Organização Mundial de Saúde declara pandemia de gripe
O comité de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) actualizou esta quinta-feira, em Genebra, o alerta de propagação do vírus da Gripe A H1N1 para o nível mais elevado de uma escala de seis fases. A decisão, que corresponde à primeira declaração de pandemia de gripe em 40 anos, foi adoptada após um aumento de casos na Ásia e na Austrália.
Escala de alerta da OMS
Fase um: as autoridades sanitárias internacionais não detectaram novos subtipos do vírus da gripe em humanos;
Fase dois: continuam por detectar novos subtipos do vírus da gripe em
humanos; contudo, verifica-se a circulação, entre animais, de um
subtipo do vírus com elevado risco de transmissão a humanos;
Fase três: os peritos estabelecem a existência de casos de infecção
humana com o novo subtipo do vírus da gripe, mas ainda não foi
detectada qualquer transmissão entre pessoas; no limite, verifica-se a
existência de situações de transmissão para contactos próximos;
Fase quatro: encontram-se detectados um ou mais surtos com uma
transmissão limitada entre humanos; a propagação é localizada,
sinalizando que o vírus ainda não se adaptou a hospedeiros humanos;
Fase cinco: os surtos revelam-se maiores, embora a transmissão entre
pessoas permaneça localizada; nesta fase o vírus começa a adaptar-se ao
hospedeiro humano, mas continua aquém de níveis de transmissão
eficazes, no que a Organização Mundial de Saúde classifica de
"substancial risco pandémico";
Fase seis: declaração do estado de pandemia; o risco de transmissão do vírus entre a população em geral é substancial.
A confirmação da passagem à fase seis da escala de alerta foi antecipada ao início da tarde pelo Ministério da Saúde da Suécia, numa altura em que a directora-geral da OMS, Margaret Chan, ainda comunicava as recomendações dos peritos às delegações dos 193 países-membros. A declaração de pandemia deverá agora levar as autoridades sanitárias internacionais a reforçar as medidas de excepção para responder à Gripe A.
Na base da decisão estiveram os últimos dados sobre a propagação do vírus da Gripe A na Ásia, com o Japão e Hong-Kong à cabeça, e em território australiano, a sinalizar que o H1N1 ganhou terreno para lá da América do Norte. Keiji Fukuda, o número dois da Organização, havia anunciado, terça-feira, a confirmação de "uma transmissão local" no Estado de Vitória, no sudeste da Austrália.
"Analisámos 5.500 pessoas nas últimas duas semanas, mais do que aquelas que examinamos durante uma época de gripe", reconheceu esta semana o governador do Estado de Vitória, John Brumby.
Com 1.263 casos confirmados, a Austrália é o quinto país mais afectado pela disseminação do vírus. Mas a avaliação do comité de emergência da OMS recaiu também sobre a situação no Chile, onde, no espaço de 48 horas, o número de pessoas infectadas mais do que triplicou para 1.694. Na Europa, um dos surtos mais significativos - 30 casos - foi detectado numa escola da cidade alemã de Düsseldorf.
"Pandémico significa global"
Em declarações à Reuters, o porta-voz da OMS Gregory Artl explicou que a fase seis "não significa nada em termos de severidade": "Pandémico significa global, mas não tem qualquer conotação de severidade ou fraqueza".
Em sentido análogo, o número dois da OMS sublinha que "passar à fase seis significa que a propagação continua, mas não significa que a gravidade da doença tenha aumentado". Os índices de mortalidade da Gripe A H1N1 não atingiram, até ao momento, os níveis comuns às gripes sazonais, que, a cada ano, matam meio milhão de pessoas e infectam milhões. A gripe aviária, por exemplo, apresenta uma mortalidade de 60 por cento.
Ainda assim, a Organização Mundial de Saúde teme que o vírus possa recombinar-se com uma estirpe mais agressiva, o que poderia potenciar o número de casos mortais. Por enquanto, a estrutura aconselha os laboratórios a manterem o calendário de produção de vacinas da influenza sazonal para o próximo Inverno no Hemisfério Norte. A produção, estima a OMS, deverá estar em marcha dentro de duas semanas. Só então deve ser acelerado o desenvolvimento de uma vacina contra a Gripe A H1N1.
Propagação imparável
A declaração de pandemia acarreta um conjunto de recomendações para todos os países-membros da OMS. O objectivo é "reduzir o impacto" de uma propagação que já não pode ser contida, como admitiu a directora-geral da Organização.
Ao abrigo da fase seis, os Estados são livres de aplicar as medidas de excepção de acordo com a sua própria avaliação. No limite, podem declarar o "estado de emergência". Por ora estão descartadas quaisquer restrições a movimentos de pessoas, bens e serviços.
Todos os países ficam obrigados a informar a OMS sobre a evolução geográfica da pandemia, assim como alertar para eventuais mutações ou sinais de resistência aos fármacos recomendados para o tratamento do vírus: o Tamiflu, produzido pela Roche, e o Relenza, desenvolvido pela GlaxoSmithKline.
As medidas de isolamento preconizadas pela OMS passam pelo eventual encerramento de escolas e por uma reorganização dos horários de trabalho, de forma a evitar grandes concentrações de pessoas.
Directora-geral da OMS alerta contra "complacência"
"Este é um dia muito importante e de desafio para todos nós. É importante porque estamos a elevar o nosso alerta pandémico para o nível seis. Neste momento, a avaliação global aponta para uma pandemia moderada", assinalou em Genebra a directora-geral da Organização Mundial de Saúde.
"Passar à fase seis de pandemia não implica que vamos assistir a um aumento do número de mortes ou de casos muitos severos. Muito pelo contrário. Muitas pessoas estão a ter uma doença benigna, em alguns casos recuperam sem medicamentos e isso é uma boa notícia", afirmou Margaret Chan.
"Mas a tendência para cair na complacência é a nossa maior preocupação, pois precisamos de continuar a acompanhar este vírus, a seguir as suas pistas e não permitir que ele regresse numa segunda vaga para nos dar mais problemas", alertou.