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Morreu João Semedo, antigo líder do Bloco de Esquerda

por RTP
João Semedo morreu esta manhã na unidade hospitalar onde se encontrava internado, confirmou à RTP o Bloco de Esquerda Estela Silva - Lusa

Morreu o antigo coordenador do Bloco de Esquerda João Semedo, aos 67 anos. O médico, que chegou a partilhar a liderança do partido com Catarina Martins, debateu-se nos últimos anos com um cancro nas cordas vocais.

João Semedo morreu esta manhã na unidade hospitalar onde se encontrava internado, confirmou à RTP o Bloco de Esquerda. Membro do PCP até 2003, demitiu-se nesse ano após ter aceite o convite de Miguel Portas para integrar, como independente, a lista do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu.

Coordenador do Bloco entre 2012 e 2014, teve uma vida dedicada à atividade política nacional e internacional, às artes e à medicina, tendo sido um dos autores da nova proposta de Lei de Bases da Saúde.

Membro da direção do movimento cívico "Direito a morrer com dignidade", João Semedo nasceu a 20 de junho de 1951, em Lisboa, cidade onde veio a licenciar-se na Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1975. Em 1973 chegou a ser detido pela PIDE/DGS, acusado de atividades subversivas.

Participou na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte e da Universidade Popular do Porto e integrou a direção do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica e da cooperativa artística Árvore.

Foi presidente do Conselho de Administração do Hospital Joaquim Urbano entre 2000 e 2006. Deixou a administração da unidade de saúde para se tornar deputado à Assembleia da República em regime de exclusividade, substituindo João Teixeira Lopes.

Em 2015, após lhe ter sido diagnosticado cancro nas cordas vocais, renunciou ao mandato.

Ana Cardoso Fonseca, Guilherme Terra - RTP

João Semedo chegou ainda a protagonizar candidaturas autárquicas em Gondomar (enquanto independente em 2005), Gaia (2009) e Lisboa (2013). Como deputado integrou diversas comissões parlamentares: Saúde, Assuntos Europeus, Orçamento e Finanças.

Em 2016 foi distinguido pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha de Mérito/grau Ouro da cidade.
“Ímpar e diversificado percurso”
Em nota de pesar entretanto enviada às redações, o Bloco de Esquerda transmite à família de João Semedo “as mais sentidas condolências”.
"Perante a notícia do falecimento de João Semedo, o PCP endereça à família e à Direcção do Bloco de Esquerda as suas condolências", lê-se numa nota emitida pelos comunistas.

“A perda de João Semedo é de todos os que partilharam o seu ímpar e diversificado percurso, que com ele lutaram, aprenderam e conviveram, na política e na vida. Como é de todos o orgulho e a alegria de o terem tido a seu lado”, assinala o partido.

Depois de recordar o “ativismo e participação cívica” desde os anos de 1960, assim como a militância no PCP, antes da aproximação ao Bloco, o partido de Catarina Martins escreve que ação de João Semedo “foi multifacetada e incluiu, entre muitas outras, a participação nas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril, a intervenção na Cooperativa Árvore, na direção do FITEI, na Universidade Popular e na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte”.

“Na década de 90, João Semedo regressa à actividade médica, com passagem por um centro de abrigo para toxicodependentes e em Serviços de Atendimento Permanentes. Foi nomeado diretor do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, onde durante seis anos liderou o processo de remodelação do hospital especializado no tratamento de doenças respiratórias e infecciosas, trazendo inovações no campo do tratamento da SIDA e das hepatites”, lembra ainda o BE.

“Em 2004, aproxima-se do Bloco de Esquerda integrando como independente a lista do Bloco de Esquerda para a Eleições Europeias, encabeçada por Miguel Portas e em 2006 substitui João Teixeira Lopes como deputado à Assembleia da República. Durante o mandato, filiou-se no Bloco de Esquerda, do qual viria a ser Coordenador em 2012. Em 2015, interrompe o seu terceiro mandato como deputado por motivos de saúde”, prossegue o partido.

O Bloco recorda, por último, que “a doença prolongada e as crescentes limitações da voz” não impediram João Semedo “de manter a actividade política”.

“Nos últimos meses da sua vida, João Semedo publicou um livro com António Arnaut para uma nova Lei de Bases da Saúde e deu força e conteúdo ao Movimento Direito a morrer com dignidade”.
“O país sentirá a sua falta”
Também o Presidente da República emitiu já uma nota sobre a morte de João Semedo, enviando “as mais sentidas condolências” à família do antigo dirigente do Bloco de Esquerda.
O velório de João Semedo realiza-se a partir das 17h00 na Cooperativa Árvore, no Porto. O funeral sairá na quarta-feira, pelas 13h30, da Cooperativa Árvore em direção ao cemitério do Prado do Repouso.

“Médico de profissão e defensor do Serviço Nacional de Saúde, João Semedo foi um homem de causas, politicamente empenhado desde muito jovem, com um ativismo político anterior ao 25 de Abril”, assinala Marcelo Rebelo de Sousa.

“Militante do PCP durante muitos anos, partido que abandonou no início da década de noventa, chegou mais tarde a coordenador do Bloco de Esquerda”, prossegue o Chefe de Estado, que se encontra em Cabo Verde para a cimeira da CPLP.

Marcelo Rebelo de Sousa lembra ainda a “afabilidade acentuada” de João Semedo, “convencendo pelo exemplo” e “afirmando-se pela força do seu pensamento lúcido e clarividente”.

“Até a morte encarou com a firmeza e a bondade que o caracterizava, tendo afirmado numa das suas últimas entrevistas que viveu como quis e que de nada do que é importante se arrependeu”, vinca o Presidente.

“O país sentirá a sua falta, o Presidente da República honra a sua memória”, conclui.
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