Revisão da Lei da Nacionalidade passa em especialidade sem maioria absoluta garantida
A proposta de Lei da Nacionalidade, que incorpora alterações introduzidas pelo PSD e o CDS, foi aprovada esta sexta-feira em sede de comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais. Falta ainda discutir e aprovar em plenário.
O PSD estava contra esta proposta. E o Chega acabou por aprovar a proposta do Governo, que prevê que a perda de nacionalidade funcione como uma pena acessória - ou seja, tem de ser decretada por um juiz e em determinados crimes.
Considerando a posição do PS, do Livre, do PCP e do Bloco de Esquerda no processo de apreciação na especialidade, em votação final global o Chega terá de juntar-se ao PSD, CDS e Iniciativa Liberal para que a proposta do Governo seja aprovada.
Na comissão desta manhã, o PSD e CDS reprovaram todas as propostas de alteração apresentadas pelo Chega - algumas consideradas linhas vermelhas colocadas por André Ventura - e apenas se aproximaram ao colocarem a condição de garantias de meios de subsistência para acesso à nacionalidade portuguesa. O Chega, por sua vez, votou inclusivamente contra a proposta do PSD/CDS de concessão de nacionalidade a apátridas que residam há pelo menos quatro anos em território nacional. Na maioria dos casos, no entanto, o Chega aprovou ou absteve-se nas propostas do PSD/CDS.
Na alínea que define que a alteração ao Código Penal se refere a factos que "tenham sido praticados nos 10 anos posteriores à aquisição da nacionalidade", inicialmente Chega - que defende, numa alteração própria, que o prazo deveria ser de 20 anos -, PS e Livre votaram contra, o que levaria ao chumbo da medida. Pouco depois, o PS mudou o seu sentido de voto e acabou por viabilizar a proposta do Governo, abstendo-se.
PSD e CDS recusaram ainda o caráter automático do diploma, exigindo que cada caso seja apreciado por um juiz, uma parte do texto final que o Chega viabilizou com a abstenção.
O socialista Pedro Delgado Alves lamentou que o Governo não tenha querido dialogar com o PS e recordou que esta alteração cria "situações de discrepância entre cidadãos" e "pessoas que pratiquem o mesmo facto ilícito passam a ser abrangidos de forma diferente".
As alterações afetam apenas os cidadãos naturalizados que mantenham dupla nacionalidade que tenham sido condenados "em pena de prisão efetiva de duração igual ou superior a quatro anos", refere o diploma.
O socialista considerou que o "elenco" dos crimes "é tão extenso que qualquer binacional corre o risco de perder a nacionalidade".
Paulo Marcelo (PSD) insistiu que a alteração feita no Código Penal resolve as dúvidas de inconstitucionalidade e destacou o "esforço de diálogo muito grande com todos os grupos parlamentares", tendo por base o princípio de que "quem pratica crimes graves, no caso de ter outra nacionalidade, deve ser sujeito a uma sanção acessória de perda de nacionalidade".
Ao mesmo tempo, PSD e CDS recusam o caráter automático do diploma, exigindo que cada caso seja apreciado por um juiz, uma parte do texto final que o Chega viabilizou com a abstenção.A nova lei "protege os apátridas" e "quem não tiver outra nacionalidade, não ficará sujeita a esta sanção acessória", acrescentou.
António Rodrigues (PSD) criticou a posição do PS nesta matéria que disse que o diploma era inaceitável e agora pedia mudanças. "Se isto era uma linha vermelha e não aceitariam discuti-la", pedem agora "melhorias"? -- questionou.
Em resposta, Pedro Delgado Alves lamentou o "tom das intervenções e das adjetivações" e disse que o discurso do PSD está "contaminado pelo Chega", suscitando respostas da deputada Cristina Rodrigues.
"Se o senhor deputado está chateado, não é culpa nossa, foram os portugueses que decidiram e os senhores têm que aceitar isso", disse a deputada do Chega, ao que Pedro Delgado Alves insistiu.
"Sim senhora deputada, o seu partido tem provocado dano à democracia" e contribui para "leis piores".
c/ Lusa