Entrevista a Miranda Sarmento. Rejeição de moções de censura significa que "Parlamento entende que Governo pode continuar"
Questionado sobre se tal posição não equivale a remeter ao Parlamento a responsabilidade por uma questão que diz respeito ao primeiro-ministro, Miranda Sarmento disse que a Assembleia “é a quem o Governo responde”. E que dirá novamente que o Executivo “tem todas as condições para continuar a governar”.
Já sobre se o Governo assume que, caso a moção de censura do PCP seja chumbada, já não irá apresentar uma moção de confiança, o ministro insistiu que a rejeição de “duas moções de censura” significa que o “Parlamento entende que o Governo pode continuar a governar e, nesse sentido, não há uma justificação para uma moção de confiança”.
“Se o Parlamento entendesse que o Governo não tinha condições para continuar a governar, a moção de censura de há uma semana ou a que será discutida dentro de alguns dias passaria- não foi e, aparentemente, não será o caso. Portanto, o Parlamento (…) dirá que o Governo tem todas as condições para governar”, repetiu.
Sobre os esclarecimentos aos portugueses, Miranda Sarmento considera que o primeiro-ministro foi claro “naquilo que eram as suas obrigações”.
“Tudo o que o primeiro-ministro tem, do seu património pessoal e familiar, está totalmente declarado. Não há aqui nada que não seja conhecido desde que é presidente do PSD. (…) O primeiro-ministro foi claro perante os portugueses e o que nos compete, depois do chumbo de duas moções de censura, é continuar a governar”.
“Acho que o país não quer eleições”, disse ainda, sem confirmar se há estabilidade política no Parlamento. “O PS, ao chumbar a moção do PCP, diz que o Governo tem condições para continuar”, carregou.
Moção de censura do PCP esbarra no PS de Pedro Nuno Santos
Foto: Pedro Sarmento Costa - Lusa
"O Partido Socialista não será responsável nem fator de instabilidade política em Portugal, mas queremos ser muito claros sobre o desafio do primeiro-ministro: se o primeiro-ministro apresentar uma moção de confiança no Parlamento, o Partido Socialista chumbará essa moção de confiança", indicou Pedro Nuno Santos.
Questionado sobre a iniciativa do PCP, que anunciou uma moção de censura, o secretário-geral do PS disse lamentar que "o Partido Comunista tenha mordido o isco lançado pelo Governo".
"Ora, o Partido Socialista já disse e eu próprio já o disse várias vezes que também não viabilizaremos uma moção de censura. Nós não viabilizámos a última moção de censura apresentada e discutida no Parlamento e obviamente não viabilizaremos também esta moção de censura", rematou.
Bloco de Esquerda "não tem confiança" no Governo
Foto: Manuel de Almeida - Lusa
"O primeiro-ministro perguntou se [os partidos] tinham confiança no Governo. E eu quero dizer claramente: não temos", declarou.
O BE, repetiu, "não tem confiança nos negócios do primeiro-ministro", nem nas explicações, nem na governação.
"Votaremos contra uma moção de confiança", acrescentou. "Não temos confiança num primeiro-ministro que acha que pode chantagear a Assembleia da República e o país, dizendo que prefere uma crise política a prestar esclarecimentos".
"Não temos confiança num primeiro-ministro que foge aos seus deveres, às suas responsabilidades, aos esclarecimentos que tem de dar. A forma que tem de fugir a essas responsabilidades é ameaçar com uma crise política, ameaçar um novo momento de instabilidade".
CDS acredita que "não há nenhuma razão para uma crise política"
Foto: Tiago Petinga - Lusa
O CDS reafirma, assim, "o apoio ao Governo, que integra com lealdade".
"É tempo das oposições clarificarem se desejam uma crise política e eleições antecipadas, no exato momento em que o mundo vive momentos difíceis, preocupantes e potenciadores de instabilidade".
Segundo o partido, compete agora ao PS e à IL decidir se apoio a moção de censura do PCP, "trazendo a Portugal uma instabilidade totalmente irresponsável".
