GUILHERME KJÖLNER, por João Carlos Callixto

2 Fev 1964 - "Lindo Par"

A tradição de cantores líricos com carreira paralela na canção ligeira não é longa em Portugal. Nas gerações mais recentes, será sem dúvida Carlos Guilherme o nome mais acarinhado junto do grande público, mas no passado vozes como as de Domingos Marques, Tomé de Barros Queiroz, Luís Piçarra ou Guilherme Kjölner destacaram-se em ambos os campos. Este último, em foco neste “Gramofone”, foi porventura o artista de meados do século XX mais reconhecido junto dos públicos apreciadores de música popular e de música erudita.

Tendo-se estreado aos 22 anos num concerto na Academia de Amadores de Música, em 1933, Guilherme Kjölner participa no ano seguinte no filme “Gado Bravo”, de António Lopes Ribeiro. Em 1936, interpreta “Canção de Bordo” no filme "O Trevo de 4 Folhas", de Chianca de Garcia, e a canção acaba por constituir a sua estreia em disco. Num fonograma de 78 rotações editado pela etiqueta His Master’s Voice, junta-se a “No Carnaval”, na voz do popular actor Costinha, sendo ambas as composições da autoria da dupla Tomás Ribeiro Colaço (letra) e Frederico de Freitas (música).

Depois de abandonar a carreira no ramo bancário, Guilherme Kjölner integra o Quarteto Vocal Masculino da Emissora Nacional, dirigido pelo maestro Belo Marques. Com esta formação, actua em 1937 no Teatro dos Campos Elísios, no âmbito da Exposição Internacional de Paris. Continuando o seu percurso, Kjölner grava na viragem dos anos 40 para 50 dois outros discos de 78 rotações para a His Master’s Voice, com composições de Cruz e Sousa e de Filipe Duarte (neste caso, uma versão da “Serenata” da “velhinha” opereta “A Leiteira de Entre Arroios”, de 1920), e, em 1954, “Há Três Dias Que Te Não Vejo”, de Belo Marques, para a etiqueta Estoril. Já no final da nova década, em 1959, grava o seu único disco de vinil em nome próprio, para o selo Alvorada, da Rádio Triunfo. Com acompanhamento de Domingos Vilaça, nome relevante na divulgação do jazz entre nós, neste EP juntavam-se quatro novas canções de Cruz e Sousa, duas delas com letra de Mário Marques.

A década de 1960 inaugurava-se com a gravação por Guilherme Kjölner de “Canção do Pastor”, de Arlindo de Carvalho, com que Luís Piçarra vencera o 2.º Festival da Canção Portuguesa, no Porto. No ano seguinte, este evento ocorre pela primeira vez na Figueira da Foz, onde haveria de se fixar até à sua derradeira edição, e Kjölner participa com “Coimbra Não Esquece Inês”, de Aníbal Nazaré e Fernando de Carvalho. A canção é então editada pela Alvorada em dois singles, formato à época pouco popular entre nós.

As imagens deste “Gramofone” são do 1.º Festival RTP da Canção, então designado de Grande Prémio TV da Canção Portuguesa. Com esta canção da autoria de António Galvão Lucas, Kjölner classifica-se em 2.º lugar, perdendo para António Calvário e "Oração". Mas logo após o 3.º lugar de Simone de Oliveira, com “Olhos nos Olhos”, Kjölner surge de novo na classificação com “Manhã”, de Manuela Teles Santos e José Mesquita. Com efeito, nessa primeira edição do histórico evento todos os intérpretes davam voz a duas canções, juntando-se assim aos nomes já referidos ainda Artur Garcia, Gina Maria e Madalena Iglésias.

Apesar de a sua carreira profissional ter continuado até 1975, Guilherme Kjölner só por uma vez participa num disco na sua vertente de cantor lírico. Seria em 1971, no duplo-álbum “As Barcas”, reunindo a obra homónima do compositor holandês Louis de Meester, e onde Kjölner se junta a Álvaro Malta e Armando Guerreiro para a interpretação do “Canto dos Cavaleiros de Cristo” (da autoria de Fernando Lopes-Graça e também sob textos de Gil Vicente). Seis anos depois, encontramos pela última vez a sua voz em disco, desta vez no LP “Melodias de Sempre N.º 1”, um trabalho produzido pelo agente artístico António Fortuna e onde Kjölner interpreta “Olhos Verdes”, de Jerónimo Bragança e Joaquim Luiz Gomes - uma canção que tinha sido premiada em Itália na década de 1950.