Oito passos para lidar com experiências traumáticas

Como podem os sobreviventes do tiroteio em Las Vegas recuperar das feridas emocionais? Como deve ser iniciado o processo de cura? A publicação Psychology Today elenca oito passos a seguir para ajudar outros a curar as cicatrizes emocionais que um evento trágico como este pode criar.

RTP /
Chris Wattie - Reuters

As vítimas presentes no festival de música country em Las Vegas passaram da diversão ao terror numa questão de segundos. Stephen Paddock começa a disparar, a multidão grita, milhares de pessoas correm, o pânico instala-se.

Resultado: um concerto de música torna-se no tiroteio mais mortífero da história dos Estados Unidos, perfazendo 59 vítimas mortais. Mais de 500 pessoas ficaram feridas.

Entre sobreviventes, ou familiares de vítimas, o tiroteio deixou marcas. Milhares de crianças e adultos ficaram traumatizados.
Fragilidade emocional
Este tipo de acontecimento traumático tem vindo a tornar-se uma realidade comum à escala global, deixando problemas e cicatrizes emocionais não só nos que vivem o terror em primeira mão, como em todos aqueles que acompanham de perto a tragédia.

O tiroteio em Las Vegas pode funcionar para algumas pessoas como um gatilho que liga memórias do passado, fazendo reviver situações semelhantes.

Por exemplo, se não esteve presente no tiroteio em Las Vegas mas passou por uma situação similar ou traumática, este momento pode fazer ressurgir as memórias que tenta esquecer. E porque é que isto acontece? Porque são desencadeadas memórias antigas, que invadem os circuitos cerebrais. Deste modo, a pessoa pode experimentar o medo e o terror, física e psicologicamente.

A reação de cada pessoa a um trauma cria padrões consistentes no sistema nervoso que podem durar uma vida. Quem o diz é Stephen Porges, cientista no Instituto Kinsey, na Universidade de Indiana, e professor no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte.

Estes processos neurológicos são a razão pela qual as vítimas de tiroteios e sobreviventes dos mais variados traumas revivem as experiências cada vez que um novo evento do género ocorre.

Esta vivência traumática causa ansiedade, pânico, sensação de abandono, entre outras emoções. Ainda assim, adultos e crianças conseguem construir defesas para se adaptarem às adversidades que viveram.
Processo de cura
A revista Psychology Today falou com a psicoterapeuta Sharon Stanley, que a partir de 2004 se centrou em descobrir como pode uma pessoa curar-se de um trauma.

Na obra Relational and Body-Centered Practices for Healing Trauma: Lifting the Burdens of the Past explica que certas intervenções têm a capacidade de restaurar o sistema nervoso autónomo.

Tendo em conta o último estudo neurocientífico, Sharon Stanley refere oito passos para restaurar o sistema nervoso, transformando o medo e terror em resiliência. De forma a permitir à vítima curar de um trauma, um adulto pode trabalhar com outro adulto ou criança de forma a ajudar a ultrapassar o trauma. Se for para trabalhar em processos traumáticos, a pessoa deve trabalhar com um profissional da área.

1. Preparar-se

De maneira a conseguir ajudar uma pessoa que já vivenciou algum trauma, é necessário estar calmo e concentrado na pessoa que está a ajudar. Deve conseguir conectar-se com a vítima, de forma a ser criada empatia.

2. Transmitir Segurança

Assegure à pessoa que estará presente durante todo o processo e sempre disponível. Use linguagem semelhante à vítima para que se sinta conectada consigo.

3. Educar

Explique que vai fazer um exercício para a ajudar a sentir segura e que controla a situação. A pessoa tem de saber que a qualquer momento o exercício pode parar. Basta dizê-lo.

“A ciência do cérebro explica que os eventos traumáticos estão mais ligados a conseguir acalmar o sistema nervoso do que a qualquer coisa que possa ser dita”.

4. Comece Devagar

A voz deve ser calma e suave. Houve a história que a pessoa tem para contar e quando sentir alguma alteração (cor da pele, tom de voz, ansiedade) diga para parar e pergunte à pessoa o que está a sentir.

5. Empatia

Confirme que a pessoa se está a sentir confortável e que está presente na sala psicologicamente. Entre na história que a pessoa está a contar e entenda as alterações físicas da pessoa.

Pergunte: o que está a sentir? Se também tiver alterações está a vivenciar a denominada somatic empathy, ou seja, a capacidade de sentir a emoção do que o outro vivenciou no seu próprio corpo.

6. Sente a gravidade

Depois de estabelecida a empatia, agora pode ser libertado o trauma, de maneira a acalmar o sistema nervoso. Pode pedir à pessoa para sentir a o chão debaixo dos pés, criando uma ligação à realidade.

7. Comprometa-se com a gravidade

Quando se sente a gravidade, é possível libertar a tensão do trauma. Volte ao que a pessoa está a vivenciar no corpo. Esta deve começar a fazer pequenos movimentos faciais que irão ajudar a curar a atividade neurológica.

De seguida, o processo deve ser repetido noutras áreas do corpo em que a pessoa sente dores. Há medida que este processo decorre, a pessoa deverá ficar mais calma.

8. Reflete e descansa


Chega a vez de questionar a vítima sobre se sente alguma diferença e se quer retomar o processo ou descansar. Se a pessoa não souber, deve sugerir descansar. Se a pessoa quiser continuar devem ser repetidos estes oito passos.
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