"O CDS estará, como sempre, do lado da estabilidade e dos portugueses".
PAN "dificilmente poderá acompanhar favoravelmente moção de confiança"
Foto: Pedro A. Pina - RTP
O PAN, por isso, "dificilmente poderá acompanhar favoravelmente uma moção de confiança ao Governo". Por outro lado, o partido não confunde "uma moção de censura apresentada por outra força política daquela que foi apresentada pelo Chega" que, segundo a porta-voz, "foi um show-off mediático, que visava afastar os casos e casinhos" internos.
"Acredito que, dificilmente, Luís Montenegro verá repetido o cenário de uma rejeição total da moção de censura".
"Luís Montenegro não compreendeu ainda a gravidade da situação"
Foto: Nuno Patrício - RTP
PCP anuncia moção de censura ao Governo
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"Eis-nos de novo mergulhados numa crise política", conclui Livre
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"E essa falta de confiança agravou-se ainda hoje porque ele não tomou nenhum dos caminhos que permitiria, ao menos, tentar sanar a situação", vincou.
"Não podemos ter um primeiro-ministro suspeito", reage Ventura
Foto: José Coelho - Lusa
"Para ser aprovada, uma moção de confiança no Parlamento terá de ter os votos do Chega ou do Partido Socialista. Não reuni a direção nacional do partido, não reuni os órgãos do partido e à hora a que vos falo esta declaração acabou de ser feita. Não creio que tenha de o fazer para expressar o unânime, consensual e incontornável sentimento de que é impossível viabilizar a confiança de um primeiro-ministro com este grau de suspeição sobre si próprio", enfatizou.
Comunicação ao país. A análise da intervenção do primeiro-ministro
"Crise política deve ser evitada mas é preciso dizer que pode vir a ser inevitável"
“A crise política deve ser evitada, mas também é preciso dizer que poderá a vir a ser inevitável”, declarou.
“Que não reste nenhuma dúvida: estou aqui desde a primeira hora em exclusividade total de dedicação à função de coordenação da ação do Governo e de representação de Portugal". "Repito: em exclusividade total”.
Lamentando a exposição a que foi sujeito, tal como a minha família, "chegou a um limite que nunca esperei”, admitiu continuar "sempre disponível para um escrutínio saudável e democrático".
"Não será por isso que fugirei à minha responsabilidade, mas não estarei aqui a qualquer custo: a situação política tem de ser clarificada sem manobra táticas e palacianas”. Comunicação do primeiro-ministro ao país na íntegra
Quanto à empresa familiar, anunciou que será totalmente detida e gerida pelos filhos e que "mudará a sua sede e seguirá o seu caminho na esfera da vida deles”.
“Em termos políticos e governativos, insto daqui os partidos políticos representados na Assembleia da República a declarar, sem tibiezas, se consideram, depois de tudo o que já foi dito e conhecido, que o Governo dispõe de condições para continuar a executar o programa do Governo, como resultou há uma semana da votação da moção de censura. Sem essa resposta, a clarificação política exigirá a confirmação dessas condições no Governo. O que, por iniciativa do Governo, só pode acontecer com a apresentação de uma moção de confiança”.
O Governo e o primeiro-ministro, disse o próprio, estão "para assegurar a estabilidade" e para focados na resolução dos reais problemas dos portugueses.
“Só estaremos cá com a vossa confiança e com a vossa legitimação. (…) Sinto que é a vontade maioritária dos portugueses que o governo continue a executar o seu programa, mas cabe à Assembleia da República (…) interpretar também a vontade dos portugueses. E é esse apelo que daqui também lançamos”, terminou.
"Temos um país em movimento"
Contudo, acusou o principal partido da oposição de "fomentar a desconfiança e a especulação, a insinuação mesmo”.
"Não se fala de outra coisa", lamentou, apontando dedos mais uma vez à oposição, mas recordando que “Portugal está forte e recomenda-se”. “Temos um país em movimento”, garantiu, enumerando as ações políticas e económicas dos últimos dias.
