Primeira greve geral em 12 anos foi histórica para os sindicatos e inexpressiva para o Governo

CGTP e UGT descrevem a greve geral de quinta-feira como uma das maiores de sempre, apontando para uma adesão de três milhões de trabalhadores. O Executivo viu um país a trabalhar.

Carlos Santos Neves - RTP /
Tiago Petinga - Lusa

Doze anos depois da última jornada de luta semelhante, Portugal viveu na quinta-feira uma greve geral que as duas centrais sindicais, CGTP e UGT, encararam como esmagadora e que o Governo desvalorizou como inexpressiva. Pela mesma nota dominante do Executivo de Luís Montenegro afinou a Confederação Empresarial de Portugal.Foi uma das maiores greves de sempre e contou com a adesão de três milhões de trabalhadores – o cálculo é da CGTP e da UGT, as duas centrais sindicais que convocaram a jornada.


Entrevistados na edição de quinta-feira do Telejornal, os secretários-gerais de ambas as estruturas teceram duras críticas à forma como o Governo analisou a adesão.

“Percebe-se perfeitamente aquilo que é a proximidade, a razão e aquilo que traz a CGTP à luta e os trabalhadores à luta, convergindo como aquilo que foi o argumento que o Governo utilizou para contestar, utilizar essa expressão de uma greve inexpressiva, trazendo para o panorama mediático as transações bancárias. Isto mostra uma coisa simples: o afastamento deste Governo da realidade do país, o afastamento deste Governo da realidade do mundo do trabalho”, apontou o secretário-geral da Intersindical, Tiago Oliveira.
“Ora, uma greve inexpressiva não causa incómodos. Não sei a que é que o senhor ministro se quer referir com esta adesão inexpressiva. Foi uma adesão muito muito significativa dos trabalhadores portugueses”, afirmou, por sua vez, o secretário-geral da UGT, Mário Mourão, para reiterar que o pacote laboral terá “um impacto muito negativo”.No desfile de Lisboa, os trabalhadores em protesto denunciaram a perda de direitos com as alterações previstas no pacote laboral. No Porto, o projeto legislativo do Governo foi igualmente contestado.


Do flanco dos patrões, a Confederação Empresarial de Portugal quis apontar que a greve foi quase nula no sector privado.

As pessoas estão confortáveis. As empresas, nunca como hoje, se preocuparam com o bem-estar dos seus trabalhadores. Acho que houve aqui alguma falta de sensibilidade no início das negociações”, sustentou o dirigente Luís Ribeiro.
João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, advogou que seja “encontrada uma metodologia mais aberta e mais participativa de todos, no seu conjunto, porque a experiência histórica demonstrou-nos que, quando estas leis são alteradas e há um acordo em Concertação Social, mesmo que seja um acordo deficiente, elas perduram no tempo e têm mais possibilidade de passar na Assembleia da República”.A concentração conjunta da CGTP e da UGT reuniu trabalhadores de diferentes sectores, incluindo jovens e também reformados.

O Governo, pelas vozes do primeiro-ministro e do ministro da Presidência, Leitão Amaro, considerou inexpressiva a adesão à greve geral. Luís Montenegro quis mesmo vincar que a “esmagadora maioria” do país escolheu trabalhar, “tal como” o Executivo.
Os sectores mais afetados pela paralisação foram os da Educação e da Saúde. Mas também os transportes sofreram um impacto significativo.
Nas últimas horas, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil agradeceu, em comunicado remetido aos seus associados, “a forte adesão à greve”, que levou, segundo a estrutura, ao “cancelamento de cerca de 400 voos”.

“No dia 11 de dezembro, a greve provocou o cancelamento de cerca de 400 voos, tendo sido realizados apenas os voos de serviços mínimos, com exceção de duas companhias - easyJet e Ryanair”, adiantou o SNPVCA.

“Embora tenham sido residuais, os voos realizados na easyJet, para além dos serviços mínimos, foram operados por chefias ou tripulantes de outras bases, infringindo, uma vez mais, a legislação portuguesa. Esta situação é inaceitável e repetitiva, pelo que a ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho) será novamente chamada a intervir e será instaurado um processo contra-ordenacional à easyJet”.

O sindicato atribui ao Governo “a responsabilidade pelos transtornos causados aos passageiros e pelos gastos inerentes à paralisação deste dia”.

“São da inteira responsabilidade da postura intransigente deste Governo”.
Incidentes em São Bento
O dia da greve geral culminou com incidentes nas imediações da Assembleia da República.
Concluída a manifestação sindical, um grupo de pessoas permaneceu junto ao Parlamento e atirou caixotes do lixo e garrafas de vidro para escadaria. Foram ainda queimados cartazes. A PSP chamou reforços, acabando por deter seis pessoas e identificar outras duas.

Pelas 21h00, os agentes conseguiram dispersar o grupo.

c/ Lusa
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