Portas insiste em Madrid na fórmula de "um só resgate, um só calendário"

O vice-primeiro-ministro aproveitou esta segunda-feira mais uma deslocação a Espanha para retomar o retrato de um país à beira de completar o Programa de Assistência Económica e Financeira, sem contemplar o cenário de um segundo pacote suportado pela troika. Em Madrid, onde interveio no Fórum Europa, Paulo Portas quis reafirmar que “o calendário português para sair do programa termina a 17 de maio”. E que estar debaixo de um resgate financeiro “é vexatório”.

RTP /
“Quando começas a falar do segundo resgate, uns meses depois começas a falar do terceiro”, afirmou Paulo Portas aos jornalistas na capital espanhola Juan Carlos Hidalgo, EPA

“Ter, sofrer e superar”, reclamou Portas em Madrid, tem sido a política do Governo de coligação no que toca ao resgate financeiro.
A agenda da deslocação de Paulo Portas a Madrid inclui uma reunião entre o Governo de Madrid e delegações de seis governos europeus, dedicada à reforma do Estado. Este encontro é aberto pela vice-presidente do Executivo espanhol, Soraya Saénz de Santamaría, e encerrado pelo presidente, Mariano Rajoy.

“Quando começas a falar do segundo resgate, uns meses depois começas a falar do terceiro. O calendário português para sair do programa termina a 17 de maio: um só resgate, um só empréstimo e um só calendário”, reafirmou o vice-primeiro-ministro, que falava aos jornalistas à margem do Fórum Europa, um evento de debates organizado pelo Nueva Economia Fórum.

Em declarações recolhidas pela agência Lusa, o número dois do Governo deu como exemplo de vexame o que disse ser a impossibilidade de promover uma reforma do imposto das sociedades, ou mesmo do IRS, sem a luz verde dos credores internacionais.

“Não podemos baixar os impostos sem consentimento da missão externa. Podem compreender como é vexatório, especialmente para a mais velha nação de fronteiras estáveis da Europa, ter que discutir com os seus credores até o detalhe sobre se se pode ou não fazer uma redução de impostos para a competitividade económica”, frisou.

Ao intervir no Fórum, na mesma linha de raciocínio, Paulo Portas carregou na tecla do ónus da “dependência dos credores”, que, sublinhou, tem feito “sofrer” o país.
“Otimismo irresponsável”

Lançando mão, uma vez mais, dos últimos dados estatísticos da economia portuguesa, que resumiu como uma “evolução lenta, mas constante, para melhor”, o vice-primeiro-ministro prognosticou que 2014 será já “o primeiro ano de crescimento completo”, além do “primeiro para além da troika”. Ainda que, nas palavras do mesmo governante, “não se deva ter um otimismo irresponsável”.

Assinalou também que, em 2012, “por cada empresa que abria” em Portugal “fechavam duas”. E que atualmente “nascem duas por cada uma que fecha”.

Sem se esquecer de desferir mais uma farpa aos socialistas portugueses, Portas diria ainda que “quem passa por uma situação como esta sabe que é muito fácil governar endividando as gerações vindouras”.

“Mas um dia tem que se pagar. E nesse dia não são os que gastaram, nem os que endividaram que vão pagar. São todos, inclusive os que jamais autorizaram tanta dívida, tanto gasto”, vincou o líder do CDS-PP, que, desta feita, elogiou uma decisão da anterior governação do PSOE: a introdução da regra de ouro do equilíbrio orçamental na Constituição, que “ajudou Espanha a evitar um resgate geral” e “aumentou a confiança no momento mais crítico”.

No início do mês, ao discursar na Convenção Nacional do Partido Popular espanhol, em Valladolid, o mesmo Paulo Portas acusara os socialistas de serem “muito bons a gastar o dinheiro dos outros”, para depois “chamarem” a direita a “compor as coisas”.
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