EUGÉNIA MELO E CASTRO por João Carlos Callixto

17 Abr 1982 - "Terra de Mel"

As relações musicais entre o Brasil e Portugal tiveram uma “época dourada”, que durou grosso modo até ao início dos anos 70, com vários intérpretes do lado de cá do Atlântico a alcançarem sucesso do lado de lá. Alguns estabeleciam-se mesmo por lá, como Tony de Matos ou especialmente Francisco José, e outros andavam num vaivém regular – com Amália Rodrigues à cabeça, que gravou inclusivamente os seus primeiros discos no Brasil, em 1945. A partir da segunda metade da década de 70, no entanto, o trânsito passou a ser em sentido inverso, sendo episódicos os momentos em que um artista ou canção portuguesa alcança verdadeiro sucesso no Brasil. Com um percurso de 40 anos, a cantora em destaque neste “Gramofone” tem feito pontes constantes entre o Brasil e Portugal, numa carreira imparável e sempre criativa e inquieta.

Antes de se estrear em nome próprio nos discos precisamente com “Terra de Mel”, em 1982, Eugénia Melo e Castro tinha já um percurso de assinalar no nosso panorama musical. Em 1976, surge como uma das vozes no disco-crónica “Fernandinho Vai ó Vinho”, o primeiro a solo de Júlio Pereira, estando depois ao lado de José Barata Moura ou de Shila – neste caso, na estreia em disco da cantora canadiana então casada com Sérgio Godinho. E também no trabalho deste cantautor maior a encontramos, neste caso em 1978 e a fazer coros em canções do álbum “Pano-Cru”, como os clássicos “A Vida É Feito de Pequenos Nadas” ou “Balada da Rita”.

Chegados a 1982, encontramos Eugénia com um contrato com um contrato discográfico com a PolyGram e com carta aberta para explorar as suas cumplicidades com o Brasil. Yório Gonçalves e Kleiton Ramil são os parceiros privilegiados e co-autores do reportório com Eugénia. O primeiro tinha já um passado na nossa Música ao lado de José Afonso e o segundo fizera parte dos brasileiros Almôndegas e mantinha a dupla Kleiton e Kledir, com o seu irmão Kledir Ramil. “Terra de Mel” foi produzido por Eugénia Melo e Castro e por Wagner Tiso, uma parceria que continuaria no álbum seguinte, “Águas de Todo o Ano”, de 1983.

As imagens que aqui vemos são do programa comemorativo dos 25 anos da RTP, transmitido a partir do Casino Estoril, e com Eugénia a cantar ao vivo numa altura em que o playback começava a “virar moda” em TV – como aliás Carlos Paião satirizara com a sua canção vencedora do Festival de 1981. Eugénia Melo e Castro, por seu lado, foi dando sempre passos bem diversos no seu percurso, dedicando discos à obra de Vinicius de Moraes ou à dos seus pais, os poetas E.M. de Melo e Castro e Maria Alberta Menéres. Em 2007, gravou "POPortugal", em que canta canções pop nacionais editadas originalmente entre 1972 (“Se Quiseres Ouvir Cantar”, que Tozé Brito defendeu no Festival da Canção desse ano) e 2001 (“Sozinha pelas Ruas”, de Pilar com texto de Tiago Torres da Silva. Sem nunca parar com os seus projectos em nome próprio, actualmente Eugénia Melo e Castro integra ainda a banda luso-brasileira Sweet Psychedelics, com dois álbuns gravados.