AGUAVIVA por João Carlos Callixto

29 Jun 1975 - "El Niño Ha Muerto"

Hoje o “Gramofone” viaja um pouco mais para leste e foca-se em terras de Espanha. São os Aguaviva que nos visitam e o ano é 1975.

O grupo tinha sido formado seis anos antes, em Madrid, por José Antonio Muñoz e pelo cantautor Manolo Díaz. Com uma carreira a solo desde 1967, este último era já conhecido do público por canções como “Postguerra” ou “La Juventud Tiene Razón”, publicada nesse mesmo ano de 1969.

O propósito assumido desde logo por esta dupla foi a de dar voz aos grandes poetas espanhóis. A estreia dos Aguaviva chega então em formato single, com “Poetas Andaluces”, a partir de um texto de Rafael Alberti, e esta canção torna-se no verdadeiro ex-libris do grupo. É incluída no primeiro álbum, “Cada Vez Más Cerca”, publicado no início de 1970, e conhece uma edição internacional, com a parte declamada a cargo do actor Raul Julia, então em início de carreira.



Federico García Lorca, León Felipe, Gabriel Celaya ou até estrangeiros, como o alemão Bertolt Brecht ou o turco Nâzım Hikmet, fazem parte do lote de autores musicados pelos membros do grupo. “El Niño Ha Muerto”, a canção de hoje, integra o segundo álbum dos Aguaviva - “Apocalipsis”, de 1971 - e foi gravado já com uma formação diferente inicial. A rotatividade dos membros do grupo foi aliás sempre uma das suas constantes, tendo por ele passado dezenas de músicos.

Dois deles foram os pais da radialista e apresentadora Ana Galvão: Luisa López e Johnny Galvão. Este último teve aliás um percurso de grande relevo na cena musical espanhola, como instrumentista e produtor. Com ambos, nesse ano de 1971, os Aguaviva gravam um programa especial para a RTP, mas a recordação de hoje vem de um outro momento, captado ao vivo em Alcobaça em pleno Verão Quente.

Neste ano de 1975, era publicado o quinto álbum do grupo, que retomava o poema de Alberti e o chamava para título: “Poetas Andaluces de Ahora”. Misturando alguns dos elementos mais experimentais da obra do grupo com a fórmula consagrada no início da carreira, este disco tinha mais uma vez a mão sábia de Pepe Nieto, ex-membro do grupo Los Pekenikes, e que tinha já trabalhado também com os portugueses Duarte Mendes, Luís Duarte ou Paulo de Carvalho.

Mostrando que a poesia de origem popular reflecte a verdadeira sabedoria comum das nações, o texto da canção de hoje é um lamento africano, da tribo azande, musicado por Manolo Díaz. Pretexto para um recuo com mais de 40 anos – ou com muito mais séculos de história...