Rui Tavares disse ter partilhado com o Presidente da República que "a reflexão à esquerda sobre os resultados destas eleições deve ser uma reflexão grande, mas não pode ser longa", avisando que as eleições autárquicas serão daqui a cerca de cinco meses.
Tavares considerou que a esquerda não se pode "dar ao luxo" de uma reflexão muito alongada, alertando que nas legislativas de domingo o Chega ficou "em primeiro lugar em dezenas de concelhos do país".
O deputado insistiu várias vezes na ideia de que o país pode estar perante uma “crise de regime” caso a Constituição seja revista apenas pela direita e extrema-direita sem o voto favorável do centro-esquerda, mas também pelo risco de o Chega poder conquistar várias câmaras municipais e juntas de freguesia, o que significaria uma alteração substancial do mapa político português.
O dirigente do Livre pediu à esquerda que “desperte”, vá “ao encontro das populações” nas autárquicas e faça tudo o que estiver ao seu alcance “para que haja, na maior parte das câmaras possíveis nas quais a extrema-direita ficou em primeiro, listas progressistas nas quais os eleitores progressistas e democráticos saibam que podem votar”.
"Não podemos dizer que estas últimas eleições foram um sinal de alarme sem que as pessoas façam o que se faz em situação de alarme: despertar", declarou Rui Tavares em Belém, acrescentando que o Livre afirmou ao chefe de Estado que "a esquerda, o campo progressista e ecológico deve despertar para esta realidade" antes da eleições autárquicas deste ano.
“Às vezes a direita é pragmática demais, mas que a esquerda não seja pragmática de todo pode significar, a partir de setembro, uma bela manhã de setembro, de uma segunda-feira, nós acordarmos com o mapa político do país completamente mudado, de uma forma que não será reversível, talvez em décadas”, avisou.
Outra preocupação do Livre, partilhada por Rui Tavares, é a revisão constitucional pedida pela direita, nomeadamente pela Iniciativa Liberal: "Já sabíamos que a Iniciativa Liberal gostava de motosserras, agora percebemos que gosta de mandar gasolina para o fogo".
"Isto não foi tema de campanha eleitoral, portanto, não existe legitimidade para fazer uma revisão, que basicamente constituiria uma mudança de regime", criticou.
"Seria muito importante que o senhor primeiro-ministro, ao ser indigitado, e que será, naturalmente, Luís Montenegro, da AD, que desse sinais de que esta legislatura não é uma legislatura para fazer uma revisão constitucional", considerou ainda Rui Tavares.
O porta-voz do Livre apelou para que a AD rejeite uma eventual revisão constitucional, ou "ao menos que diga que nunca será a favor de nenhuma emenda à Constituição que, em vez de ter dois terços, não tenha um consenso que abranja, pelo menos, três quartos da Assembleia da República, - ou seja, que conte também, pelo menos, com o centro-esquerda".
Tavares remeteu para as próximas semanas a posição do Livre em relação à moção de rejeição ao programa do Governo anunciada na terça-feira pelo PCP e também sobre uma eventual comissão parlamentar de inquérito ao caso ‘Spinumviva’, empresa familiar de Montenegro, que o Livre admitiu apresentar caso este voltasse a ser reeleito primeiro-ministro.