Marcelo eleito Presidente da República

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Mário Cruz - Lusa

Era uma luta de Marcelo Rebelo de Sousa contra todos, mas o professor conseguiu evitar a segunda volta nas Presidenciais com uma votação de 52 por cento. Apesar de contrariarem a tese de que a eleição seria um passeio no parque, são números que garantem a Marcelo a sucessão a Cavaco Silva em Belém como quinto Presidente da democracia. Da noite eleitoral ficam ainda os números de Sampaio da Nóvoa que, com 22,89 por cento, cimentou o segundo lugar disputado com uma Maria de Belém caída para quarta posição (4,24 por cento), atrás de uma das surpresas deste domingo: Marisa Matias, a candidata do BE, garantiu uma votação substancial de 10,13 por cento.

Confirmando as sondagens da última semana de campanha, Marcelo Rebelo de Sousa arrecadou a eleição como Presidente da República, para se tornar no quinto chefe de Estado do pós-25 de Abril (os anteriores, Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, todos eles conseguiram ser reeleitos).
Uma luta a três que foi a dois
Contra Marcelo, perfilaram-se como adversários diretos Maria de Belém Roseira e Sampaio da Nóvoa. Os dois candidatos quebraram a unidade socialista, com o PS a nunca decidir qual era o seu favorito nestas presidenciais. Para o sufrágio deste domingo estavam inscritos 9.741.792 eleitores, mais 85.318 do que em 2011.

A abstenção foi de 51,16 por cento, não muito distante da mais alta taxa de abstenção em presidenciais, registada na reeleição de Cavaco Silva, a 23 de janeiro de 2011, com 53,56 por cento dos eleitores a optarem por não ir às urnas.


Em consequência ouviram-se declarações fratricidas que poderão ter baralhado as intenções de voto de um certo centro-esquerda.

Nóvoa fez entretanto uma corrida de trás para a frente, para assumir em definitivo, a escassos dias do escrutínio, a função de adversário de Marcelo.

Em sentido inverso, Maria de Belém, afetada por várias polémicas (como seria o caso, nomeadamente, da polémica em torno das subvenções aos políticos) ameaça um desastre eleitoral.

Entretanto, indiferente às querelas socialistas, Marcelo prosseguiu numa campanha em que decalcou parte da estratégia de Mário Soares, quando, em 1985, largou por algum tempo a mão da esquerda socialista para ir pescar votos à direita que deveria eleger Freitas do Amaral.“Pela minha parte, assumindo a derrota eleitoral, procurei durante a campanha, dar o meu contributo para o debate político e o aprofundamento da democracia”, afirmou Maria de Belém.

Foi uma estratégia que não deixou de criar algum mal-estar no eleitorado natural de Marcelo e que teve reflexos nos números do ex-comentador.

A correr contra todos os outros candidatos, com a esquerda apostada numa segunda volta a congregar o voto anti-Marcelo, o professor e ex-comentador nunca chegou a recuperar os números fortes, na casa dos sessenta por cento, mas garantiria ao final desta noite de domingo a percentagem suficiente que lhe abre as portas do Palácio de Belém.

A corrida a Belém foi entregue por Nóvoa – à boa maneira norte-americana – pouco faltava para as 21h00: “A partir de hoje Marcelo Rebelo de Sousa é o meu Presidente e o de todos os portugueses”.

Questionado sobre se acredita que Marcelo Rebelo de Sousa será um Presidente isento, Nóvoa disse que sim: “Espero muito e confio muito nisso. Acredito”.
Marcelo triunfal no átrio da Academia

E não estava ainda acabada a contagem da totalidade dos votos introduzidos em urna, já Marcelo Rebelo de Sousa fazia uma entrada triunfal na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: “É natural que queira a partir daqui partilhar com todos a alegria desta eleição e a responsabilidade do mandato que os portugueses acabam de me confiar. É um gesto simbólico de profundo reconhecimento para com esta faculdade”.

“A Faculdade de Direito deu-me quase tudo o resto e deu-me muito: a convicção da importância da educação e da investigação, a ideia do serviço público, a noção de que o futuro se constrói a aprender, a ensinar, a conviver, a partilhar o conhecimento”.
Sampaio da Nóvoa:
“Também agora quero contribuir para esta união em torno do povo português, sem hesitações, sem reticências e com uma profunda convicção democrática”.

