Hospital de Santa Maria sem explicação para cegueira

Os seis doentes, que contraíram uma grave infecção nos olhos após a aplicação de um fármaco no Hospital de Santa Maria, estão a ser medicados para evitar a cegueira irreversível. Quatro estão estáveis, enquanto dois apresentam melhorias ligeiras. A administração do hospital referiu que "saberá assumir as consequências do resultado dos inquéritos".

Raquel Ramalho Lopes, RTP /
Estão a decorrer três inquéritos em paralelo, mas os resultados não são esperados antes de 15 dias RTP

"Neste momento sabemos que houve um incidente, houve um evento desagradável. Não sabemos exactamente em que momento, qual foi o elo da cadeia que falhou. Não queremos estar a imputar precipitadamente responsabilidades nem a profissionais, nem a medicamentos, nem a circuitos", disse Adalberto Campos Fernandes, da administração do Hospital de Santa Maria.

A administração do hospital abriu um inquérito interno e o Infarmed está a fazer análises ao medicamento administrado. A Inspecção-Geral de Saúde, que esteve esta manhã no Santa Maria, também vai proceder a uma investigação "externa e independente".

A unidade hospitalar irá divulgar diariamente novas informações, quando estas existirem, referiu o administrador durante uma conferência de imprensa. No encontro com os jornalistas participaram o director-clínico, o director de Farmácia Hospitalar e o director do serviço de Oftalmologia do Santa Maria, assim como a administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, a que pertence o hospital.

Dois doentes apresentam melhorias ligeiras
Seis pessoas num grupo de 12 perderam a visão após lhes ter sido injectado no olho o bevacizumab, um fármaco indicado para o tratamento da degeneração macular do idoso. Os restantes doentes não foram tratados com este fármaco. As intervenções foram realizadas pela mesma equipa, mas diferiu o lote de medicamento.

Dois dos seis doentes "já melhoraram, apesar de não muito", disse o director do serviço de Oftalmologia. "Estamos esperançados que, com os exames que fazemos e com a terapêutica que está instituída, haja uma recuperação desta situação", acrescentou Manuel Monteiro-Grillo.

Os restantes quatro doentes operados no bloco de oftalmologia estão estáveis. Dois doentes foram operados aos dois olhos. No grupo das pessoas que registaram diminuição da capacidade visual, cinco são diabéticas. O responsável de Oftalmologia desconhece casos de complicações por causa do uso do fármaco.

O director da Farmácia Hospitalar aponta que "a probabilidade é muito baixa de o caso ser imputado a 100 por cento à molécula em si". Foram registados efeitos adversos em 0,06 por cento de situações de aplicação do bevacizumab, aponta João Paulo Cruz.

Este tipo de tratamento apresenta um risco que é comunicado aos doentes antes do tratamento. A aplicação do medicamento está suspensa.

Ordem dos Médicos lembra riscos do medicamento

O Bastonário da Ordem dos Médicos não defende a suspensão do medicamento que foi administrado a estes doentes. Pedro Nunes justifica que ainda não é certo que o problema tenha sido causado pela aplicação do fármaco.

Pedro Nunes lembra são conhecidos os riscos que o medicamento comporta, sobretudo para doentes diabéticos em risco eminente de cegueira.

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