"Há aqui uma esquerda que disputa a política de sempre do PS e do PSD". O discurso de Mariana Mortágua

por Andreia Martins - RTP
António Cotrim - Lusa

No discurso de aclamação como nova coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua definiu como primeiros objetivos voltar a ter representação parlamentar na Madeira e ser a terceira força política nas eleições europeias de 2024, ultrapassando Chega e Iniciativa Liberal.

A nova líder do Bloco de Esquerda já estabeleceu os primeiros objetivos a cumprir, logo no discurso de consagração após a vitória na XIII Convenção Nacional do partido.

Nas eleições regionais da Madeira, já este ano, o Bloco pretende fazer oposição a Miguel Albuquerque com a eleição de roberto Almada para o Parlamento regional, a partir de outubro.

Já a pensar nas eleições europeias do próximo ano, Mariana Mortágua definiu também como objetivo ser “a terceira força política” e “ultrapassar o Chega e a Iniciativa Liberal”.
Mas, para além da direita, dedicou também algumas palavras ao centro: “Há aqui uma esquerda que disputa a política de sempre do PS e do PSD", vincou.

Num discurso de quase 40 minutos, a nova coordenadora do Bloco de Esquerda elencou vários dos problemas do país, com críticas ao Governo de António Costa. Garantiu que os adversários do partido “ainda não viram nada”.

"Estes 24 anos são só o começo do Bloco de Esquerda", referiu.

"Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado, já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir", afirmou.

A sucessora de Catarina Martins à frente do Bloco de Esquerda considerou que está em curso uma “degradação da vida pública” em Portugal e que importa não deixar a política “entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem”.

Com palavras duras para o atual executivo, Mariana Mortágua criticou o “novo ciclo de incertezas em que se instalou um poder absoluto que só parece preocupado em sobreviver ao dramalhão do quarto andar de um Ministério”.

A nova Comissão Política do Bloco de Esquerda conta com Catarina Martins, ex-coordenadora do partido, Pedro Soares, a voz mais sonante da oposição interna, o eurodeputado José Gusmão, o ex-deputado Moisés Ferreira e o historiador Miguel Cardina.“As patologias do poder transforaram a política num triste entretenimento”, afirmou a líder bloquista.

Entre várias interrupções com aplausos e ovações, Mariana Mortágua considerou que o atual momento político é causa de "embaraço nacional" e que o aclamado "milagroso crescimento económico é um logro". 

"Não há pior vício neste governo do que festejar triunfos que são um tormento para as pessoas. Os salários e as pensões ficam mais pequenos mas o Governo pede-vos que agradeçam o excedente orçamental. Os serviços públicos definham, mas por favor deem palmas ao PRR. Morar em Lisboa é mais caro que morar em Madrid ou em Milão, mas aplaudam o crescimento económico", criticou. 

Mariana Mortágua criticou ainda "o medo deste governo que é mau dê lugar a outro que é péssimo". Alertou que este é "um jogo perigoso". "Mais tarde ou mais cedo, onde reina o medo, o pior acontece mesmo", acrescentou.

"Quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia. Está a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia", vincou a nova líder do Bloco de Esquerda.

Tal como no discurso de apresentação da moção à XIII Convenção Nacional, Mariana Mortágua comprometeu-se em lutar por uma "vida boa" para os portugueses. Recusou que seja um "acesso romântico", mas apenas "não aceitar que viver pior seja o nosso destino", criticando os "remendos" aos serviços públicos do país nos últimos anos.

"Quando o mais elementar bom senso parece radical então é porque é altura de ter bom senso", considerou.

No discurso de aclamação, Mariana Mortágua não deixou de dedicar algumas palavras à família, incluindo à irmã, Joana Mortágua, e ao pai, Camilo Tavares Mortágua.

"Herdámos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura", afirmou. Prometeu lutar contra "vampiros que querem resgatar o ódio salazarento e tentam enxovalhar essa geração que os derrubou no passado".

Deixou ainda largos elogios à "força imparável" de Catarina Martins, que liderou o Bloco de Esquerda nos últimos anos. Lembrou várias das lutas recentes e bandeiras do partido, com destaque para a aprovação da lei da Eutanásia, aprovada este mês de maio após uma longa caminhada legislativa.
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