Depois do gesto para com a instituição onde é professor catedrático, voltaria o discurso para os portugueses, para sublinhar que “é o povo quem mais ordena. Foi o povo que quis dar-me a honra e eleger-me Presidente da República de Portugal”.

Já no fato de estadista, Marcelo fez o elogio à coragem dos restantes candidatos – não adversários mas oponentes – ao terem-se apresentado à corrida a Belém, garantindo assim ser seu desejo fomentar a unidade nacional: “Quanto mais coesos formos, mais fortes seremos”.

O agora eleito Chefe de Estado sublinhou esse desejo de fomentar a unidade nacional, promover convergências políticas, política de consenso e um frutuoso relacionamento entre órgãos de soberania e agentes políticos, económicos, sociais e culturais.

Quanto ao exercício da governação, Marcelo garante que é o Presidente “o primeiro a querer que o Governo governe com eficácia e que a oposição cumpra o seu papel”.

“O Presidente da República é o primeiro a querer que o Governo governe com eficácia e com sucesso, porque isso é importante para o sucesso de Portugal. Do mesmo modo é indispensável que a oposição seja ativa e representativa, porque do seu contributo e do seu escrutínio se faz igualmente a força da democracia”, propugnou Marcelo como uma das matrizes do seu mandato.

Marcelo Rebelo de Sousa tomará posse como Presidente da República a 9 de março, data em que Cavaco Silva irá abandonar o cargo que ocupou nos últimos dez anos.
Costa promete máxima lealdade

António Costa foi escasso em palavras, falando a partir da residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, já depois do discurso de vitória de Marcelo, para deixar a garantia de máxima lealdade ao Presidente eleito e “plena cooperação institucional”.

“Em nome do Governo, quero felicitar o senhor professor Marcelo Rebelo de Sousa como vencedor das eleições presidenciais e formular votos sinceros dos maiores sucessos no exercício do mandato que hoje lhe foi conferido pelos portugueses. Ao Presidente da República agora eleito quero reafirmar o compromisso de máxima lealdade e plena cooperação institucional que tive a oportunidade de expressar aquando da tomada de posse do atual Governo”.

Após as felicitações ao professor pela sua eleição para Presidente da República, o primeiro-ministro congratulou-se ainda com a fraca expressão das candidaturas populistas.
Cavaco deseja “os maiores sucessos”
Os cumprimentos do Presidente cessante ao seu sucessor foram transmitidos por telefone, de acordo com a Lusa, que escutou uma fonte oficial da Presidência da República.

Segundo essa fonte de Belém, o Presidente Cavaco Silva desejou a Marcelo Rebelo de Sousa “os maiores sucessos no exercício de funções de grande exigência e fundamental importância para o futuro de Portugal e dos portugueses”.

Cavaco transmitiu ainda as “suas felicitações pelo êxito alcançado na eleição para a Presidência da República Portuguesa”.
“Autoridade inequívoca”
A partir da sede do PSD, Passos Coelho felicitou Marcelo Rebelo de Sousa por aquilo que considerou ser uma vitória com um resultado que lhe concede uma “autoridade inequívoca”, uma vitória “como de resto era o desejo do PSD”.

O ex-primeiro-ministro e líder do PSD lembrou que o papel de um Presidente da República não é o de sobrepor aos partidos mas estar além deles, bem como de colaboração institucional.

Nesse sentido, disse ter a certeza de que esse papel será desempenhado por Marcelo Rebelo de Sousa “de acordo com os princípios do que constitucionalmente cabe a um Presidente da República”.
Ferro felicita Marcelo
Ferro Rodrigues enviou também ele a Marcelo Rebelo de Sousa uma felicitação pela eleição para Presidente da República. “Nesta ocasião, não quero deixar de saudar todos os portugueses pelo ambiente absolutamente democrático e pacífico em que se realizou esta eleição”.

“Acabo de cumprimentar e felicitar pessoalmente o professor Marcelo Rebelo de Sousa pela sua eleição. Desejei ao Presidente da República eleito um mandato de sucessos”, refere a nota do presidente da Assembleia da República.

O presidente da Assembleia da República prometeu empenho com “com toda a lealdade pessoal e institucional para um bom e articulado trabalho entre órgãos de soberania”.
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