Eleições a 30 janeiro. Marcelo atacado à esquerda e poupado à direita

por RTP
Manuel de Almeida - Lusa

O Presidente da República anunciou a marcação das eleições legislativas antecipadas para 30 de janeiro do próximo ano. O PCP acusa Marcelo de privilegiar os interesses dos partidos de direita ao escolher uma data “incompreensivelmente tardia” e o BE insiste que as legislativas “não eram uma inevitabilidade”. O Iniciativa Liberal e Chega, por sua vez, mostram-se satisfeitos com a data.

O PCP foi o primeiro partido a reagir ao anúncio do chefe de Estado. O deputado comunista António Filipe diz ser incompreensível uma data tão tardia para as eleições legislativas e acusou Marcelo de escolher uma data que parece privilegiar os interesses dos partidos de direita.

“É uma data incompreensivelmente tardia e que entra em contradição com a própria declaração do Presidente da República de que devia haver uma clarificação da situação do país o mais rapidamente possível”
, disse António Filipe, acrescentando que dá a sensação de que a data foi escolhida “em nome de conveniências” de “candidaturas a lideranças partidárias”.
António Filipe sustentou que as eleições “podiam ser perfeitamente realizadas mais cedo”, como aconteceu com outros sufrágios, “designadamente para a Presidência da República”.

“Seria perfeitamente possível e adequado que as eleições tivessem lugar no dia 16 ou 23 de janeiro”, argumentou. O dia 16 foi a data que reuniu mais consenso entre os partidos com representação parlamentar durante as audiências com o Presidente da República, no último sábado.

O Bloco de Esquerda diz não querer criar guerras em relação à data de 30 de janeiro de 2022 para as eleições legislativas, mas afirmou que a dissolução do parlamento e a marcação de eleições não eram uma "inevitabilidade".

"Nós não desejamos eleições, queríamos um orçamento que não faltasse aos portugueses neste momento fundamental", disse Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE.

No entanto, para Pedro Filipe Soares “nenhum democrata pode ter medo de eleições” e, por isso mesmo, os bloquistas estão “disponíveis para fazer esse percurso”.
“Da mesma forma que ninguém percebeu que o senhor primeiro-ministro pretendesse fazer uma crise política para impedir a valorização de pensões, para garantir direitos a quem trabalha ou para faltar ao investimento necessário para uma garantia de qualidade do SNS, também creio que ninguém compreenderá que se faça uma guerra política em torno da data das eleições ser uma semana depois, uma semana antes”, respondeu quando questionado sobre a data escolhida.

Os Verdes também queriam eleições mais cedo. Mariana Silva, do PEV, declarou que foi dado a entender ao Presidente da República existirem outras ferramentas para lidar com o chumbo do orçamento e que a data marcada não é a mais rápida para eleições legislativas.

“Não se permitiu que as eleições fossem o mais rapidamente possível.
O dia 16 de janeiro, como tínhamos dito, era também uma possibilidade para que o próximo Orçamento do Estado possa entrar o mais rapidamente possível em funções”, referiu a deputada ecologista Mariana Silva, nos Passos Perdidos, na Assembleia da República.
A deputada disse parecer que “esta preocupação” de não haver um Orçamento do Estado o quanto antes “afinal já não é assim tão preocupante” e insistiu na mensagem transmitida durante as audiências com Marcelo Rebelo de Sousa.

“'Os Verdes' informaram o Presidente da República de que existiam outros instrumentos, e não só a dissolução do parlamento, depois do 'chumbo' do Orçamento do Estado”, disse.

O PAN sublinhou a urgência de haver um Orçamento do Estado “o quanto antes”, mas também salientou que é preciso tempo para que a Assembleia da República possa concluir processos legislativos em curso.
Inês de Sousa Real considera que a data escolhida por Marcelo Rebelo de Sousa “acautela que a campanha eleitoral não colide com o Natal ou Ano Novo e permite que todos os partidos possam “participar de forma democrática” no ato eleitoral.
PS diz que tudo fez para evitar crise política
O porta-voz do Partido Socialista declarou que o PS tentou a todo o custo evitar uma crise política tentando alcançar um acordo para a aprovação do Orçamento do Estado.


“Os partidos rejeitaram as propostas do Governo sabendo que o Presidente da República havia anunciado que convocaria eleições se o orçamento fosse reprovado”, observou logo a seguir.
Neste contexto político, José Luís Carneiro concluiu: “Compreendemos e respeitamos a decisão do senhor Presidente da República”.

