figura de secretária da organização, que será Isabel Pires.

Segundo o bloquista, o que se discute hoje "não são pessoas, não são coordenadores, não são secretários".

"O que estamos a discutir hoje é o que somos, o que queremos ser. Todas as moções dizem que temos que mudar, o Bloco tem de mudar, isso é unânime. Mas será que os que trouxeram o Bloco até aqui, que cometeram todos os erros que agora temos que corrigir, são capazes de fazer essa mudança?", questionou.

Nuno Pinheiro não acredita que a moção da atual direção seja capaz dessa mudança e por isso é que está na moção S, cuja lista à Mesa Nacional será liderada por Adelino Fortunato, que integra atualmente este órgão porque foi eleito na lista Mariana Mortágua na anterior convenção.

Em representação da moção B, Bruno Candeias alertou que "esta não pode ser mais uma convenção".

O bloquista criticou a moção afeta à direção por "largar novidades na imprensa", como a composição das listas aos órgãos nacionais, mas não só.

"Nos últimos dias, a inovação. Um lugar de secretária da organização que, pasme-se, «dialogue permanentemente com as estruturas locais». Uma ideia cosmética, pois a solução para um partido que se queira construir de baixo para cima não passa por comissários, passa por valorizar, confiar e conferir autonomia às bases", argumentou.

Bruno Candeias criticou "um partido centralizado, que esmagou minorias, com uma organização muitas vezes opaca, blindada à democracia e à participação".

"Um partido ziguezagueante que se institucionalizou, se afastou da vida real e que sempre olhou com desconfiança para as bases, para a sua autonomia, e quem tem a liberdade de pensar diferente", alertou.

À semelhança de outros bloquistas opositores, Bruno Candeias apelou a um maior enraizamento local do partido, "do bairro ao local de trabalho, do sindicato à associação", com "decisões democráticas, tomadas a partir de baixo".

Pela moção H, o bloquista Samuel Cardoso pediu uma outra organização interna e também criticou a atual direção.

"Não foi nos últimos dois ou cinco anos que a direção maioritária do BE privilegiou uma construção mediática do partido em detrimento da promoção de uma militância de alta intensidade. Ao fazê-lo esquecemo-nos que no BE não há heróis", alertou.

O bloquista salientou que nos últimos cinco anos a direção do Bloco "encarou a moderação como o caminho primordial", procurando por essa via "disputar a base social do Partido Socialista", caminho "que falhou".

Além do crescimento da extrema-direita, Samuel Cardoso avisou que "há um partido mais novo, com melhor imagem pública e menos escrutinado, que ocupa um espaço à esquerda do PS, embora marginalmente", numa alusão ao Livre, que tem crescido à esquerda.

Américo Campos, da moção C, considerou que "muitos erros cometidos desembocaram em vários desastres eleitorais", e acusou o partido de não se ter demarcado suficiente do Hamas, grupo terrorista, algo que "criou imensos prejuízos no plano político".

Ainda assim, Américo Campos afirmou que os 13 delegados eleitos pela moção C vão votar na moção A, "confiando que os seus dirigentes aprenderam com os erros do passado" e confessando que a figura de José Manuel Pureza foi determinante para a decisão.

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