Primeiro-ministro garante que não praticou "nenhum crime"
"Está tudo nas minhas declarações de interesse”.“Não pratiquei nenhum crime, nem tive nenhuma falha ética”, sublinhou.
Falando em particular sobre a empresa familiar, na qual os filhos e a mulher são "sócios desde o primeiro dia", Montenegro questionou se "seria justo e até adequado fechar tudo, abandonar tudo, só porque circunstancialmente" foi eleito presidente do PSD e primeiro-ministro.
"Pergunto se tenho direito de os privar a trabalhar por causa da minha atividade política”, deixou a questão, frisando que "se o nosso sistema político não aceita nem controla a conciliação familiar e a vida politica, nós vamos ter políticos sem passado e ter políticos sem futuro profissional”.
“Nunca cedi a nenhum interesse particular, face ao interesse público e ao interesse geral. E assim vai continuar a ser: sempre que houver qualquer conflito de interesses por razões pessoais ou profissionais, não participarei nos respetivos processos decisórios”, assegurou.
"Por mais que se explique, nunca quem não quer entender vai dizer que entendeu"
"Prestei todos os esclarecimentos que eram devidos"
O primeiro-ministro começou por lembrar que o assunto já tinha sido debatido na semana passada na Assembleia da República que “reprovou uma moção de censura”.
“Nessa ocasião, prestei todos os esclarecimentos que eram devidos, dentro dos limites que devia respeitar sobre a informação de terceiros”, afirmou, acrescentando que partilhou inclusive os rendimentos dos últimos 15 anos.
O primeiro-ministro apresentou a empresa familiar que criou e dinamizou com os filhos: “Dei o enquadramento da sua conceção, do seu objeto e da sua atividade”.
“Expliquei a evolução da sua faturação, o perfil dos seus clientes ocasionais e permanentes e, sobretudo, destaquei aquele que é o trabalho que presta a estes últimos na base da qualificação, experiência e especialização da sua estrutura e colaboradores”.
Mas, segundo Montenegro, “os esclarecimentos não foram suficientes”. “Nunca serão suficientes”.
“Divulgaram-se, entretanto, os nomes dos clientes e dos colaboradores regulares, valores de prestação de serviços e em cima disso, claro, lançaram-se e alimentaram-se especulações para que o assunto nunca se encerrasse e se criassem novas insinuações e novos pedidos de esclarecimento, sempre sob um culto de gravidade e suspeição sobre o primeiro-ministro”.
“É um ciclo vicioso que muitos desejam e muitos não querem sair”, criticou.
20h01. Aguarda-se a comunicação do primeiro-ministro ao país
Luís Montenegro já se encontra no local da reunião extraordinária do Executivo
Luís Montenegro prepara-se para falar ao país às 20h00. Sabe-se já que não haverá lugar a perguntas dos jornalistas.
Conselho de Ministros a começar com uma hora para lá do momento inicialmente apontado
Antes do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro esteve reunido com o seu núcleo mais restrito.
18h30. Conselho de Ministros ainda não começou
Cerca das 16h00, além de Leitão Amaro, ministro da Presidência, e Hugo Soares, líder parlamentar e secretário-geral do PSD, também Leonor Beleza, primeira vice-presidente laranja, entrou na residência oficial do primeiro-ministro.
17h49. Ministros começam a chegar a São Bento
Conselho de Ministros extraordinário em São Bento
Primeiro-ministro fala ao país a partir das 20h00
Antes da declaração de Luís Montenegro, realiza-se, no mesmo local, uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.
Foi na manhã de sexta-feira que Montenegro decidiu convocar o Executivo, após o jornal Expresso ter noticiado que o grupo de casinos e hotéis Solverde, com sede em Espinho, paga à empresa da família do primeiro-ministro, a Spinumviva, uma avença mensal de 4.500 euros desde julho de 2021, remunerando assim "serviços especializados de compliance e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais". A oposição criticou em bloco a situação que envolve a Spinumviva, exigindo esclarecimentos por parte do chefe do Governo. O Chega defendeu que Montenegro deve demitir-se ou apresentar uma moção de confiança e o BE aventou a possibilidade de propor uma comissão de inquérito.
