Pepinos contaminados dividem Europa

por RTP
Pepino caído no chão do mercado de Hamburgo: segundo a teoria espanhola, uma epidemia pode começar assim Bodo Marks, Epa

Ninguém quer estar na origem do surto de uma doença que já infectou 276 pessoas e causou quatro mortes. O síndrome urémico-hemolítico (HUS), que causa diarreias e hemorragias, provém de uma bactéria que se aloja em legumes. Desta vez, foram identificados quatro pepinos como portadores da E. coli enterohemorragica (ECEH). Três vieram de Espanha, mas as autoridades espanholas dizem que apanharam a bactéria depois.

A maior parte dos pacientes afectados pela bactéria são alemães, das cidades de Hamburgo, Cuxhaven e Lüneburg: 214 no total de 276. foram detectados casos, em menor número, na Suécia, na Dinamarca no Reino Unido e na Holanda.

Os testes realizados pelo Instituto Robert Koch, em Hamburgo, identificaram como origens da bactéria quatro pepinos, três deles de importação espanhola, das regiões de Málaga e Almeria, e um de origem ainda desconhecida - possivelmente também espanhola, mas eventualmente holandesa, segundo admitiram os serviços de saúde de Hamburgo.

A bactéria começou por ser identificada, na noite de quarta feira, por investigadores da Clínica da Universidade de Münster, onde foram tratados alguns do pacientes. É resistente a vários tipos de antibióticos e também à penicilina.

Posto em xeque o sector agro-alimentar e exportador da economia espanhola, logo o Ministério da Saúde em Madrid veio em sua defesa, dando crídto à chamada "teoria da queda dos caixotes". Esta fora defendida pela empresa Pepino Bio Furnet, de Málaga, cuja porta-voz citou um e-mail alegadamente recebido de um dos importadores de Hamburgo, relatando a queda acidental de uma palette com 180 caixotes cheios de pepinos. Estes ter-se-iam espalhado pelo chão e, nesse momento, provavelmente, contaminado com a bactéria ECEH.

A esta teoria reagiu o microbiólogo Masyar Monazahian, do Serviço Provincial de Saúde da Baixa Saxónia, também citado em Der Spiegel: "Estes agentes [a bactéria] são transmitidos principalmente por fezes de animais de trabalho. E isso é coisa que habitualmente não se encontra nos mercados abastecedores alemães".

Também o presidente da Associação Federal de Controladores de Produtos Alimentares, Martin Müller, considera que essa "é, por certo, uma possiblidade, mas muito pequena". E acrescentou: "Uma coisa assim pode acontecer, mas teria de tombar no chão um camião inteiro ou mais. Com a frequência [de diagnósticos] que agora temos, isso parece-me muito improvável. Um caso ou dois, está bem. Mas quantos pepinos teriam de cair, para que isso se passasse?"

Menos por dedução do que pelos testes levados a cabo, a vereadora social-democrata do pelouro da Saúde em Hamburgo, Cornelia Prüfer-Storcks, afirmou que "podemos excluir com base em diversos testes a eventualidade de que os pepinos contaminados provenham todos de uma única palette que tivessse tombado".

Uma outra teoria, que apontava para a possível contaminação dos pepinos pelo contacto com roupas e sapatos, foi igualmente comentada com cepticismo por Monazahian: "É certo que não é de excluir inteiramente que os agentes possam ter chegado dessa forma aos legumes, mas é muito, muito improvável. Essa forma de transmissão existe, no melhor dos casos, em teoria".

A directora da clínica da Universidade de Münster, Helge Karch, citada no site de Der Spiegel, anunciou o desenvolvimento de um teste que permite determinar rapidamente o agente da infecção, e que deve estar disponível nos próximos dias


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