JOSÉ PRACANA por João Carlos Callixto

29 Dez 1969 - Medley no “Zip-Zip”

José Pracana foi um dos maiores conhecedores da História do Fado, destacando-se como guitarrista e fadista a partir da década de 1960. Nascido na ilha de São Miguel, nos Açores, veio a dirigir a casa de fados Arreda, em Cascais, a partir de 1969. Seria precisamente nesse ano também que se estreia em disco como intérprete, o primeiro passo de um percurso de dimensão diametralmente oposta à do justo reconhecimento dos seus pares da comunidade fadista.

Na etiqueta Alvorada, da firma portuense Rádio Triunfo, sai então um EP com “Primavera Perdida”, “Porque Choraste por Mim”, “Pelas Ruas da Cidade” e “Saudades de Mil Lembranças”. Todas elas cantadas em fados tradicionais, traziam poemas de António Calém (as duas primeiras), de Linhares Barbosa e do também fadista João Ferreira-Rosa. A acompanhar Pracana, estavam dois nomes grandes: José Nunes e Castro Mota, ambos antigos acompanhadores de Amália Rodrigues.

Nesse mesmo ano de 1969, começara em Maio o programa da RTP “Zip-Zip”, apresentado por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado. José Pracana seria convidado a participar em duas das emissões: a 15 de Setembro, onde esteve também João Braga, e a 29 de Dezembro. São as imagens desta última data, a da derradeira emissão do programa, que aqui vemos, com Raul Nery ao seu lado. As imitações que Pracana fazia de cançonetistas e fadistas tornaram-no também bem conhecido e assim ei-lo a dar voz a Francisco José (com “Olhos Castanhos”), a António Mourão (com “Ó Tempo Volta p'ra Trás”), a Tony de Matos (com Quando Cai uma Mulher”) e a Vicente da Câmara (com “A Moda das Tranças Pretas”), todos sucessos das décadas de 50 e 60.

No início da nova década, José Pracana participa em dois EPs do fadista Orlando Duarte como acompanhador, uma das vertentes em que sempre se destacou. Em 1972, grava também o seu segundo disco como intérprete, “Lenda das Rosas”, desta vez para a Valentim de Carvalho. Com José Inácio e Segismundo de Bragança ao lado de José Nunes, nele encontramos ainda “Fado Campino”, “Se Ser Fadista É Pecado” e “A Rua Que Foi Nossa”. No mesmo ano, o fadista participa no álbum “Uma Noite de Fado em Cascais”, com “Saudades Fado”. Em 1973, é publicado o terceiro e último trabalho de José Pracana, “A Ceia dos Intelectuais”, o único a privilegiar a vertente das imitações, e com acompanhamento a cargo do Conjunto de Guitarras de Raul Nery.

Já como funcionário da TAP, José Pracana apenas voltaria a disco para participar em trabalhos de João Braga, de Nuno de Aguiar ou, mais recentemente, de António Vasco Moraes. Apresentou séries na RTP em que mostrava toda a sua paixão e conhecimento pela História do Fado, vertente que desenvolveu em livro na colecção “Um Século de Fado”, de que foi co-director. Em 2019, três anos depois da sua morte, o Museu do Fado dedicou-lhe uma exposição antológica, no local onde o próprio Pracana tinha dado a conhecer o género às novas gerações.