Relvas critica “vontade” de crise política que vai “na cabeça de alguns”

Foi do outro lado do Atlântico, onde termina hoje uma visita oficial, que Miguel Relvas congratulou o “sucesso” da quinta avaliação da troika ao programa português de ajustamento, e apelou à estabilidade política no país. O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares comentou o prenúncio de “crise política” suscitado pelas últimas comunicações de austeridade do Governo, defendendo que para o bem de Portugal, é “importante” que “todos continuem a remar para o mesmo lado”.

Ana Sanlez, RTP /
O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares quer evitar uma "crise política" Mário Cruz/ Lusa

“Em nome dos portugueses e dos sacrifícios que têm feito”. Miguel Relvas justificou assim a crítica velada às movimentações na coligação, e na oposição, que têm agitado o quotidiano partidário durante a sua ausência no Brasil. "Portugal não precisa, não pode, não deve ter qualquer tipo de crise (política). Parece que na cabeça de alguns há a vontade de uma crise política, colocar em causa a estabilidade, não é esse o caminho", declarou em resposta aos jornalistas.

O caminho não é outro “senão continuar nessa política até que tenhamos uma luz ao fundo do túnel”. O caminho da austeridade. "Temos distribuído os sacrifícios por todos, pagam mais aqueles que mais podem, criámos medidas para tributar o capital, mas infelizmente não temos outra saída”, acrescentou Relvas, confiante de que o país regressa mesmo aos mercados dentro de um ano. "Grave seria pedir os sacrifícios e não corresponder, e Portugal está a corresponder. Essa é uma grande vitória dos portugueses".
Patriota silencioso
Depois do anúncio de Vítor Gaspar ao país, terça-feira à tarde, de novos cortes e medidas adicionais de contenção, Paulo Portas convocou a Comissão Política e o Conselho Nacional do CDS-PP, que segundo o jornal i, pode ter lugar já entre sexta-feira e sábado. Confrontado ontem na Assembleia pelos deputados na comissão de Negócios Estrangeiros sobre o agravamento da austeridade, Portas remeteu-se a um silêncio encarado pelos parlamentares como um “facto político”. E chegou a ser acusado, pelo Bloco de Esquerda, de liderar “um dos partidos do confisco”, aquele que outrora foi “o partido do contribuinte”.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros admitiu estar a ser “parco em declarações públicas” por uma questão de “patriotismo e prudência” e para evitar “um ato menos responsável”, mas as últimas decisões do Executivo acentuam o desconforto do também líder do partido minoritário da coligação governamental, que no mês passado defendia por escrito que o limite da carga fiscal aplicada aos portugueses tinha sido atingido. “Uma vez ouvido” o partido, revelou Portas, “farei a súmula e direi o que penso”.
"Recados" de Relvas "minam" coligação
Já no Largo do Rato, a ruptura do consenso parece inevitável. António José Seguro reagiu às declarações de Vítor Gaspar com o pedido de uma reunião ao Presidente da República e com a convocatória da Comissão Política do Partido Socialista. Não deverá haver volta a dar quanto ao voto contra do PS ao Orçamento do Estado para 2013.

Entretanto, os socialistas vão lançando farpas à coligação. António Galamba, membro do Secretariado Nacional do PS, condenou hoje os “recados” de Miguel Relvas, “certamente dirigidos ao parceiro de Governo”, defendendo que o ministro está a “minar” a coligação.

"Não fica bem ao ministro Miguel Relvas no estrangeiro enviar recados para o seu parceiro de coligação, o CDS-PP, sobre questões de estabilidade política. O Governo esconde-se em jogos de palavras, acha que isto é tudo uma questão de comunicação, mas o Governo falhou nas metas a que estava obrigado, o que obriga a que sejam os portugueses a ter que pagar pelo falhanço do Governo", disse à Lusa.

Galamba acrescentou que os “recados” de Relvas não tiveram o PS como codestinatário, porque o partido "tudo fez para dar um contributo positivo para que houvesse todas as condições para o Governo cumprir com as metas a que estava obrigado".

Já ontem Luís Amado, antecessor de Portas no ministério dos Negócios Estrangeiros, acicatou a discórdia. “Tem havido dissensões e críticas no bloco da maioria que apoia o Governo, que minam a autoridade do Governo e que põem em causa a credibilidade de futuras decisões”.

O PSD rejeita o arrufo, referindo, pela voz do coordenador da comissão política Jorge Moreira da Silva, que os partidos da coligação trabalham em “total solidariedade”.

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