ANTÓNIO CALVÁRIO E SIMONE DE OLIVEIRA, por João Carlos Callixto

"Ninguém Foge ao Seu Destino" - 6 Mar 1962

Em todas as épocas, foi sempre prática comum juntar duas vozes populares para que determinada canção brilhasse ainda mais. No teatro de revista, esses momentos aconteciam amiúde, com a parte cénica e a parte musical a valorizarem-se mutuamente. É esse universo que revisitamos no “Gramofone” de hoje, com uma canção originalmente incluída na revista "Zé do Telhado" (1944), onde era interpretada pelos populares Laura Alves e Estêvão Amarante, e que aqui surge nas vozes de duas das “estrelas” maiores da década de 1960.

Com letra de Lourenço Rodrigues e música do maestro Jaime Mendes, “Ninguém Foge ao Seu Destino” surge aqui no popular programa "Melodias de Sempre", apresentado pelo carismático Jorge Alves e que recuperava precisamente canções do passado. O êxito na RTP foi tão grande que a editora Valentim de Carvalho, primeiro, e a Rádio Triunfo, logo depois, criaram as suas próprias séries de discos com o mesmo nome do programa, onde se juntavam algumas das vozes que se viam no pequeno ecrã e ainda outras. Em disco, curiosamente, não seriam Simone e Calvário mas Maria de Lourdes Resende e Artur Garcia a gravar esta canção – num LP de 1972 publicado pelo selo espanhol Marfer e com o título… “Melodias de Sempre”, pois claro.

Dos dois nomes de hoje, Simone de Oliveira tinha sido a primeira a começar a sua carreira, gravando o primeiro disco em 1958 para a etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo. Chegada a 1962, tinha em carteira um total de oito discos em nome próprio, passando nesta altura por um período de dois anos sem discos novos – até que em 1964 regressa já na Valentim de Carvalho, vencendo no ano seguinte o Festival RTP da Canção com “Sol de Invermo”.

António Calvário, que não passara pelo Centro de Preparação de Artistas da Rádio (ao contrário de quase toda as vozes da época), e que tivera a sua preparação vocal a cargo da prima e cantora Corina Freire, estreara-se em disco em 1960, no selo Polydor. Logo depois, assina com a Valentim de Carvalho, onde apresenta um reportório que, à imagem do de Simone, tanto se aproximava dos modelos internacionais da canção ligeira como de alguma modernidade já marcada pelas linguagens pop. Em 1964, Calvário seria o primeiro vencedor do Festival RTP da Canção, com “Oração”, tendo editado até 1962 nove discos em nome próprio (três dos quais em parceria com Maria de Lourdes Resende e Maria de Fátima Bravo). Em 1965. Calvário e Simone gravariam também um EP conjunto, com “Canções de My Fair Lady”, dirigidos por Jorge Costa Pinto.