COCKTAIL por João Carlos Callixto

1978 - "Aquele Fim de Verão"

Quando pensamos em grupos constituídos apenas por cantoras, é logo para as Doce que direccionamos as nossas memórias. No entanto, o Portugal pop da década de 1970 teve duas outras formações que se destacaram nesse campo das “girlbands”. Ainda antes de 1974, o duo Elas, com Paula e Isabel Amora, teve uma curta mas significativa carreira, chegando a participar no Festival da Canção da Guarda, de 1971. As Cocktail formam-se ainda em 1974, mas o seu primeiro disco chega apenas em 1977, com “O Que Passou, Passou” e “Ontem e Hoje”. Contavam então com Maria Viana, Paula Delgado e Rita Ribeiro, das quais apenas a primeira não tinha ainda gravado. A produção e as autorias desse single de estreia estavam a cargo de Tozé Brito e de Mike Sergeant, cabendo os arranjos musicais a este músico escocês radicado entre nós há quase uma década.

O nosso ano de hoje, 1978, seria também o que conheceu mais edições discográficas das Cocktail. “S. O. S. Igual a Sós” seria o seu primeiro single nesse ano, e se Tozé Brito e Mike Sergeant assinavam essa canção do lado A, o lado B trazia “Cinema Mudo”, de Fernando Guerra. Paula Delgado saíria do grupo logo depois, sendo substituída por Fernanda de Sousa. Esta tinha já um curto percurso em nome próprio e viria uma década mais tarde a reorientar a sua carreira, começando pela mudança de nome artístico – hoje, todos a conhecemos como Ágata. Seria portanto com ela já que é gravado o terceiro single das Cocktail, com a descontraída canção que este “Gramofone” recorda: “Aquele Fim de Verão”. Com letra e música de Tozé Brito, o lado B trazia “Recado do Paulo”, da autoria de Paulo de Carvalho.

Até ao final de 1978, as Cocktail editaram ainda novo single – “Porta Fechada / À Tua Espera”, desta vez com Pedro Brito, irmão de Tozé, também na escrita – e veriam a edição do primeiro álbum. “Aquele Fim de Verão”, que recuperava assim o título da canção de sucesso que este videoclip imortalizou, juntava algum material dos singles a três inéditos: “Carta a um Amigo” (de Tozé Brito e Rui Reis, ex-teclista dos Petrus Castrus), “Ausência” (de Fernando Guerra) e “Todos por Um” (de novo de Tozé Brito e Mike Sergeant). No ano seguinte, o grupo chega ao Festival RTP da Canção com “Amanhã Virás”, que nesse ano de vitória de Manuela Bravo com “Sobe Sobe Balão Sobe” fica pelas semifinais.

Rita Ribeiro, que tinha já pertencido aos Green Windows, sai então das Cocktail e lança-se numa carreira a solo como cantora e, especialmente, como actriz. Para o seu lugar entra Camélia Conde, com quem gravam o single “Nem 8 Nem 80”, em 1980. Tanto essa canção como “A Bem ou Mal”, no lado B, eram versões de canções estrangeiras. No entanto, logo depois chegaria “Pouco a Pouco”, com “Quando Eu Canto” no outro lado, marcando o início da escrita de canções por parte de Maria Viana, em parceria aqui com Pedro Brito. “Voltar Atrás”, já em 1981, seria o penúltimo single do trio, que leva “Vem Esquecer o Passado” ao Festival RTP da Canção desse ano. A vitória, no entanto, sorriria, a “Playback”, de Carlos Paião, deixando as Cocktail no 8.º lugar.

Já com Conceição Camacho no lugar de Camélia Conde, o grupo veria em 1982 a edição de um novo álbum, desta vez idealizado de raiz pelo músico Manuel Cardoso, seu produtor. Assinando com o nome artístico Frodo, o ex-Tantra escreveria metade do material do LP, ora a solo ora em co-autoria com Pedro Luís (então nos Da Vinci e que seria aliás o autor do divertido “Honey Cannibal”). Para além de duas co-autorias de Maria Viana, o disco traz também ainda dois originais de Fernando Girão, acabando por se tornar no disco mais diversificado e simultaneamente menos conhecido do percurso das Cocktail. O grupo continuaria, embora com mudanças de formação, até 1985, tendo Fernanda de Sousa concorrido a solo ao Festival RTP

da Canção de 1982 com “Vai Mas Vem” e Maria Viana (filha do actor José Viana) a destacar-se na área da canção jazz.