Silêncio sobre Ministério Público. Marcelo afirma que Lucília Gago foi a Belém a pedido de Costa

por Cristina Sambado - RTP
António Cotrim - Lusa

O chefe de Estado confirmou que foi o primeiro-ministro a pedir-lhe para receber a procuradora-geral da República no Palácio de Belém, no dia em que António Costa apresentou a demissão.

Marcelo Rebelo de Sousa falou aos jornalistas num hotel de Bissau, onde esteve com o primeiro-ministro, António Costa, a participar na celebração dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau.No dia 7 de novembro, o presidente da República recebeu o primeiro-ministro logo de manhã, a pedido deste, no Palácio de Belém, e de seguida a procuradora-geral da República, Lucília Gago.

Interrogado sobre quem suscitou o encontro que teve com a procuradora-geral da República, Lucília Gago, no dia 7 de novembro, e qual foi o intuito dessa audiência, o chefe de Estado respondeu: "Isso o senhor primeiro-ministro já esclareceu que ele pediu para eu pedir o encontro à senhora procuradora-geral da República".
"Mais do que isso não posso dizer", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa não quis revelar a sua opinião sobre se deve haver esclarecimentos da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a investigação judicial que levou o primeiro-ministro a apresentar a sua demissão: "Quando eu digo que não me pronuncio sobre nem aquilo que ocorreu nem aquilo que vai ocorrer ou que está a ocorrer neste momento, é precisamente isso mesmo. Eu acho que seria muito insensato estar a pronunciar-me sobre isso".

Perante a insistência da comunicação social para que comentasse o papel do Ministério Público, o chefe de Estado referiu que essa "é uma questão que tem a ver com o que acabou de ser vivido, o que está a ser vivido e o que irá ser vivido no futuro próximo", reiterando: "Portanto, não me vou pronunciar".
Surpreendido pelos acontecimentos de 7 de novembro
Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa frisou ainda que foi surpreendido pelos acontecimentos de 7 de novembro, depois do primeiro-ministro ter apresentado a demissão devido a uma investigação judicial.

"Se me perguntassem se, há quantos dias, já nem sei, no dia 6 [de novembro] – isto é tão rápido e tão intenso – eu imaginava que estaria onde estou hoje, eu diria que não", declarou o presidente da República.
"Realmente, as circunstâncias ocorreram e ocorreram à intensidade que puderam testemunhar em direto. É evidente que a minha ideia era que a situação que se vivia no dia 6 se pudesse viver de uma forma mais prolongada no tempo", acrescentou.O Expresso noticia que o parágrafo que esteve na origem da demissão de António Costa foi escrito pela procuradora-geral da República. O jornal adianta que Lucília Gago teve receio de que o Ministério Público fosse acusado de ter protegido o primeiro-ministro.


Questionado se não teve qualquer sinal de que isso poderia acontecer, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que não esperava esses acontecimentos: "Quando eu disse que fiquei surpreendido significa, naturalmente, que fiquei surpreendido. Portanto, uma pessoa que fica surpreendida quer dizer que não está à espera que isso aconteça".
Relação com Costa mantém-se igual
Marcelo Rebelo de Sousa garante que a relação com António Costa, em termos pessoais e institucionais, continua na mesma.

"Estive com o primeiro-ministro só esta semana, dois dias seguidos. Dois dias seguidos. Um com uma reunião muito longa e outro com uma posse muito curta. De todo o modo significa que, verdadeiramente, tudo o que se passou aqui, passa-se em Portugal", acrescentou.
O presidente da República frisa que, "não há nada de especial montado cenicamente para a Guiné-Bissau" e "o relacionamento é exatamente aquele que era, em termos pessoais e institucionais, desde sempre".

Interrogado se irá ter saudades da coabitação com António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que ainda faltam meses o primeiro-ministro cessar funções e que até lá se irão encontrar "semana após semana", portanto, "não haverá sequer lugar a falar em saudades".
Evitar comentários para se manter imparcial
O chefe de Estado afirmou ainda que quer evitar comentários sobre o passado recente e o futuro próximo da política portuguesa para se manter imparcial no novo ciclo, perante os partidos que vão disputar eleições.

"Eu não comento nada do que foi dito sobre o passado recente nem nada do que será dito sobre o futuro próximo. Em relação ao passado recente, passou, passou, fechou-se um ciclo da história portuguesa", frisou.

Sobre a sua coabitação com o primeiro-ministro, António Costa, que se encaminha para o fim, respondeu: "Eu não vou pronunciar-me. Tenho decidido não me pronunciar, por uma questão de isenção, estamos em período pré-pré-eleitoral".

"Tudo o que eu disser – entrámos num novo ciclo – vai ser considerado, no novo ciclo, como sendo uma tomada de posição favorável a A, B ou C. E neste novo ciclo o que se pretende do Presidente da República é que seja imparcial perante aqueles que vão disputar eleições, partidos, candidatos à chefia do Governo, tudo isso", justificou.

c/ Lusa
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