O secretário-geral adjunto do PS apelou a uma “forte mobilização dos portugueses” às urnas, tendo em vista “garantir certeza, segurança e estabilidade - fatores essenciais à recuperação do país”.
Iniciativa Liberal e Chega satisfeitos com data
A Iniciativa Liberal considera que a marcação das legislativas para 30 de janeiro é “correta e razoável” para que haja um “cabal esclarecimento das opções que estão perante os portugueses”.

“Como dissemos desde o início, a Iniciativa Liberal estaria preparada para eleições qualquer que fosse a data, estamos habituados a trabalhar sobre pressão e com poucos recursos, mas entendemos que para um cabal esclarecimento das opções que estão perante os portugueses a data fixada pelo senhor Presidente da República de 30 de janeiro é uma data correta, uma data razoável”, declarou.

Cotrim de Figueiredo considerou ainda que na comunicação ao país, o chefe de Estado “fez três leituras que coincidem em tudo com o que a Iniciativa Liberal pensa também”.
“A primeira leitura é que a solução governativa que tivemos desde 2015 ruiu, ruiu por divergências bem mais profundas do que aquelas que resultavam apenas da discussão do Orçamento para 2022 e que, portanto, é urgente dar voz de novo aos portugueses”, enumerou.

A segunda, considerou, “é que a decisão que nessa eleição terá que ser tomada pelos portugueses merece uma campanha esclarecedora, que não é compatível com calendários que coincidam com a quadra festiva”.

“A terceira leitura é que chegados a uma situação de crise que ninguém desejava, a democracia tem sempre soluções e temos que encarar estas situações com normalidade, serenidade e com sentimento de esperança, também porque vamos ser chamados de novo a decidir sobre o nosso futuro coletivo”, sustentou.

O líder do Chega afirmou que 30 de janeiro não era a data que o partido pretendia, mas disse compreender os argumentos do Presidente da República. André Ventura reconheceu, por isso, que 30 de janeiro é uma “data aceitável” para as eleições legislativas por permitir que os debates televisivos não coincidam com a época festiva.

André Ventura considerou ainda que, na mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, o chefe de Estado “deixou claro, pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo” a “quem aponta o dedo por esta crise política”.
“Ao falar de divergência menores que se tornaram divergências maiores, (…)o Presidente da República deixa claro quem são os responsáveis pela crise política que estamos a viver, e esses responsáveis são o Governo do PS e os seus parceiros que, durante anos, viabilizaram o Orçamento: o PCP e o BE”, defendeu.

Para Ventura, o chefe de Estado “esteve bem ao chamar os portugueses novamente a votos” e afirma: “Da parte do Chega, estamos mais do que preparados”.
Rui Rio: "Presidente decidiu, está decidido, ponto final parágrafo"
Sobre a marcação das eleições para 30 de julho, o líder do PSD e recandidato ao cargo afirmou durante uma entrevista à TVI que "o Presidente da República decidiu, está decidido”, mas alertou que nunca haverá Orçamento do Estado antes de junho ou julho.

Questionado se vê nesta data algum favorecimento do seu adversário interno, Paulo Rangel, Rio não respondeu diretamente, frisando que sugeriu, tal como a maioria dos partidos, a data de 16 de janeiro como a mais indicada para as legislativas.

O presidente do PSD alertou que, com esta data, o Governo "vai tomar posse lá para meio de fevereiro" e terá três meses para apresentar o Orçamento.

"Não temos orçamento em vigor antes de junho, para não dizer julho", afirmou, dizendo que este período de crise política - entre 27 de outubro e 30 de janeiro - será "dos maiores de sempre", comparado com anteriores dissoluções.
CDS recusa congresso antes das legislativas
O CDS-PP recusou que o congresso eletivo dos centristas se realize antes das eleições legislativas, marcadas para 30 de janeiro, argumentando que o partido tem “apenas seis semanas” para se preparar e apresentar as listas.

“Eleições no dia 30 de janeiro significa que teremos de apresentar as listas fechadas no dia 20 de dezembro e por isso todos os nossos esforços, toda a nossa força anímica, todos os nossos recursos têm de estar absolutamente centrados na preparação de uma alternativa para oferecermos ao país e uma alternativa de programa político, de equipas, que permita recuperar a confiança de todos os eleitores que nos abandonaram as últimas eleições legislativas”, defendeu Cecília Anacoreta Correia, porta-voz do CDS.


A porta-voz centrista recusou também que a data escolhida pelo Presidente da República retire argumentos à direção para o adiamento do congresso. “O facto de as eleições serem a 30 de janeiro significa que temos apenas seis semanas para preparar todo um processo de campanha eleitoral, que é uma campanha particularmente importante para o nosso partido”, indicou.

c/Lusa
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