Crise aeroporto. António Costa reunido com ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos

por RTP
Pedro Nunto Santos Luís Forra - Lusa

António Costa e Pedro Nuno Santos reuniram-se em São Bento durante cerca de 45 minutos. O ministro foi substituído pelo secretário de Estado Hugo Santos Mendes na reunião do Conselho de Ministros durante a manhã.

Pedro Nuno Santos deverá fazer uma declaração pelas 16h30 a partir do Ministério das Infraestruturas.

António Costa recusou até agora pronunciar-se sobre a sua desautorização de Pedro Nuno Santos, esperando-se um comunicado do gabinete do primeiro-ministro.

A crise política inesperada estalou depois da publicação quarta-feira à tarde de um despacho a decidir o futuro do novo aeroporto de Lisboa que causou frição entre o executivo e a presidência da República, os partidos com assento parlamentar e as associações ambientais.

Ausente do país, para a Cimeira da NATO em Madrid, o primeiro-ministro revogou esta manhã o despacho sobre o aeroporto, desautorizando o seu ministro. As reações imediatas apontaram a demissão de Pedro Nuno Santos.

O Bloco de Esquerda já disse que António Costa deve explicações sobre este "pântano político".
Um despacho polémico
A revogação do despacho do Ministério das Infraestruturas apanhou o país de surpresa, tanto como a anterior decisão de Pedro Nuno Santos.

Em causa, a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa, anunciado para Alcochete até 2035, com a construção de uma pista alternativa no Montijo até essa data para aliviar o aeroporto Humberto Delgado na Portela.

O primeiro-ministro determinou ao ministro das Infraestruturas e da Habitação a revogação do despacho sobre o Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa conforme comunicado enviado às redações.

António Costa referiu pretender ouvir a oposição antes de decidir a localização do novo aeroporto.

“O primeiro-ministro determinou ao Ministério das Infraestruturas e da Habitação a revogação do despacho ontem [quarta-feira] publicado sobre o novo aeroporto da região de Lisboa”, lê-se num comunicado hoje divulgado pelo gabinete de António Costa.

No comunicado, o primeiro-ministro “reafirma que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação previa ao Presidente da República”.

“Compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da ação governativa. O primeiro-ministro procederá, assim que seja possível, à audição do líder do PSD que iniciará funções este fim de semana para definir o procedimento adequado a uma decisão nacional, política, técnica, ambiental e economicamente sustentada”, acrescenta-se no comunicado.
As intenções do ministro
Na quarta-feira foi publicado em Diário da República um despacho assinado pelo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, sobre a "definição de procedimentos relativos ao desenvolvimento da avaliação ambiental estratégica do Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa".

Entre outras medidas, o despacho determina o "estudo da solução que visa a construção do aeroporto do Montijo, enquanto infraestrutura de transição, e do novo aeroporto stand alone no Campo de Tiro de Alcochete, nas suas várias áreas técnicas."

"Os riscos de uma infraestrutura aeroportuária com duas pistas de grande extensão na península do Montijo não obter autorização ambiental para avançar são hoje avaliados como muito elevados. Por este motivo, o Governo deixou, pois, de equacionar a opção Montijo stand alone como viável e, nesse sentido, merecedora de estudo aprofundado", lê-se na exposição de motivos.

O secretário de Estado das Infraestruturas considera que, "excluída esta última opção, a única solução aeroportuária que responde à exigência de dotar o país e a região de Lisboa de uma infraestrutura aeroportuária moderna com capacidade de crescimento a longo prazo é a construção de um aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete".

O Ministério das Infraestruturas divulgou que a nova solução aeroportuária para Lisboa passava pela construção de um novo aeroporto no Montijo até 2026 e por encerrar o aeroporto Humberto Delgado, quando estivesse concluído o de Alcochete, em 2035.

Segundo o Ministério das Infraestruturas, pretende-se acelerar a construção do aeroporto do Montijo - uma solução para responder ao aumento da procura em Lisboa, que será complementar ao aeroporto Humberto Delgado.

O Governo atribuiu ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil a elaboração do Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa e respetiva avaliação ambiental estratégica, o estudo da construção do aeroporto do Montijo, enquanto infraestrutura de transição, e do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete.

Na quarta-feira à noite, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, assumiu esta solução em entrevistas à RTP e à SIC Notícias.
Reações de surpresa
O presidente eleito do PSD, Luís Montenegro, “não foi informado de nada” sobre os planos do Governo para o novo aeroporto, disse à fonte próxima do antigo líder parlamentar, em resposta à agência Lusa.

O primeiro-ministro, António Costa, tinha afirmado no Parlamento, na semana passada, que aguardava a decisão do presidente eleito do PSD, Luís Montenegro, sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa para que houvesse “consenso nacional suficiente” tendo em vista uma decisão “final e irreversível” sobre esta matéria.

Interrogado pelos jornalistas sobre este assunto, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou desconhecer os "contornos concretos" da nova solução aeroportuária do Governo para a região de Lisboa, observando que "foi ajustada agora", e recusou comentá-la sem ter mais informação.

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