No Porto, quando se preparava para receber o presidente francês, Emmanuel Macron, na Câmara Municipal, Luís Montenegro prometeu "uma avaliação profunda" das condições pessoais, familiares e políticas, remetendo para este sábado uma comunicação destinada, nas suas palavras, a "encerrar este assunto de vez".
"Amanhã às 20h00 horas comunicarei ao país as minhas decisões pessoais e políticas sobre esta matéria para que o Governo possa governar, concentrar toda a sua atenção, toda a sua disponibilidade, a servir o interesse do país e dos portugueses", afirmava ao final da manhã de sexta-feira.
O primeiro-ministro diria também não ter "nenhum problema" em ver "revelados" os clientes da Spinumviva, acrescentando que deveriam ser os próprios a fazê-lo.
Pouco depois, a própria Spinumviva revelou os nomes dos clientes permanentes, os ramos de atividade e os nomes dos seus trabalhadores, adiantando ainda que os serviços prestados variaram entre mil e os 4.500 euros.
c/ Lusa
Empresa familiar. Montenegro promete "avaliação pessoal e política" e reúne Conselho de Ministros
O jornal revela que a avença mensal é paga à Spinumviva pelo grupo de casinos e hotéis desde julho de 2021.Os pagamentos dizem respeito a serviços especializados de elaboração de procedimentos e cumprimento das leis específicas sobre proteção de dados pessoais.
Segundo o Expresso, esta ligação é relevante porque Luís Montenegro trabalhou para o grupo Solverde, sediado em Espinho, entre 2018 e maio de 2022.
Na altura, terá sido mesmo o representante do grupo nas negociações com o Estado que resultaram numa prorrogação do contrato de concessão dos casinos de Espinho e do Algarve. Este contrato termina no final deste ano e o Governo terá de decidir se o renova.
A notícia de que o grupo Solverde paga uma avença de 4.500 euros por mês à empresa da família de Luís Montenegro já levou alguns partidos da oposição a exigir a demissão do primeiro-ministro, ou a instá-lo desligar-se da empresa da família.
Em comunicado, o conselho de administração do grupo conta que entre abril 2018 e maio de 2022, a sociedade de advogados SP&M, Sociedade de Advogados, SP, RL (“SPM”), “representada pelo Senhor Dr. Luís Montenegro e respetiva equipa, prestou à Solverde serviços jurídicos em várias áreas do direito”.
Pedro Nuno acusa Montenegro de contribuir para degradação das instituições
Partidos aguardam explicações de Luís Montenegro
Spinumviva divulgou os nomes dos cinco clientes com vínculo permanente
Advogada da Spinumviva tem domicílio profissional na empresa de Hugo Soares
Foto: Sérgio Vicente - RTP
A empresa familiar de Montenegro divulgou ontem os nomes dos dois colaboradores da empresa, mas optou por não colocar o nome profissional da advogada. Identificou-a apenas por Inês Patrícia.
Na base de dados da Ordem dos Advogados é possível perceber que Inês Varajão Borges é advogada desde 2018, o mesmo ano em que o comunicado da Spinumviva diz que passou a ser "consultora jurídica de organizações e empresas".
A advogada garantiu ao Observador que não tem qualquer participação em nenhuma sociedade de advogados, nem qualquer vínculo com a empresa do secretário-geral do PSD.
Para além do percurso profissional, Inês Varajão Borges está também ligada ao Partido Social-Democrata.
A advogada foi presidente do Conselho de Jurisdição Nacional da JSD durante a liderança de Alexandre Poço e é também casada com João Rodrigues, que vai ser o candidato à sucessão de Ricardo Rio, na Câmara de Braga.
Empresa da família de Montenegro quer proteger o bom nome da Spinumviva
Cronologia da polémica em torno da empresa de Luís Montenegro
Foto: António Cotrim - Lusa
Esta é uma boa altura para andarmos com a máquina do tempo para trás e contar a história desde o início, quando rebentou nos jornais. Tudo começou há 15 dias.