O almirante Gouveia e Melo apresentou-se formalmente aos portugueses como um dos candidatos a Belém nas Presidenciais de 2026, após meses de um quase tabu. Sob o lema "Unir Portugal", o agora candidato lança o seu nome para as Presidenciais na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.
Gouveia e Melo apresentou formalmente ao início desta noite, em Lisboa, a candidatura à Presidência, depois de ter confirmado a decisão de avançar para Belém em plena campanha eleitoral das últimas legislativas, o que lhe valeu fortes críticas.
A provar que nada é definitivo em política, o almirante e ex-chefe do Estado-Maior da Armada, lançado para o espaço político com a campanha de vacinação da Covid-19, dizia em 2021 num almoço do International Club of Portugal sobre uma eventual incursão na vida política que, "se isso acontecer, dêem-me uma corda para me enforcar".
Três anos e meio depois, em março deste ano, admitia pela primeira vez de forma clara a sua disponibilidade: "Não há dúvidas. Vou ser mesmo candidato".
"Portugueses, apresento-me diante de vós como candidato à Presidência da República (...) Estou aqui porque não posso ficar de braços cruzados", disse no início do seu discurso amplamente aplaudido a cada frase que proferia.
O almirante justifica a sua candidatura com o que diz ter sido, "nos últimos três anos, um apoio espontâneo, genuino e persistente" para avançasse.
Colocando um tom de missão no seu discurso, Gouveia e Melo aponta que no mundo "se veem nuvens carregadas de incerteza e de perigo no horizonte", com a guerra "a voltar ao coração da Europa destruíndo a ilusão de uma paz garantida" num cenário em que não se pode contar com o apoio dos Estados Unidos.
Apontando ameaças à democracia, o almirante Gouveia e Melo adverte que Portugal não está imune desta realidade "numa redoma protetora" e que "é por tudo isto por que aqui estou", no que vê como um seguimento da sua vida de missão na Marinha, disposto a defender "a pátria" em nome da "liberdade, da Constituição e dos interesses de todos os portugueses".
Lembrou as operações em que esteve envolvido, nomeadamente em Pedrógão e durante a Covid-19, "quando Portugal mais precisava de organização, confiança e liderança".
Diz que é agora esse tempo de o país ter "um presidente diferente, fiel ao povo que o elegeu". Instando os portugueses a não cederem "ao desânimo", o almirante lembrou o tempo das Descobertas.
O candidato acrescenta que Portugal precisa de um presidente "acima de disputas partidárias", que se faça ouvir "usando da palavra com contenção e propriedade". Gouveia e Melo prometeu respeitar os partidos, "pilares fundamentais da democracia, assim como a separação de poderes", tendo sempre em mente que o Presidente da República "não governa".
"Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um presidente diferente. Um presidente capaz de unir, de motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado. Um presidente estável, confiável e atento, acima de disputas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu", considerou.
"Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um presidente diferente. Um presidente capaz de unir, de motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado. Um presidente estável, confiável e atento, acima de disputas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu", considerou.
Gouveia e Melo lembrou depois o "percurso notável" que foi percorrido nos últimos 50 anos da democracia para dizer que é "este o Portugal que devemos proteger", mas um país que deve ainda fazer mais contra fragilidades como "a pobreza estrutural, uma economia frágil que precisa de crescer mais e distribuir melhor, uma justiça lenta, desigual e distante".
"Está na hora de cumprir, de reformar e de realizar", instou, pedindo "um país mais centrado nas pessoas". Destacou aqui a necessidade de se apostar na tecnologia, inovação e transformação digital, defendendo a reforma da Administração Pública e da Justiça. Sobre o seu próprio campo, o almirante e ex-CEMA "apontou uma defesa sem alarmismos mas sem ingenuidades".
O almirante na reserva encerrou depois com a garantia de cumprirá "com lealdade as funções que a Constituição" confia ao Chefe de Estado: "defender a independência nacional; garantir o funcionamento das instituições democráticas; ser árbitro e moderador; promover a coesão nacional - que é mais do que território, é pertença, é identidade; e representar Portugal com orgulho e com dignidade".
"Vamos fazer do futuro de Portugal a nossa causa comum", concluiu.
Quem é o candidato Gouveia e Melo?
Henrique Gouveia e Melo, 64 anos, teve uma longa carreira militar e destacou-se publicamente no combate à pandemia covid-19, antes de chefiar a Marinha.
Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, a 21 de novembro de 1960, onde viveu durante a adolescência antes de a família se mudar para o Brasil após o 25 de Abril de 1974.
Numa entrevista ao jornal "Nascer do Sol", em junho de 2021, relatou que o pai, advogado e "um liberal da área socialista", receava que o regime português se transformasse numa "ditadura comunista", justificando a ida para o Brasil. Contudo, após o 25 de novembro de 1975, a família regressou "logo a Portugal".
Em 1979, Gouveia e Melo, que se definiu na mesma entrevista como "um estudante preocupado" que "tinha algum sucesso" com raparigas e só bebeu uma cerveja toda a vida, ingressou na Escola Naval, depois de, segundo o próprio, não ter sido admitido na Força Aérea por ser demasiado alto para entrar num `cockpit`.
Com 24 anos, integrou a esquadrilha de submarinos, - onde viria a passar 31 dias seguidos submerso e mais tarde a integrar a primeira missão de um submarino convencional debaixo do Ártico, - tendo exercido diversas funções militares ao longo de uma carreira de mais de quarenta anos ao serviço das Forças Armadas, na qual frequentou vários cursos e se especializou em Comunicações e Guerra Eletrónica.
De 2017 a 2020 foi Comandante Naval, tendo liderado um destacamento de militares que auxiliou a população após os incêndios de Pedrógão Grande.
Em 2020, tomou posse como adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo que exercia quando no ano seguinte foi escolhido para coordenar a `task force` para a vacinação contra a pandemia da covid-19.
Foi nestas funções que se destacou publicamente, estando ativamente envolvido no planeamento das ações conjuntas das Forças Armadas no terreno e em apoio às autoridades de saúde.
No mesmo dia em que anunciou que o trabalho da `task force` tinha chegado ao fim, em setembro de 2021, a Lusa noticiou a intenção do Governo de propor ao Presidente da República a exoneração do então chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado, que seria substituído, antes do final do seu mandato, pelo ainda vice-almirante.
Após um processo polémico, Gouveia e Melo chegaria a chefe da Marinha em 27 de dezembro de 2021, sendo promovido a almirante, cargo que ocupou até 2024, ano em que decidiu passar à reserva.
Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, a 21 de novembro de 1960, onde viveu durante a adolescência antes de a família se mudar para o Brasil após o 25 de Abril de 1974.
Numa entrevista ao jornal "Nascer do Sol", em junho de 2021, relatou que o pai, advogado e "um liberal da área socialista", receava que o regime português se transformasse numa "ditadura comunista", justificando a ida para o Brasil. Contudo, após o 25 de novembro de 1975, a família regressou "logo a Portugal".
Em 1979, Gouveia e Melo, que se definiu na mesma entrevista como "um estudante preocupado" que "tinha algum sucesso" com raparigas e só bebeu uma cerveja toda a vida, ingressou na Escola Naval, depois de, segundo o próprio, não ter sido admitido na Força Aérea por ser demasiado alto para entrar num `cockpit`.
Com 24 anos, integrou a esquadrilha de submarinos, - onde viria a passar 31 dias seguidos submerso e mais tarde a integrar a primeira missão de um submarino convencional debaixo do Ártico, - tendo exercido diversas funções militares ao longo de uma carreira de mais de quarenta anos ao serviço das Forças Armadas, na qual frequentou vários cursos e se especializou em Comunicações e Guerra Eletrónica.
De 2017 a 2020 foi Comandante Naval, tendo liderado um destacamento de militares que auxiliou a população após os incêndios de Pedrógão Grande.
Em 2020, tomou posse como adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo que exercia quando no ano seguinte foi escolhido para coordenar a `task force` para a vacinação contra a pandemia da covid-19.
Foi nestas funções que se destacou publicamente, estando ativamente envolvido no planeamento das ações conjuntas das Forças Armadas no terreno e em apoio às autoridades de saúde.
No mesmo dia em que anunciou que o trabalho da `task force` tinha chegado ao fim, em setembro de 2021, a Lusa noticiou a intenção do Governo de propor ao Presidente da República a exoneração do então chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado, que seria substituído, antes do final do seu mandato, pelo ainda vice-almirante.
Após um processo polémico, Gouveia e Melo chegaria a chefe da Marinha em 27 de dezembro de 2021, sendo promovido a almirante, cargo que ocupou até 2024, ano em que decidiu passar à reserva.
c/ Lusa